Analistas ouvidos pelo Correio têm dúvidas se influenciador fatura, em votos, com a agressão que sofreu, sobretudo ao compará-la aos atentados que Bolsonaro e Trump sofreram
Pouco depois de Pablo Marçal ser levado ao hospital Sírio-Libanês para receber atendimento médico em função da cadeirada que levara de José Luiz Datena, no debate da TV Cultura entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, na rede social do postulante do PRTB subia um “card” que comparava a agressão do candidato do PSDB com a facada tomada por Jair Bolsonaro na campanha presidencial de 2018, em Juiz de Fora (MG), e com o atentado contra o candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos Donald Trump, vítima de um tiro de raspão, em julho. A montagem com imagens vinha acompanhada de legenda com uma pergunta: “Por que todo esse ódio?”
A comparação, porém, pode não trazer o efeito desejado por Marçal, que quis colocar no mesmo patamar a agressão de Datena contra ele aos atentados sofridos por Bolsonaro e Trump. Isso porque, à parte o exagero da comparação, o candidato do PRTB fala para seus próprios apoiadores. Para o professor Fernando Schuler, do Insper de São Paulo, posts como este têm pouco potencial de trazer votos para Marçal.
“A facada do Bolsonaro e o tiro do Trump foram casos graves de risco de vida — a cadeirada, não. Tem até um lado pastelão nisso. Sou muito cético de que esse episódio faça com que ele tenha um grande resultado”, comentou.
Para Schuler, “o fato de Marçal ter conquistado um público digital que, apesar de barulhento, é uma minoria, ainda é a minoria digital. A minoria ativa pesa no jogo, e o político acaba falando mais para ela. Todo o gesto dele é feito pensando em produzir imagem para engajar em rede social”. O professor lembra que o meio digital recruta o ativista radical, de esquerda ou de direita. Ele salienta, porém, que a maioria da sociedade é pouco engajada e “silenciosa”.
Na pesquisa Datafolha divulgada na semana passada, Marçal caiu para a terceira posição na intenção de voto e apresentou rejeição de 44% pelo eleitorado. “Ele é um produto de laboratório e, em dois meses, tornou-se um fenômeno político. Só que também gera muita rejeição”, avalia.
Já para Marcelo Alcântara, gerente de análise político-econômica na Prospectiva Consultoria, a cadeirada terá o efeito de diminuir a rejeição de Marçal, mas não a ponto de impactar favoravelmente os resultados que vêm sendo detectados pelas sondagens junto aos eleitores. “As pesquisas das últimas quatro semanas apontaram resultados muito diferentes, o que demonstra um cenário de muita incerteza”, aponta.
Marcelo não vê como Datena ganhe com o episódio. “É um candidato que jogou a toalha, mostrou que não quer ganhar as eleições. E isso se intensificou com a agressão a Marçal, demonstrando enorme falta de equilíbrio emocional”, lamenta.
Fato político
Para Eduardo Grin, especialista em Administração Pública e Governo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marçal parece ter buscado criar um episódio que chamasse a atenção da mídia. “A intenção era gerar um fato político que o colocasse como vítima, especialmente porque estava perdendo espaço nas pesquisas”, lembra.
Flavia Biroli, professora de Ciência Política na Universidade de Brasília (UnB), acredita que Marçal sempre ganha com a visibilidade, mesmo que o público a perceba como negativa. “Ele aposta nas redes, procura se fazer ver independentemente da capacidade política e das propostas que tem”, explica.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE COM
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