Enquanto a morte acidental da diretora de fotografia Halyna Hutchins está sendo investigada, acumulam-se as repercussões da tragédia. Figuras de direita acusam o ator de assassinato, advogados suspeitam de sabotagem.
A morte da diretora de fotografia Halyna Hutchins – por uma arma de cena disparada pelo ator Alex Baldwin, no set de filmagens de Rust no Novo México, em 21 de outubro – ainda é objeto de investigações oficiais. O que não impede um furacão de especulações de varrer a mídia e as redes sociais.
No fim de outubro, Baldwin, sua esposa e filhos foram perseguidos por repórteres numa autoestrada do estado americano de Vermont. “Não posso responder nenhuma pergunta sobre a investigação, não posso”, apelou o ator. “É uma investigação em andamento. Uma mulher morreu. Ela era minha amiga”.
Depois de ser indicado para o Oscar por O sucesso a qualquer preço (1992) e estrelar blockbusters como Os fantasmas se divertem (1988) e séries televisivas cult como Um maluco na TV, ultimamente o ator de 63 anos ganhara projeção por sua cáustica caricatura do ex-presidente americano Donald Trump no show humorístico Saturday Night Live, da NBC.
Na sequência do incidente fatal, esse fato transformou o “liberal” hollywoodiano em alvo para figuras da direita americana. Donald Trump Jr. não perdeu a chance de ridicularizá-lo: um website de merchandising ligado ao primogênito do bilionário vende camisetas com os dizeres “Armas não matam gente, Alec Baldwin mata gente”.
Numa postagem no Twitter agora eliminada, a comentarista conservadora Candace Owens também acusava diretamente o astro de assassinato: “Alec Baldwin dedicou quatro anos a pintar Donald Trump e seus apoiadores como malvados assassinos. O que aconteceu a Alec seria um exemplo de justiça poética, se não fossem os verdadeiros inocentes que foram assassinados por ele.”
Antes do incidente, revolta no set
Baldwin vem urgindo ao debate sobre os protocolos de segurança de armas nos sets de filmagem, em seguida ao que denominou “um evento em 1 trilhão”. Tem havido numerosas imputações de más condições de trabalho e segurança no set, enfatizando-se o fato de que a aprendiz de armeiro responsável por carregar as armas com balas de festim não era sindicalizada.
O roteirista e diretor Joel Souza – que também foi ferido por Baldwin no incidente de 21 de outubro, mas já se recupera – concebeu Rust, tendo o ator como produtor, como um “projeto de paixão”, rodado em três semanas altamente condensadas, com orçamento relativamente modesto e destinado a ser exibido diretamente em streaming ou na televisão.
Segundo as autoridades de Santa Fé, alguns cameramen haviam abandonado as filmagens em protesto, alegando jornadas excessivamente longas e outras condições de trabalho penosas. Outros membros da equipe, contudo, têm rebatido essa versão.
O próprio Baldwin reproduziu no Instagram postagens da encarregada dos figurinos Teresa Magpale Davis: “Eu trabalhei nesse filme. A história que estão contando, de estarmos esgotados e cercados por condições inseguras, caóticas, é bullsh..t.”
Segundo Davis, os horários não eram mais longos do que o usual, e a armeira que carregou a arma, Hannah Gutierrez Reed, constava de uma lista de excedentes, em que potenciais membros do sindicato primeiro ganham experiência. Ela fora “aprendiz de um armeiro bem conhecido e havia estado na mesma posição, no mesmo tipo de filme, alguns meses antes”, assegurou a figurinista.
Alegações de sabotagem
No mesmo dia em que Baldwin postou essas afirmativas, os representantes legais de Gutierrez Reed sugeriram que alguém pode ter intencionalmente colocado munição viva na arma utilizada por Baldwin.
Segundo a agência de notícias Reuters, a aprendiz teria dito ao assistente de direção Dave Halls que a arma estava “fria” – um jargão do setor cinematográfico indicando ser segura. Além disso, rodou o cilindro e conferiu o conteúdo, antes de entregá-la a Halls, que então levou o objeto de cena aonde Baldwin estava ensaiando uma cena.
Em entrevista à TV ABC, um dos advogados, Jason Bowles, levantou a hipótese de balas de verdade, semelhantes às de festim, terem sido depositadas na caixa de munição: “Receamos que é o que pode ter acontecido lá, que alguém pretendia sabotar esse set com munição viva intencionalmente colocada numa caixa de balas falsas”
Ele não crê que alguém tivesse intenção de provocar “uma tragédia ou homicídio”: “Acredito que alguém quisesse sabotar o set, provar um argumento, quisesse dizer que está insatisfeito, que está infeliz. E sabemos que houve quem abandonasse o set na véspera”, lembrou, referindo-se aos cameramen revoltosos.
Alec Baldwin não comentou as especulações de sabotagens, limitando-se a declarar, para os paparazzi que o abordaram na autoestrada: “Então o que tem que acontecer agora, depois dessa coisa horrível, catastrófica, é que algumas novas medidas devem ser adotadas: armas de borracha, armas de plástico, nada de armamentos vivos, reais.”
A tragédia já teve repercussões concretas no setor: na quarta-feira, em Los Angeles, durante a estreia de seu novo filme, Alerta vermelho, o ator Dwayne “The Rock” Johnson confirmou que sua produtora abandonará de vez as armas de fogo de verdade: “De agora em diante, em toda produção da Seven Bucks, para televisão, cinema, ou o que seja, nunca mais vamos usar armas reais.”
FONTE: DEUTCHE WELLE
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