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Justiça obriga IBGE a incluir população em situação de rua no Censo de 2020

O número de pessoas que vivem nas ruas do Brasil é desconhecido, o que dificulta a implementação de políticas públicas eficientes. No primeiro capítulo da série Sobre Viver nas Ruas e vai saber os motivos que levaram alguns desses personagens a dormir sob marquises e viadutos, praças e centros de acolhida.

Eles não são invisíveis! Cada pessoa que vive nas ruas tem um rosto, um nome, uma história.

Lora é catadora e teve oito filhos, todos na rua. Hoje ela vive em dois cômodos de uma casa invadida com outras sete pessoas. Sabe que a qualquer momento terá de sair e já escolheu a praça que vai viver com a família. Mesmo com o dinheiro contado, Lora gosta de trabalhar arrumada: unha pintada, batom, salto alto. Foi pra rua por causa do alcoolismo, como explica.

“Eu com meus 12anos estava já alcoólatra compulsiva. Eu, com meus 14 anos já tinha experimentado quatro tipos diferentes de drogas. Ser mulher e morar na rua… uma garantia que eu vou ter é que vou ser estuprada, que eu vou sofrer abuso, que vou sofrer todos os tipos humilhações”

Alexandre Frederico perdeu o companheiro para o câncer há 14 anos. Por causa da depressão, ele conheceu as drogas. Na rua, descobriu que era soropositivo. Hoje, o rapaz bem articulado vive em um dos centros de acolhida da prefeitura de São Paulo e relata os locais por onde passou.

“Ninguém gosta de ficar na rua. Tem que ter muito culhão pra dormir na praça da Sé. Você tem encher a cara mesmo, você não vai ficar careta no Pateo do Collegio. Você já dormiu nesses lugares? No Pateo do Collegio, na praça da Sé, debaixo do viaduto do Glicério, dentro do parque da Mooca”

Há um mês, Joyce dorme com o marido debaixo de um viaduto. Ela saiu de casa depois que o pai matou a mãe e abusou dela e da irmã. Nas coisas do casal há um colchão, alguns cobertores e roupas. Ao lado, um recipiente pra colocar o lixo. Ela conta como é viver nessa condição.

“Nós pega (sic) doações. Tem o Castelinho, a gente toma banho lá. Tem o banheiro aqui na estação, de manhã eu tomo meu banho lá. Mas também pra viver na rua tem que saber onde está dormindo, as pessoas que estão ao redor. Eu fico onde eu acho que estou me sentido bem. Se eu vejo que não estou me sentido bem em pego minhas coisinhas com meu marido e a gente sai andando”

José Rinaldo é outro sobrevivente. Ele tem 46 anos e nasceu em Aracajú. Por causa do desemprego, há oito anos vive nas ruas. Ele diz que tem vergonha de morar na rua.

“Olha, muitas vezes dá por aquela situação que você está, porque muitas vezes você se sente numa situação de impotência, porque as vezes você não tem condições mínimas de suprir as suas necessidades”

Esses quatro personagens estão entre as 16 mil pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo, a maior do Brasil. O número é de 2015 e não se sabe, ao certo, quantas pessoas estão nessa condição no país. De acordo com a última estimativa nacional, feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, em 2015 cento e uma mil pessoas viviam nas ruas.

A pedido da Defensoria Pública da União, a justiça federal do Rio de Janeiro determinou ao IBGE incluir essa população no Censo de 2020. Segundo o antropólogo Tomas Melo, do Instituto Nacional de Direitos Humanos da População em Situação de Rua, não é possível articular políticas públicas sem uma base confiável.

“A gente sabe quantas cabeças de gado tem no país, quantos gatos abandonados tem no país. A gente sabe quantos hectares tem de cultura plantada no país. Mas a gente não sabe o número de pessoas em situação de rua. A gente está falando de um problema extremamente complexo, que tem crescido cada vez mais no país e gente não sabe nem a demanda real de pessoas que estão nessa situação, nem qual o tamanho desse investimento”

Por meio de nota o IBGE informou está avaliando a melhor forma de lidar com o tema, que pode ser através de uma pesquisa amostral e não no censo demográfico. No próximo capítulo você vai saber porque as políticas públicas existentes não são suficientes pra tirar as pessoas das ruas dos grandes centros.

FONTE:  CBN

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Marcio Martins martins

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