O Rio de Janeiro de Zuenir Ventura é uma cidade partida, mas na greve dos garis, é uma cidade homogênea. Há lixo espalhado nas zonas sul, norte, oeste e centro. Nesta quinta-feira a greve dos garis na capital fluminense completa uma semana com um verdadeiro mar de sacolas plásticas espalhados pelos quatro cantos da cidade. E relatos de medo de funcionários da Comlurb (Companhia de Limpeza Urbana do Rio) que não quiseram aderir à paralisação da categoria.
Na última quarta-feira, dia em que os garis não chegaram a um acordo em audiência na Justiça do Trabalho – no início, eles pediam 47% de reajuste, mas já aceitam 15%, só que a empresa acena com apenas 7% – a reportagem do Terra percorreu alguns bairros aleatórios do Rio de Janeiro.
E o flagrante é que a paralisação deixa um verdadeiro “mar de lixo” espalhado, inclusive, em cartões postais tradicionais do Rio de Janeiro – como a praia mais famosa do Brasil, Copacabana. Diversos sacos de lixo estavam empilhados na ciclovia ao longo da orla, atrapalhando quem passava de bicicleta ou fazendo uma caminhada pelo local. Esse, no entanto, é o pior dos problemas se comparado com o mau cheiro, e a possibilidade de chuvas que trariam alagamentos ainda maiores com a falta da coleta.
“Eu não consigo nem sair de casa direito, olha essa montanha, que nojento”, reclamava a aposentada Maria Lúcia dos Anjos, moradora da praça São Salvador, em Laranjeiras, espantada com os sacos de lixo empilhados em frente ao seu prédio. A praça em si, reduto boêmio da zona sul, está forrada de garrafas long neck que não foram recolhidas após consumidas pelos frequentadores.
A Comlurb estima que metade da categoria tenha aderido à greve, muito embora alguns funcionários admitam que esse número é bem maior. Na orla de Ipanema, na zona sul, a reportagem flagrou um dos raros caminhões da empresa recolhendo o lixo da região. Três garis, mais o motorista, trabalhavam no local.
“Eu acho que só uns 20% da galera está trabalhando”, confessou um gari, que não quis se identificar. “Mas a gente falta, perde dia no ponto e fica sem receber, eu não quero isso”, completou. Seu colega, que também não quer revelar o nome, diz que na zona sul eles até conseguem trabalhar, “mas lá em cima (zona norte e subúrbio) tá complicado. Estou até com medo de morrer”.
O medo é da retaliação dos grevistas. Nesta semana, um gari supostamente teria sigo agredido a pedradas e sofreu graves ferimentos feitos pelos grevistas, que não queriam que ele saísse para trabalhar na região da Tijuca, na zona norte. Já são pelos menos 15 boletins de ocorrência registrados de agressões. “Podia ser eu, não? Está todo mundo com medo”. Os grevistas negam.
Um pouco adiante, o Terra flagrou outro caminhão da empresa, com cinco garis fazendo a coleta, mas sem uniformes. Com a aproximação da reportagem, um deles alegou que “a gente não pode dar entrevista”. Diante da insistência, um deles confessou que “a gente não é gari, não, estamos fazendo biscate, ganhando ‘unzinho’ com essa greve aí”. A Comlurb confirma que contratou uma empresa terceirizada para suprir a ausência de seus funcionários.
Existia o temor de que eles estariam trabalhando à paisana para evitar serem agredidos por grevistas. O fato é que alguns garis estão trabalhando em grupos e com escolta – a reportagem viu, no centro do Rio, um grupo de cerca de oito varredores atuando junto com dois homens da Guarda Municipal.
Após nova tentativa falha de negociação, a Justiça do Trabalho irá julgar agora a legalidade da greve e se haverá alguma multa diária pela paralisação. Nova assembleia e protestos dos garis estão previstos para esta quinta-feira.
Fonte: Terra
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