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Juíza relata caso de tortura e estupro contra mulher negra em loja do Carrefour no RJ

caso João Alberto resgatou a lembrança da juíza Cristiana de Faria Cordeiro de como estava o físico de uma suspeita por furto — com indícios de estupro — na audiência de custódia realizada em março de 2017 na cidade do Rio de Janeiro.

A magistrada, atualmente titular da Vara Criminal de Mesquita, na Baixada Fluminense, decidiu compartilhar o que ficou gravado em sua memória através de uma série de posts no Twitter no dia seguinte à morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre. O crime provocou imediata reação de movimentos antirracistas pelo país e a postagem dela que dá início ao fio viralizou, somando 10 mil curtidas até o momento.

— Quando veio a morte do Beto num Carrefour de Porto Alegre, imediatamente me lembrei daquela audiência. A mulher chegou muito debilitada na audiência. Eu olhei o laudo e dizia que ela tinha relatado agressão na região glútea e que estava com um curativo no ânus — disse ela ao EXTRA nesta quinta-feira, 26.

A juíza Cristiana ressaltou que seu relato também é sobre racismo.

“Não é uma vivência pessoal, claro. Mas de uma mulher que foi presa e brutalizada quando eu era juíza de custódia, no Rio de Janeiro”, contou ela no Twitter, descrevendo a suspeita levada para audiência como “negra, lésbica, pobre, dependente química, presa por supostamente furtar comida”.

E acrescentou: “Ao chegar à audiência de custódia (que, na época, era realizada no prédio do Tribunal, no centro da cidade), vi que o médico que a examinou descreveu que ela estava com um curativo no ânus. Ela dizia que havia se machucado ao evacuar, algo assim. Só que a história real não era essa”.

A juíza afirmou que ao fazer a postagem, não se recordava dos detalhes e conversou com alguns profissionais que estiveram envolvidos naquela mesma áudiência. No entanto, destacou que aquela situação foi uma das mais marcantes em sua carreira.

— Alguns casos ficaram marcados na memória — afirmou. — Eu sou juíza desde 1998; aquilo ali me pareceu totalmente indiciário de alguma agressão grave. Ela estava muito hesitante, amedrontada. Acho que receosa de alguma retaliação caso contasse. A audiência de custódia não é nem o início do processo, é pré-processual. Depois dela, o flagrante foi distribuído para uma das varas criminais do Rio e eu nunca mais tive notícias.

Na rede social, Cordeiro lembrou que a mulher não explicava o motivo de estar ferida apesar de, segundo ela, “ter sido visivelmente torturada”. A autora dos posts relatou ter permitido a participação da companheira da suspeita na sala, que teria pedido “fale para eles o que aconteceu”.

“Enfim ela contou que foi flagrada furtando (uma relação de alimentos bem mais módica do que aquela apresentada na nota fiscal pelo mercado). Não era a primeira vez. Mas naquele dia, algo diferente e terrível aconteceu. Ela foi levada para uma salinha onde foi brutalmente espancada com um pedaço de madeira, inclusive. Não teve coragem de nos contar o mais cruel, e só falou para a psicóloga que a atendeu antes de ser liberada: foi sodomizada, estuprada, como ‘lição e castigo'”, escreveu Cordeiro.

“Até quando isso vai continuar acontecendo, com a complacência de tantos….é o que me pergunto quando vejo cenas como a do assassinato de João Alberto”, completou.

FONTE: EXTRA

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