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Incêndio atinge galpão da Cinemateca em São Paulo

Dezoito viaturas dos bombeiros atuam em imóvel que abriga acervo na Vila Leopoldina, zona oeste da cidade. Não há vítimas

Um incêndio de grandes proporções atinge um galpão que abriga parte do acervo da Cinemateca Brasileira, localizado na rua Othão, 290, na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, na tarde desta quinta-feira (29).

O prédio abriga o acervo fotográfico da instituição, conforme o próprio site da instituição, responsável pela preservação do maior acervo audiovisual da América Latina.

18h04 Informações sobre fogo em edificação comercial, Rua Othao, 290 – Vila Leopoldina, aproximadamente 70 bombeiros, 18 vtrs, sem vítima, aguardo informações do locais#193I. pic.twitter.com/FaQnLsfH1q

Dezoito viaturas do Corpo de Bombeiros atuam no local. A corporação informa que não há vítimas. Doado à Cinemateca em 2009, pela Secretaria do Patrimônio da União, o imóvel ocupa uma área de 8.400 m², sendo 6.356 m² de área construída.

Os bombeiros foram acionados às 18h04, quando enviaram quatro viaturas ao local. Cerca de meia hora depois houve reforço de mais sete viaturas no combate às chamas. Às 19h13, como informou a corporação, mais seis equipes foram enviadas para o galpão. Cerca de 40 minutos depois, mais uma viatura se somou às equipes no local. Ao todo, são 70 profissionais trabalhando para conter o incêndio.

O prédio principal da Cinemateca Brasileira, localizado na Vila Mariana, não foi atingido.

Manifesto

Um manifesto divulgado em 12 de abril por trabalhadores da Cinemateca apontava que desde seu fechamento, em agosto de 2020, “não há corpo técnico contratado, o acervo segue desacompanhado e não há qualquer informação sobre suas condições”.

O texto alertava para riscos de acervo, equipamentos, bases de dados e edificação ser consumida por um incêndio.

“A possibilidade de autocombustão das películas em nitrato de celulose, e o consequente risco de incêndio frequentemente recebem mais atenção da mídia e do público.

A nota informa que em seus 74 anos, a Cinemateca enfrentou incêndios quatro vezes. O último, em 2016, destruiu mil rolos de filmes, correspondentes a 500 obras – a maior parte cinejornais.

“O risco de um novo incêndio é real”, alertou o manifesto, que destacou o acompanhamento técnico contínuo como a principal forma de prevenção.

Contrato com o MEC

Com a função de preservar e difundir o acervo audiovisual brasileiro, a Cinemateca Brasileira é administrada atualmente pela Secretaria Nacional do Audiovisual, braço da Secretaria Especial de Cultura e subjugada ao Ministério do Turismo. Há dois anos, o contrato que a Acerp (Associação Roquette Pinto) mantinha com o Ministério da Educação para a gerência da instituição não foi renovado. O governo federal prometeu lançar novo edital para a função, mas a promessa nunca saiu do papel.

Regina Duarte

Em maio do ano passado, ao demitir Regina Duarte da Secretaria Especial de Cultura, o presidente Jair Bolsonaro declarou em vídeo, ao lado da atriz, que ela passaria a “fazer a Cinemateca”. Ela não assumiu a função. Já em agosto, o governo federal demitiu todos os funcionários que trabalhavam na instituição, alguns com décadas de carreira, e o portal oficial da Cinemateca foi retirado do ar.

O abandono da instituição gerou críticas de profissionais do cinema brasileiro e da comunidade internacional. No ano passado, o francês Thierry Frémaux, diretor do Festival de Cannes, disse que a Cinemateca estava “ameaçada pelo governo federal”.

Preservação

Em julho de 2020, o MPF (Ministério Público Federal) entrou com uma ação para que a União, com orçamento de R$ 12,2 milhões, viabilizasse a preservação e a gestão da Cinemateca, que já enfrentava uma crise de gestão desde 2019. Pedido de p

O local, segundo os funcionários, não recebia auxílios financeiros depois do fim do contrato com a Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto).

Alegando que a não renovação contrariou recomendações da administração federal, o MPF requereu que a associação tivesse o contrato mantido por mais um ano, partindo de 1º de janeiro de 2020, de maneira retroativa.

O órgão pediu também que a União fosse impedida de suspender a parceria de forma unilateral, sem a Justiça autorizar. A ação, porém, foi suspensa em maio de 2021.

A Cinemateca Brasileira é responsável pela preservação da produção audiovisual do país e comporta o maior acervo da América do Sul.

