Apesar das baixas registradas pelos grãos no início desta semana na Bolsa de Chicago, liderados pela soja, não refletem as condições dos últimos dias no Corn Belt. Afinal, as previsões de tempo seco – apesar de temperaturas mais amenas – se confirmaram para o final de semana e as lavouras continuam sofrendo nos campos americanos.
De acordo com o Commodity Weather Group (CWG), nas últimas 72 horas, as áreas produtoras de soja e milho no Meio-Oeste americano receberam entre 6,35 e 31,75 mm de chuvas, com uma cobertura de apenas 10%, aproximadamente, da região. Nas Planícies, o intervalo ficou entre os mesmos 6,35 e 82,55 mm de precipitações.
“No final de semana, as chuvas ficaram mais concentradas, apesar de ainda limitadas, no oeste das Planícies e sul e leste da região do Delta, enquanto na maior parte do Meio-Oeste ainda predominou o tempo seco”, informou o boletim diário do CWG. “De quarta a sexta-feira, as chuvas se movem mais para o norte, com um padrão mais úmido esperado para a Dakota do Norte e o Nebraska, enquanto o centro de Iowa permanece seco”, continua o reporte.
Nos próximos 6 a 10 dias, porém, algumas chuvas ainda espalhadas poderiam amenizar o estresse ao qual as lavouras têm sido submetidas, principalmente no Oeste da Iowa, além de bons volumes sendo esperados também, ainda segundo informações do Commodity Weather Group, para o Kansas, Missouri e o norte do Delta.
As especulações agora, portanto, se intensificam sobre as chuvas que poderiam vir a ser registradas em meados de agosto. Novos mapas climáticos já mostram volumes mais consideráveis no período dos próximos 11 a 15 dias.
“Até lá, os modelos divergem quanto às chuvas. O modelo europeu trabalha com tempo predominantemente seco e as chances de chuva para o Corn Belt devem chegar a 45 mm acumulados nas Dakotas, Nebraska, oeste de Iowa, Minnesota, Wisconsin, Michigan, Ohio e centro-leste de Indiana”, explica o diretor da Labhoro Corretora, Ginaldo Sousa.
Ao mesmo tempo, o NOAA – o serviço oficial de clima do governo norte-americano, para os próximos 7 dias prevê chuvas melhores, com acumulados entre 20 e 50 mm para Nebraska, Dakotas, Minnesota, Wisconsin, Michigan, Ohio, Indiana e norte de Iowa, ainda segundo informações apuradas pela Labhoro. Os maiores acumulados estão previstos para o leste da Dakota do Sul e para o centro-sul de Minnesota.
Nas previsões mais alongadas, o boletim do CWG mostra que, nos próximos 16 a 30 dias, o noroeste do Meio-Oeste americano pode ver suas lavouras sofrendo – no período de enchimento de grãos – em função da seca. Já no sul e leste da região, a tendência é de que algumas chuvas ajudem o desenvolvimento da soja – e até do milho – mais tardio.
Impacto sobre os preços
O foco dos traders neste momento, ao lado do cenário climático e do desenvolvimento das lavouras, nos números de produtividade para a soja e o milho nos Estados Unidos. No próximo dia 10, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) traz seu novo reporte mensal de oferta e demanda e as expectativas são de que possa haver uma correção para baixo nas estimativas de rendimento do órgão.
Caso isso se confirme, os preços tendem a buscar novos e melhores patamares na Bolsa de Chicago, de acordo com análises de profissionais nacionais e internacionais. O último número do departamento é de 48 bushels por acre para a soja e 170,7 para o milho, números que dificilmente serão alcançados em função das adversidades climáticas.
Para o analista de mercado Matheus Pereira, da AgResource Brasil, de Chicago, nos EUA, no caso da oleaginosa, o número estimado está em 46,6. “Se o USDA de agosto confirmar esse número, as cotações podem trabalhar acima dos US$ 10,50. Se a produtividade vier em 45 bushels por acre ou abaixo disso, as cotações podem buscar os US$ 11,00”, diz.
Já Naomi Blohm, consultora senior da Stewart-Peterson, em entrevista ao portal internacional AgWeb, acredita que com 45 bushels por acre, os preços têm espaço para encontrar algo entre US$ 11,00 e US$ 11,50/bushel.
“Qualquer percepção de que isso vai acontecer (de a produtividade não alcançar as linhas médias), pode levar o mercado a um rally, e os US$ 10,50 têm sido uma resistência importante nos gráficos. Passando isso, há um potencial importante para os US$ 11,50”, diz.
Naomi lembra ainda que 45 bushels por acre não é um número ruim, porém, sendo esse o rendimento americano, os estoques cairiam de forma significativamente no país – ficando em menos de 200 milhões de bushels (5,44 milhões de toneladas) – estimulando o rally das cotações. O último número do USDA para os estoques finais da safra 2017/18 dos EUA, do boletim mensal de julho, foi de 12,52 milhões de toneladas.
Nesse quadro, a orientação da analista é de que os produtores (lembrando que, neste momento, ela fala para com os profissionais americanos) façam algumas vendas para aproveitar os preços caso eles alcancem estes patamares. “O importante é absorver as vantagens desses rallies”, completa.
Do mesmo modo, caso essa redução não seja reportada pelo USDA, o movimento contrário pode acontecer, ainda segundo o analista da AgResource.
“Se o USDA mantiver as atuais estimativas de 48 bushels por acre na soja, e tais chuvas se confirmarem no cinturão em meados de agosto, podemos ver o lado ruim deste cenário, com preços em Chicago em US$ 9,85 e US$ 9,95”, explica.
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