Viagens em aviões da Força Aérea servem para levá-los a compromissos com pouca relação com seus cargos; ministro e deputado dizem cumprir as normas
ré-candidatos ao Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), têm usado aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para viajar pelo País e participar de compromissos muitas vezes estranhos aos cargos que ocupam. Em comum, ambos patinam nas pesquisas de intenção de voto – aparecem com 1% na maioria dos cenários – e são desconhecidos por boa parte do eleitorado.
O uso de aviões da FAB é permitido para ministros do governo e para os presidentes da Câmara, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. As aeronaves podem ser solicitadas por motivos de segurança, emergência médica e viagens a serviço. A FAB afirma que não é sua atribuição “apurar se os motivos das solicitações de apoio são efetivamente cumpridos”.
Maia, que lançou na semana passada sua pré-candidatura, voou 63 vezes com aeronaves da FAB desde dezembro – 33 delas para o Rio, seu domicílio eleitoral. No dia 28 dezembro, quando já tentava viabilizar seu nome na corrida pelo Planalto, Maia foi a Salvador participar da inauguração de uma creche ao lado do prefeito ACM Neto, que assumiu a presidência do DEM.
Também durante o recesso parlamentar, no início de janeiro, o presidente da Câmara foi a Vitória para a assinatura de convênios e repasses ao Espírito Santo. Foi recebido como líder nacional. Em 6 de fevereiro, o pré-candidato esteve em São Paulo para uma conversa com o prefeito João Doria (PSDB). Um dos temas na pauta foi justamente o cenário eleitoral.
Agenda dividida. Meirelles também passou a dividir a agenda de ministro com a de pré-candidato em busca de popularidade. Desde dezembro, voou 42 vezes com a FAB. É da natureza do cargo de ministro da Fazenda participar de encontros com investidores e com representantes do mercado financeiro, mas, em oito ocasiões, a viagem saiu do eixo Rio-São Paulo, cidades que costumam concentrar esses eventos. Nesta segunda-feira, 12, ele participa de um seminário sobre agricultura em Cuiabá (MT).
Apesar de ainda não ter oficializado a sua entrada na disputa presidencial – o prazo final para se desincompatibilizar do cargo é 7 de abril –, o ministro expandiu suas rotas e passou a realizar palestras nas principais capitais do Norte e do Nordeste sob a justificativa de “levar a mensagem da economia” para todas as regiões, como ele próprio costuma dizer.
A tentativa de aproximação com o eleitorado evangélico também é evidente. Em Belém (PA), Natal (RN) e Fortaleza (CE), o ministro participou de cultos da Assembleia de Deus.
Mesmo viagens para São Paulo adquiriram tons menos ministeriais. No dia 3 deste mês, por exemplo, Meirelles foi à capital paulista para participar da formatura de uma turma de engenharia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Outra estratégia que tem sido adotada pelo ministro da Fazenda é dar entrevistas a rádios do interior. Desde dezembro, foram 24 entrevistas a emissoras de 11 Estados.
Valores. A FAB não divulga o valor dos gastos com voos oficiais. Alega que “o custo da hora de voo das aeronaves militares é informação estratégica e, por isso, protegida”. Um voo entre Brasília e Fortaleza, em jato médio similar à aeronave utilizada pelas autoridades, custa cerca de R$ 84 mil, conforme cotação numa empresa de táxi aéreo. Viagens da capital federal para Maceió e Belém saem por R$ 75 mil e R$ 80 mil, respectivamente.
FONTE: ESTADÃO CONTEÚDO
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