Auditoria da Deloitte não detectou fraudes em balanços do banco, feitas entre 2006 e 2010
A Polícia Federal está investigando a Deloitte, uma das maiores empresas de auditoria no mundo, por suspeita de irregularidades na análise da contabilidade do antigo banco Panamericano, atual Banco PAN, que fraudou balanços entre 2006 e 2010, causando prejuízos a investidores e sócios minoritários.
O Panamericano vendia carteiras de créditos para outras instituições financeiras, mas continuava contabilizando como seus os ativos já vendidos. Havia também negócios que eram registrados acima do valor real e casos em que um mesmo crédito era negociado mais de uma vez.
A auditoria da Deloitte não detectou essas práticas que maquiavam a contabilidade do banco e criavam um resultado positivo irreal.
No início da investigação contra os executivos do Panamericano, em 2011, os auditores da Deloitte também foram incluídos no rol de suspeitos, mas o inquérito contra eles foi arquivado por falta de provas dois anos depois.
Em outubro de 2016, porém, o procurador Rodrigo de Grandis determinou a reabertura do caso em relação aos auditores com base no depoimento do ex-diretor do Panamericano Eduardo de Ávila Pinto Coelho, que apontou irregularidades na contratação da Deloitte e disse que os auditores teriam agido para afastar a responsabilidade da auditoria em relação às fraudes descobertas.
A apuração começou, na prática, no ano seguinte e é mantida em segredo de Justiça. A Polícia Federal não quis comentar o assunto e não aponta um prazo para a apresentação do relatório final.
Além da investigação criminal, a Deloitte já sofreu punição do Banco Central. A empresa de auditoria foi multada em R$ 400 mil por ignorar os problemas na contabilidade do banco Panamericano.
Em recurso ao Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, a Delloite argumentava que as fraudes não seriam detectáveis, por isso seu aval como auditora independente do balanço de 2010. O argumento foi rejeitado pelo Conselho.
Já a investigação contra os ex-diretores do Panamericano resultou na condenação, em fevereiro último, de sete deles pelo juiz João Batista Gonçalves, da 6ª Vara Criminal Federal em São Paulo, por crimes financeiros.
A fraude na contabilidade do Panamericano, segundo a Justiça, induzia a erro sócios minoritários, investidores, o Banco Central e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e levou a um rombo que passou dos R$ 2,5 bilhões em valores atualizados.
À época das irregularidades o banco era controlado por Sílvio Santos. A instituição foi vendida para o BTG Pactual em 2011. A maquiagem no balanço fez com que a avaliação do mercado sobre as ações fosse positiva e a captação foi considerada um sucesso.
Em 2009, a Caixa Econômica Federal anunciou ter adquirido 35% do capital social do Panamericano (49% do capital votante e 20% do não votante) com planos de expandir o crédito imobiliário para o segmento de baixa renda.
O Banco Central, em 2010, comparou os créditos comprados e vendidos pelo Panamericano com os dos outros bancos brasileiros. Descobriu um rombo gigantesco.
Sílvio Santos pediu um empréstimo de R$ 2,5 bilhões ao Fundo Garantidor de Créditos, fundo privado gerenciado pelos bancos, para evitar a liquidação do banco. A diretoria foi toda substituída. O Fundo concedeu o empréstimo ao Panamericano. Em 2011, Sílvio Santos vendeu o Panamericano para o BTG Pactual por R$ 450 milhões.
A Deloitte diz, em nota, “que já colaborou com a investigação anterior liderada pelo Ministério Público com respeito à sua atuação no passado como auditores independentes do banco Panamericano e está à disposição para prestar esclarecimentos que os órgãos competentes eventualmente considerarem necessários”.
A Polícia Federal, também em nota, diz que “as investigações continuam em andamento e não há previsão para relatório”.
O advogado Renato Stanziola Vieira, que defende o ex-diretor do Panamericano Eduardo de Ávila Pinto Coelho, diz que seu cliente foi absolvido e continuará colaborando com informações no inquérito.
FONTE: FOLHA.COM
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