Tardio, meia foi reprovado nos Santos e rodou por sete clubes
SANTOS – Lucas Lima foi um dos últimos a subir no ônibus da seleção de Dunga, que se apresentou nesta segunda-feira, em Santiago, onde disputará o primeiro jogo das Eliminatórias da Copa de 2018, nesta quinta, contra o Chile. E, mal entrou no coletivo, já está de olho na janela. De transferência para a Europa.
O meia, de 25 anos, que explodiu tardiamente em 2014 no Santos, não esconde o sonho de jogar em algum clube europeu no próximo ano. Propostas não faltaram no início desta temporada. Mas ele escolheu esperar para apostar numa convocação.
– Ainda está meio longe a janela. Mas logo logo se abre. Permaneci no Santos justamente para tentar conseguir a seleção. Foi um risco porque recebi boas propostas, financeiramente. Foi uma aposta minha, do meu pai e da família. Sentamos e decidimos permanecer. Hoje vejo que fiz a escolha certa – avalia Lucas. – Fazer parte da seleção é um sonho de criança. Agora é hora de mostrar que mereço ficar lá.
Das festas de aniversário temáticas de Copa do Mundo e peladas descalço nas ruas de Marília-SP às aulas matadas para jogar futebol, Lucas amadureceu ao passar por times pequenos, ser dispensado por alguns deles e até reprovado num teste para o Santos.
Antes de entrar na Vila Belmiro pela porta da frente, o adolescente franzino começou na Chapecoense, aos 16 anos, e passou por Rio Preto, José Bonifácio, América e Inter de Limeira, equipes do interior paulista. Foi nesta última que despertou o interesse de outro Internacional, o de Porto Alegre. E, coincidentemente, foi Dorival Junior que o promoveu do time B para o profissional.
Em 2013, já com a equipe gaúcha sob o comando de Dunga, Lucas foi transferido para o Sport. Não seria naquele momento ainda que o atual técnico da seleção reconheceria o valor do craque. Mas a ida para o clube de Recife mudou seu destino: ele foi eleito o melhor jogador da série B e ajudou o rubro-negro a voltar à elite do futebol. Foi preciso que um grupo de empresários, que hoje detêm 80% de seus direitos econômicos, chamasse atenção do Santos para ele.
– Acho que demorei a explodir pela minha base não ser em clube grande. Tive um caminho mais longo até chegar ao Santos. Mas tudo tem seu tempo. É o melhor momento da minha carreira e da minha vida – comemora o atleta, atual campeão paulista e eleito o melhor meia da competição.
Com um aumento salarial de 30% após as primeiras convocações, Lucas ganha hoje cerca de R$ 220 mil, não ostenta, mas já consegue dar melhores condições de vida a seus pais.
O ex-metalúrgico Roberto e a ex-enfermeira Suely hoje não trabalham mais e moram com o filho em Santos. O agradecimento também fica visível na coroa tatuada em seu braço com a inscrição “minha rainha”, em homenagem à mãe. Graças aos dois, ele não desistiu diante das dificuldades node José Bonifácio:
– Foi a época mais difícil, pois não tinha estrutura nenhuma. Não tinha comida adequada, e eu ia treinar a pé: dava 30, 40 minutos. Só não voltei para casa porque meu pai me ajudava e sempre me mandava um dinheirinho.
Quem o vê contar essas estórias com um constante sorriso à mostra não duvida que ele seja capaz de ir mais longe. Se antes ele não queria saber de estudar, agora faz aulas particulares de inglês para enfrentar os desafios da Europa:
– Se eu saísse hoje, iria com a cabeça feita, mais maduro. Tenho procurado evoluir cada dia mais para chegar lá e não sofrer tanto com a adaptação, a língua e o estilo de jogar um futebol mais dinâmico das principais ligas europeias. Na hora certa vou mostrar meu valor lá.
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Enquanto isso não acontece, o meia segue os passos do artilheiro Ricardo Oliveira, colega de Santos e de seleção: faz gols – como domingo, contra o Flu, numa falha de Cavalieri – e agradece a Deus. Evangélico como Ricardo, Lucas doa o dízimo para sua igreja, a exemplo de Neymar, seu ídolo.
– Neymar é referência. E fiquei muito feliz pela convocação do Ricardo. Se jogarmos juntos, vamos dar trabalho.
Fonte: oglobo
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