Mais de 1 milhão e meio de hectares de terra foram o motivo de 77 conflitos agrários registrados em Rondônia em 2018, resultando em seis mortes, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Entre os estados da Amazônia Legal, o Pará lidera em número de mortes, seguido por Rondônia.
Na última quinta-feira (25), durante audiência pública na Assembleia Legislativa de Rondônia foi lançado o Caderno de Conflitos no Campo Brasil 2018, pela Comissão Pastoral da Terra (CPT Rondônia), com a presença de representantes de Roraima, Porto Velho, Acre, além de defensores públicos, do superintendente regional do Incra, Erasmo Tenório, professores, Movimento dos Atingidos por Barragens, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) de Rondônia, entre outros.
Conforme os dados apresentados, 86% dos assassinatos no campo ocorridos em 2018, foram registrados na Amazônia Legal, sendo 16 no Pará e seis em Rondônia (com mais quatro em análise), somando 24 na região. No resto do Brasil, foram registradas quatro mortes.
Dos 38,5 milhões de hectares de terra estão em disputa na Amazônia Legal, representando quase 5% de todo o território nacional e 97,7% da terra em disputa.
Rondônia ainda figura com 155 famílias expulsas de suas terras; 369 foram despejadas; 1.608 ameaçadas de despejo; 746 sofreram tentativa ou ameaça de expulsão; além de 607 ações de pistolagem. Foram ainda contabilizados 11 conflitos pela água com 6.743 famílias envolvidas.
Está é a 34ª edição do relatório que reúne dados sobre os conflitos e violências sofridas pelos trabalhadores e trabalhadoras do campo brasileiro em 2018, neles inclusos indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais.
Detentora de cerca de 61% do território brasileiro, a Amazônia Legal compreende nove estados: Acre, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão.
Nos quatro primeiros meses deste ano, segundo dados da CPT, a violência no campo já fez 10 vítimas, sendo dois casos de massacres no município de Baião, no Pará, com 6 mortes. Dois outros assassinatos ocorreram no Amazonas, um na Bahia e um no Mato Grosso, colocando a Amazônia na dianteira dos conflitos agrários.
Depoimentos
A representante da comunidade Quilombola de Santa Fé, Terezinha Gomes de Almeida, disse que “depois de 13 anos de luta, conseguimos a titularização da terra. Mas, depois disso fomos sendo esquecidos. E queremos direito à educação e saúde. Nossas crianças saem 11h de casa para a escola e retornam às 21h. A gente quer ser respeitada”.
A produtora rural Ivanete Rivero, de Caracaraí (RR), disse que os moradores enfrentam ameaças de latifundiários, desde 2001, na localidade às margens do rio Branco. “A gente pede que as autoridades nos escutem e que façam a reforma de nossa área”.
O acampado de Palontina, no Acre, Paulo Sérgio, relatou que tem sido ameaçado, preso por suposto crime ambiental, e que fazendeiros usam de influência para promover o terror. “Essa região do Sul do Amazonas, que abrange a divisa com o Acre e Rondônia, precisa ser olhada com atenção pelas autoridades. Fazendeiro usa áreas devolutas e não tem limites. Olhem por nós”, pediu.
A representante do Movimento das Mulheres Camponesas (MMC), Lindinalva Silva, contou que “os fazendeiros vêm tomando o nosso espaço, nosso chão para plantar. Precisamos da floresta e dos rios para sobreviver e passamos necessidades. Pedimos socorro”.
O acampado Marcos Carvalho, do acampamento Dois Amigos, no distrito de União Bandeirantes, em Porto Velho, disse que a ocupação começou em 2014 e as famílias começaram a produzir. “Em 2017, começaram as ameaças e intimidações contra os acampados. Buscamos o apoio do deputado Lazinho e informamos às autoridades sobre a tensão na localidade”.
Segundo ele, “sem a punição aos mandantes e aos executores de assassinatos no campo, a violência vai continuar, infelizmente. Foram dois acampados mortos e um policial militar, durante confronto, no ano passado. Isso não pode ficar impune”.
FONTE: RONDONIAGORA.COM
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