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Ferroviários da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré embarcam no “túnel do tempo” em homenagem do Governo de Rondônia

No Dia do Ferroviário, o encontro que marcou a solenidade e fez as pessoas imaginarem relatos de uma época da EFMM

No domingo (30), Dia do Ferroviário, aqueles que construíram a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré – EFMM (1907 a 1914) e trabalharam nela enquanto esteve ativa, receberam tributo da Secretaria Estadual da Juventude, Cultura, Esporte e Lazer – Sejucel. O evento foi realizado no Teatro Estadual Guaporé, em Porto Velho. A iniciativa do Governo de Rondônia, juntamente às associações, busca valorizar os trabalhadores de mais de 50 nacionalidades, que encararam o desafio para a construção da linha ferroviária, em meio à Amazônia.

As irmãs Úrsula e Luzia lembram Oscar Maloney, bombeiro hidráulico da ferrovia

O interesse do Brasil pelo Acre e o desejo da Bolívia por uma saída para o escoamento da borracha à Europa foram resolvidos com o Tratado de Petrópolis, onde foi firmado o compromisso brasileiro da construção da ferrovia. Ela ligava os portos de Santo Antônio do Rio Madeira, em Porto Velho, ao de Guajará-Mirim, no Rio Mamoré. Uma extensão de mais de 360 km.

Quando a Malásia, país da Ásia, começou a produzir borracha em larga escala para o mundo, a ferrovia deixou de ter a sua importância econômica e foi desativada. Mas o seu valor para Rondônia se mantém. Em 2005, a ferrovia foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan e reconhecida em 2006 pelo Ministério da Cultura, como Patrimônio Cultural Brasileiro.

Os seus construtores e trabalhadores são motivo de orgulho para o Estado de Rondônia. O secretário da Sejucel, Júnior Lopes definiu o evento, como uma  justa homenagem. “Nós estamos em um Governo que valoriza a sua história e as pessoas que fazem parte dela. É uma marca do Governo de Rondônia em valorizar nossas raízes, dar honra a quem tem honra, e esses ferroviários são pessoas honradas que merecem essa homenagem do Estado. Nada mais justo que a gente proporcione esse tributo aos ferroviários”.

O Governo de Rondônia destaca a importância dos ferroviários que tinham a missão de conduzir os trens da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, além de mencionar todos trabalhadores que fizeram parte dessa história, desde a construção da ferrovia. “É com orgulho que prestamos as homenagens no Dia do Ferroviário. São profissionais importantes de uma época marcada pela glória da nossa lendária Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Eles deram o suor, dedicação e honraram a missão. São merecedores de todas as homenagens e neste dia, o Governo do Estado os aplaude. Viva a nossa história e que Rondônia continue crescendo ainda mais”, enfatizou o governador Marcos Rocha.

Maria Auxiliadora Lobo de Souza, 89 anos foi homenageada  pela Sejucel

HISTÓRIA VIVA

Os ferroviários lembram com detalhes os desafios que enfrentaram e têm orgulho de fazer parte da história da ferrovia. Maria Auxiliadora Lobo de Souza, 89 anos, destaca a importância histórica da ferrovia. “Ela foi o embrião de Rondônia, se não fosse a ferrovia, Rondônia seria município do Amazonas. A Madeira-Mamoré trouxe o progresso para o nosso Estado. Porém, muitas vidas foram perdidas para que ela fosse possível, muitos desastres, flechada de indígenas, doenças, então deem valor, eu tenho orgulho de ser ferroviária, tenho orgulho de ser rondoniense, Estado que acolheu todo mundo com amor e carinho”, enfatizou.

Maria Auxiliadora dedicou mais de 30 anos ao trabalho na ferrovia. “Eu comecei a trabalhar na Madeira-Mamoré em 1953 como datilógrafa, passei para escriturária e me aposentei como oficial de administração, na sessão de pessoal. Quando eu tinha folga, eu ia para dentro das oficinas, eu sei soldar, pois os soldadores me ensinaram, soldo qualquer coisa”, comentou.

