Entre quinta-feira e sábado, 81% dos 2.600 incêndios no estado ocorreram em áreas usadas por culturas como a da cana-de-açúcar e para pasto
Atingido fortemente por incêndios entre quinta-feira (22) e sábado (24), o interior de São Paulo viu as chamas se alastrarem de forma acelerada graças à vegetação seca e sem um alvo definido -foram atingidas desde áreas invadidas por sem-terra até propriedades de grandes usinas, além de órgãos de pesquisa e trânsito e até mesmo o entorno de um condomínio de luxo. Prefeituras ainda contabilizam os prejuízos.
A hipótese de que as queimadas tenham sido criminosas foi levantada pelo governo federal, que investiga se os incêndios têm motivação semelhante aos protagonizados por criminosos em agosto de 2019 em Altamira e Novo Progresso, no Pará, no que ficou conhecido como “dia do fogo”.
Um estudo do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) aponta que as queimadas surgiram de forma quase simultânea e predominantemente em áreas agropecuárias, com base em levantamentos de focos de calor mapeados por satélite.
Entre quinta-feira e sábado, 81% dos 2.600 incêndios no estado ocorreram em áreas usadas por culturas como a da cana-de-açúcar e para pasto.
Seis pessoas já foram detidas no interior de São Paulo desde a propagação dos incêndios em série, mas o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou na segunda (26) que nada leva a crer que as ações tenham sido articuladas. O estado também não confirma relação entre os casos.
Policiais ouvidos pela Folha afirmam que o fato de os focos de incêndios terem sido registrados em lugares tão diferentes entre si é um obstáculo que a investigação enfrenta em busca de supostos criminosos.
O fogo provocou danos severos desde sexta-feira (23), quando dois funcionários de uma usina em Urupês morreram tentando combater as chamas e rodovias foram bloqueadas devido à extensão dos incêndios; usinas de açúcar e etanol passaram a ver suas lavouras de cana queimadas levando fuligem e fumaça para as áreas urbanas.
No sábado, uma forte ventania fez o fogo se propagar mais rapidamente e chegou no entorno do condomínio Alphaville 3, em Bonfim Paulista, distrito de Ribeirão.
Os impactos para a cana, principal atividade econômica da macrorregião de Ribeirão Preto, são ainda maiores que os apontados pelo setor no último final de semana, e usinas oferecem recompensa a quem apontar os supostos autores das queimadas.
Inicialmente a Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil) estimou um prejuízo de R$ 350 milhões, mas nesta terça (27) a entidade disse que os danos devem superar os R$ 500 milhões entre áreas de queima de cana e de rebrota. Isso ocorreu pelo fato de a área atingida ser maior que a apontada até então -de 59 mil hectares, passou para 80 mil.
Na estância turística de Olímpia, por exemplo, foram atingidas 20% das áreas agricultáveis do município, num total de 12 mil hectares, segundo a prefeitura.
A maior parte é de cana, mas também foram devastadas áreas de matas e preservação permanente, com danos e prejuízos que podem chegar a R$ 100 milhões decorrentes da perda da produção prevista.
Nesta terça não havia foco ativo na cidade, que segue monitorada e com trabalho de assistência aos produtores rurais, com limpeza de estradas e consertos de cercas para controlar gado e evitar também que outros animais fiquem soltos -o que poderia ocasionar acidentes.
O fogo ainda atacou centros de pesquisa, como o Centro de Cana do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), em Ribeirão Preto, e uma área que abriga um acampamento de sem-terra entre Guatapará e Pradópolis.
Em Dumont, as chamas chegaram a um pátio utilizado pela polícia para guardar carros apreendidos, que fica perto de uma lavoura de cana. O local recebe veículos de toda a região.
FONTE: FOLHAPRESS COM JORNAL DE BRASÍLIA
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