É o pior resultado para o mês desde 2003 e também a 19ª taxa negativa seguida nessa comparação
RIO – A produção industrial encolheu 1,3% em setembro frente a agosto, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira. É a maior baixa da série histórica para meses de setembro nessa comparação da série histórica, iniciada em 2002. Já no confronto com igual mês do ano anterior, a indústria apontou queda de 10,9% em setembro — pior resultado para a comparação interanual para meses de setembro desde 2003. Essa também foi a 19ª taxa negativa consecutiva nesse tipo de análise e a mais acentuada desde abril de 2009 (-14,1%).
O resultado ficou melhor que o previsto por analistas, que projetavam queda de 1,5% na mesma comparação. Em todo 2015, apenas os meses de janeiro e maio não apresentaram retração. Já no acumulado do ano, a atividade no setor recuou 7,4%.
Em 12 meses, a baixa é de 6,5% — a perda mais intensa desde dezembro de 2009 (-7,1%), mantendo a trajetória de queda iniciada em março de 2014 (2,1%). Essa foi a quarta queda consecutiva na comparação com o mês anterior, acumulando nesse período perda de 4,8%.
O IBGE também fez uma revisão em relação aos dados de agosto. A produção industrial encolheu 0,9%, em vez de 1,2%, frente a julho. Já no confronto com igual mês de 2014, a queda passou de 9% para 8,8%.
Segundo André Luiz Macedo, gerente de indústria do IBGE, o mês de setembro, conhecido como o Natal da indústria, por causa das encomendas de fim de ano, não pôde ser identificado neste ano.
— Normalmente, há sempre um ponto alto de produção em setembro por causa das encomendas para o final do ano. Não conseguimos identificar isso neste ano. Esse movimento de setembro é um padrão, mas depende da conjuntura. Esse padrão não aparece neste ano de 2015, até porque temos um recuo generalizado. Somente o setor extrativo apresenta melhora no janeiro a setembro de 2015.
NÍVEL DE 2009
Macedo aponta ainda que, na série histórica, é como se a indústria estivesse no mesmo nível de abril de 2009.
— Também nos distanciamos do ponto mais alto da série histórica, que foi junho de 2013. Estamos 16,3% abaixo deste momento de pico.
Das quatro categorias pesquisadas, três apresentaram queda em setembro relação ao mês anterior. O dado positivo foi na categoria de bens de capital, com melhora de 1% em relação ao mês de agosto. A de bens intermediários caiu 1,3%, a de bens de consumo encolheu 1,2%. A produção de bens duráveis recuou 5,3% e a de bens semiduráveis apresentou melhora de 0,5%.
Ao recuar 5,3%, a produção de bens duráveis mostrou a redução mais acentuada em setembro de 2015 e intensificou o ritmo de queda frente ao mês anterior (-4%). Houve influência da menor produção de automóveis, ainda afetada pela concessão de férias coletivas em várias unidades produtivas.
Na comparação com igual mês do ano anterior, as quatro principais categorias apresentaram queda. O recuo mais forte se deu entre bens de capital (-31,7%) e bens de consumo duráveis (-27,8%). Os setores produtores de bens de consumo semi e não duráveis (-7,4%) e de bens intermediários (-7,2%) também mostraram resultados negativos nesse mês, mas ambos com recuos abaixo da média nacional (-10,9%).
A queda se deu de forma disseminada. Além de alcançar as quatro categorias econômicas, atingiu 24 dos 26 ramos, 68 dos 79 grupos e 76,8% dos 805 produtos pesquisados. O IBGE aponta, porém, que setembro de 2015 teve 21 dias úteis um dia útil a menos do que igual mês do ano anterior.
QUEDA DE 39,3%
Entre as atividades, a de veículos automotores, reboques e carrocerias, que recuou 39,3%, exerceu a maior influência negativa na formação da média da indústria. Outras contribuições negativas relevantes vieram de máquinas e equipamentos (-20,2%), metalurgia (-14,0%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-27,9%), produtos de metal (-17,3%), produtos de borracha e de material plástico (-15,0%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-19,5%), produtos de minerais não-metálicos (-12,1%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,4%), produtos têxteis (-22,5%), produtos alimentícios (-2,2%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-13,6%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-11,8%), outros produtos químicos (-5,0%) e móveis (-22,4%).
Por outro lado, ainda na comparação com setembro de 2014, entre as duas atividades que aumentaram a produção, o principal impacto foi observado em indústrias extrativas (2,6%), impulsionado pelos avanços nos itens minérios de ferro em bruto e pelotizados.
Segundo Macedo, mesmo o resultado positivo em bens de capital, que avançou 1% de agosto para setembro, e a estabilidade registrada em bens intermediários de julho para agosto precisa ser relativizada.
— Esse resultado positivo precisa ser relativizado. Bens de capital cresce 1%, mas vinha de um momento negativo desde fevereiro. Ou seja, temos um resultado positivo, mas no acumulado é uma queda de 25,2%. Na mesma conta para bens intermediários, de fevereiro para cá é 4,3% de queda. Até mesmo esses dois grupamentos tem uma leitura de comportamento de queda.
O gerente de indústria afirma que o câmbio não está conseguindo reverter o movimento de queda.
— O aumento de exportação não é suficiente para reverter o cenário de queda, não consegue reverter a trajetória descendente. O crescimento da exportação se dá em nichos, celulose é um destes nichos, mas não consegue reverter o movimento.
De acordo com o último boletim Focus do Banco Central, divulgado na segunda-feira, a produção industrial deve encerrar o ano com queda de 7%.
PERDA ESPALHADA
Na comparação anual, onde houve queda de 10,9%, Macedo aponta que três das quatro principais categorias já acumulam mais de um ano e meio de queda.
— Essa queda de 10,9% é a primeira queda de dois dígitos desde junho de 2009. É o 19º resultado negativo em sequência, um movimento de perda espalhado por todas as grandes categorias.
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A produção de bens de capital teve o 19º resultado negativo em sequência na comparação ano a ano. No caso da produção de bens intermediários, foi a 18ª taxa negativa, a pior desde julho de 2009, quando o recuo foi de 11,1%. Em bens duráveis, também são 19 meses seguidos de queda na comparação anual, com recuo de 27,8%, o pior desde junho de 2009, quando a queda foi de 32,1%.No caso dos produtos semiduráveis e não duráveis, é o 11º mês seguido de queda na mesma comparação.
Segundo o gerente de indústria do IBGE, ainda não é possível dizer se este será o pior ano para a indústria desde 2009, quando a queda foi de 7,1%. Macedo, porém, chama atenção para a conjuntura negativa, que permanece neste início de novembro. De janeiro a setembro deste ano, a queda acumulada é de 7,4%.
— Os fatores que justificam essa queda mês a mês é a demanda doméstica lenta, falta de confiança do produtor e consumidor, renda diminuindo, crédito mais escasso. Todos estes fatores estão justificando a queda e são fatores que têm permanecido. Se temos nove meses com o setor industrial recuando 7,4%, é surreal achar que teria uma reviravolta de comportamento positivo. Mais do que a própria trajetória o que nos chama atenção é a queda disseminada nas quatro grandes categorias. Temos um comportamento evidente de queda.
Fonte: oglobo
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