O governador do estado de São Paulo, João Doria, se posicionou a respeito do incêndio. “O incêndio na Cinemateca é um crime com a cultura do país. Desprezo pela arte e pela memória do Brasil dá nisso: a morte gradual da cultura nacional”, disse Doria.

Cronologia da Cinemateca Brasileira

1940

Origem da Cinemateca quando Paulo Emílio Sales Gomes, Décio de Almeida Prado, Antonio Candido de Mello e Souza, entre outros, fundam o Primeiro Clube de Cinema de São Paulo, que se propõe a estudar o cinema como arte independente por meio de projeções, conferências, debates e publicações.

1941

O Primeiro Clube é fechado pelos órgãos de repressão da ditadura do Estado Novo.

1946

O Segundo Clube de Cinema de São Paulo é criado por Francisco Luiz de Almeida Salles, Rubem Biáfora, Múcio Porphyrio Ferreira, Benedito Junqueira Duarte, João de Araújo Nabuco, Lourival Gomes Machado e Tito Batini, buscando estimular o estudo, a defesa, a divulgação e o desenvolvimento da arte cinematográfica no Brasil.

1949

É aprovado um acordo entre o recém-criado Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM/SP e o Clube, para a criação da Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo.

1951

Paulo Emílio é nomeado vice-presidente da FIAF – Federação Internacional de Arquivos de Filmes.

1954

Paulo Emílio assume a direção da Filmoteca, como conservador-chefe, contando com a ajuda de Rudá de Andrade e Caio Scheiby.

1956

A Filmoteca se desliga do Museu de Arte Moderna, transformando-se em Cinemateca Brasileira, uma sociedade civil sem fins lucrativos.

1957

Em 28 de janeiro, um incêndio causado pela autocombustão sofrida pelos filmes em suporte de nitrato de celulose destrói suas instalações na Rua Sete de Abril.

1961

A Cinemateca torna-se uma fundação, personalidade jurídica que lhe permite estabelecer convênios com o poder público estadual.

1962

Criação da Sociedade Amigos da Cinemateca – SAC, sociedade civil cuja finalidade é auxiliar financeiramente a Fundação Cinemateca Brasileira.

1969

Em 18 de fevereiro, acontece o segundo incêndio, na instalação no portão 9 do Parque do Ibirapuera com perda de diversos materiais documentais em suporte de nitrato.

1976

A Fundação Cinemateca Brasileira tem o reconhecimento de seu caráter de utilidade pública pelo município de São Paulo.

1982

No dia 6 de novembro, ocorre o terceiro incêndio, que agrava as dificuldades financeiras da instituição e levam à defesa de sua incorporação ao poder público.

1984

A Fundação Cinemateca Brasileira é extinta e incorporada, como órgão autônomo, à Fundação Nacional Pró-Memória.

1988

O prefeito Jânio Quadros cede à instituição o espaço do antigo matadouro da cidade. Após nove anos de reformas, a sede da Cinemateca Brasileira é definitivamente instalada na Vila Clementino.

2003

A Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura incorpora a Cinemateca Brasileira.

2008 a 2013

A Cinemateca Brasileira dá um grande impulso nas suas atividades de preservação e difusão de acervos, bem como na infraestrutura, graças a recursos investidos pelo antigo Ministério da Cultura, em parceria com a Sociedade Amigos da Cinemateca.

2013

Sob gestão de Marta Suplicy, a Cinemateca passa por uma auditoria do Ministério, tem seu diretor exonerado e vê a suspensão no repasse de verbas do Ministério da Cultura para a entidade, causando a demissão de 43% do corpo de funcionários. É o início da crise que dura até os dias atuais.

2016

Em 3 de fevereiro, ocorre o quarto incêndio, resultando na perda de 731 títulos, em mil rolos rolos de filmes em nitrato de celulose. Do total, 461 obras tinham cópias; o restante se perdeu

2016 a 2017

O antigo Ministério da Cultura, através de sua Secretaria do Audiovisual, assina contrato com a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), organização social qualificada pelo Ministério da Educação, para execução de um projeto de preservação e acesso de acervos audiovisuais, da Cinemateca Brasileira.

2018

Em março é assinado Contrato de Gestão, parceria entre o antigo Ministério da Cultura e o Ministério da Educação, em que a Cinemateca passa a ser administrada integralmente pela Acerp por um período de 3 anos.

Maio de 2020

A Cinemateca divulga documento pedindo socorro

FONTE:  R7.COM

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