Paulo da Costa Ramos, 77 anos, recorda com orgulho a trajetória na ferrovia

Paulo da Costa Ramos, 77 anos, o Paulo Rororoó, como é conhecido pelos ferroviários, é natural do Amazonas, chegou ainda criança em Rondônia, e começou a trabalhar na Estrada de Ferro em 1958, no trem responsável por abastecer as estações. “Para não atrasar a viagem, a gente ia com a equipe de 20 homens no trem com 16 plataformas para encher de lenha no depósito e as locomotivas cumprirem seus horários. Elas chegavam às 5h da tarde em Abunã e no outro dia, às 7h, e partia para Guajará-Mirim, onde chegava às 14h”, recordou.

Ele também guarda na memória os desastres que presenciou como o dia que um amigo de trabalho, no Km 79, conhecido como Caracol, morreu cozido. “A locomotiva explodiu, e o amigo nosso, que era foguista, estava na boca da fornalha colocando lenha para a locomotiva conseguir passar pela subida, o espelho arriou, e a água foi toda para cima dele. Eu lembro como se fosse hoje, foi muito triste e sinto muito”, relembrou emocionado.

Apesar de todas os sofrimentos e dificuldades, Paulo recorda dos momentos na ferrovia com carinho. “Depois desse acidente, fui colocado para trabalhar como estivador, e como auxiliar de condutor do trem. Eu não tenho do que reclamar do trabalho na ferrovia, pra mim foi ótimo. Eu lembro que passei oito dias em Vila Murtinho esperando carga, e outros oito dias em Abunã, com a locomotiva quebrada esperando peça para arrumar, e não tendo mais mantimento, eu ia pescar bodó . Trabalhei na ferrovia até 1972, quando ela foi desativada”, evidenciou.

HOMENAGEM

A noite do tributo aos ferroviários foi marcada ainda, por muitas emoções. Ao subirem no palco, cada ferroviário e familiares daqueles que já faleceram, contaram a alegria de fazer parte da história da ferrovia. As irmãs Úrsula e Luzia lembraram como o pai Oscar Maloney, o primeiro bombeiro hidráulico da ferrovia, era dedicado e feliz com o trabalho.

Francisco de Souza Brito animou o evento ao pedir da plateia a oportunidade de cantar uma música junto às bandas da PM e Exército

Francisco de Souza Brito animou todo o público ao pedir para cantar uma música junto às bandas da Polícia Militar e do Exército. Ele chegou em Rondônia ainda criança, vindo do Ceará, e tem orgulho de ser ferroviário. “Nunca deixem a nossa história ser desonrada”. O ferroviário, Virgílio Lopes, falecido há poucos dias, também foi homenageado. O neto, o titular da Sejucel, Júnior Lopes, e seus familiares receberam as honrarias.

Também foram agraciados pela luta em defesa da ferrovia e dos ferroviários, os representantes da Associação Ambrósio dos Reis Peters – Abresor, Vitor; o presidente da Associação do Ferroviários da Estrada de Ferro Madeira Mamoré – ASFEMM, George Telles, o representante da Associação Rondoniense de Preservação da Estrada de Ferro Madeira e Mamoré, Anderson Fernandes.

Família Lopes recebeu homenagem pela contribuição do ferroviário Virgílio Lopes

AGRADECIMENTOS

George Telles destacou que, a luta é por fazer o sonho dos ferroviários de ver o trem funcionando outra vez se concretizar. “Essa ação foi feita em conjunto, entre o Governo de Rondônia e as associações dos ferroviários, e a associação vem trabalhando para que haja a abertura novamente da Estrada de Ferro, provocamos o Ministério Público Estadual e Federal, o Governo investiu R$ 2,5 milhões e somado ao recurso de compensação da usina de Santo Antônio está acontecendo as obras, e essa aproximação do Estado é muito importante para trabalharmos a recuperação dos 7,5 km”, salientou.

O presidente da Associação do Ferroviários da Estrada de Ferro Madeira Mamoré lembrou, ainda, de todo empenho do antigo presidente da associação, José Bispo, que foi homenageado in memorian durante o evento. O secretário da Sejucel parabenizou a casa ferroviário e seus familiares, assim também como todas as secretarias e órgãos do Governo envolvidos na realização do evento, especialmente a Secretaria de Cultura e a Fundação Cultural do Estado de Rondônia – Funcer.

FONTE: SECOM/RO

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