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Em uma semana, 1.195 pessoas foram mortas no Brasil

 Monitor da Violência do G1 registrou casos entre os dias 21 a 27 de agosto de 2017; após um ano, mais da metade dos inquéritos continuam abertos.

O programa desta semana doProfissão Repórter tem como base um levantamento inédito e exclusivo do Monitor da Violência, um projeto do G1 em parceria com o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP e com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Durante o último ano, mais de 230 jornalistas do portal de notícias da Globo, espalhados pelo país, continuaram investigando crimes com mortes violentas ocorridos durante os dias 21 a 27 de agosto de 2017.

Entre os 1.195 inquéritos, 687 continuam abertos e menos da metade já tem um autor identificado. Até agora, há 30 casos julgados.

Impunidade na Bahia

O Monitor da Violência aponta que 98 pessoas foram assassinadas na Bahia neste período e, um ano depois, somente 15 desses casos de homicídios chegaram à Justiça. O repórter Caco Barcellos foi ao estado atrás dos familiares das vítimas, da polícia e da Justiça para descobrir o porquê da impunidade.

Na periferia de Salvador foi onde aconteceu a maioria dos casos registrados na Bahia: 31 pessoas foram assassinadas na semana de 21 a 27 de agosto de 2017.

Givaldo de Jesus Oliveira e André Luís da Silva Santos eram conhecidos de uma comunidade em Salvador. Os dois vendiam peixe e empada em um carrinho de mão e foram mortos em frente a um bar na praia da Pedra Furada; um ano depois, a polícia não sabe quem são os assassinos.

Outro caso é de um jovem de 18 anos morto em circunstâncias não conhecidas pela polícia; ele foi assassinado dentro de um banheiro público. “O pessoal diz que pegaram ele, levaram para o banheiro e deram um tiro na cabeça dele”, conta Dinael da Silva, o pai desse menino.

Destes 31 assassinatos, apenas em um único caso os acusados estão presos. A vítima era o agente penitenciário Paulo Sérgio de Souza, que foi morto em um assalto.

“Esse mês de janeiro a agosto [de 2018] nós efetuamos 305 prisões de homicidas e de pessoas que praticaram homicídio. Então o número de prisões é alto. Agora, nós pegamos um período que foi de 21 a 27 de agosto [de 2017] que talvez não tenha sido tão favorável para mostrarmos os nossos dados. Então essa situação, dessa semana foi uma situação atípica”, diz Cleuba Teles, delegada do DHPP de Salvador.

Em uma semana, 98 pessoas foram assassinadas na Bahia; 15 inquéritos chegaram à Justiça.

Caco Barcellos conversou com Davi Gallo Barouh, promotor da Justiça sobre a semana levantada pelo G1, que disse: “Você me traz uma relação de pessoas cujo os inquéritos não chegaram ao conhecimento do Ministério Público. Ou seja, se não passaram por aqui, é porque elas estão na delegacia de polícia ou pior, elas não estão sendo investigadas”.

Fortaleza é a cidade no país com mais mortes na semana monitorada pelo G1

Quarenta e nove pessoas foram assassinadas em Fortaleza entre a semana de 21 a 27 de agosto de 2017; apenas um dele foi dentro da área mais valorizada da cidade. O bairro de Jangurussu foi o que mais registrou mortes; foram sete em quatro dias.

O repórter Guilherme Belarmino foi até o bairro para conhecer a história dessas pessoas. A primeira das sete mortes foi de Sebastião de Souza de 69 anos. Ele estava andando com uma bolsa com dinheiro quando foi abordado por dois homens e baleado. “Na época [que mataram meu pai]. eles foram mortos também. Não sei quem foi. Parece que foi gente deles mesmo que quiseram fazer a vingança pela família, porque não acharam certo o que eles fizeram”, conta Cleide de Souza, filha de Sebastião.

Para Luiz Fábio Paiva, sociólogo do Laboratório de Estudos de Violência/UFC, “os homicídios em Fortaleza estão concentrados nas periferias. Há muito tempo elas sofrem com guerras territoriais. Você tem o grupo do lado A, que não pode andar na comunidade do lado B. E, em geral, eles fazem tocaias e crimes de pistolagem para poder ir matando aqueles que são considerados inimigos”.

No bairro de Jungurussu, quatro pessoas foram assassinadas na mesma rua. Um morador, que pediu para não ser identificado, conta o que sabe: “Só numa tarde mataram dois. Quando foi no outro dia, de madrugada, mataram um e quando foi nove horas mataram uma menina”.

Ana Bianca Santos tinha 14 anos e foi assassinada com 12 tiros. “Aí vinha ela, chorando, né. Sabia que iria morrer. Não tem como, não. Quem vive nesse mundo aí sabe.”

Seu namorado, Francisco Alan Diniz, foi morto algumas horas antes. Segundo o inquérito policial, uma arma calibre 12 foi usada nos dois crimes. O documento diz também que na tarde do dia anterior, teria acontecido o homicídio de dois jovens no quintal da casa de Alan, sendo a mesma motivação: rixa de grupos criminosos; ninguém foi preso pelas mortes.

A Polícia Civil do Ceará diz que resolve, em média, 20% dos casos. “Eu acho que o índice, embora não seja ainda o desejável, é um índice que é considerado satisfatório”, afirma George Monteiro, diretor da Delegacia de Homicídios.

Mato Grosso tem a maior taxa de feminicídio do pais: 4,6 para 100 mil habitante

No Mato Grosso, foram cometidos 13 assassinatos, dois deles foram registrados como feminicídio, o crime de ódio contra a mulher. A repórter Mayara Teixeira foi conhecer a história de mãe e filha mortas pelo companheiro da mãe.

Adriana tinha 41 anos e vivia com Jony há nove. Andressa era filha de outro relacionamento e tinha se mudado para a casa da mãe há poucos meses. Ela tinha 19 anos.

“Ele era presidiário, já. Ele já tinha uma longa passagem, uma ficha corrida grande. Houve duas situações que chegou ao nosso conhecimento em que ele chegou a agredí-la muito forte”, conta João Bosco de Siqueira, irmão de Adriana. “Todas as vezes que eu ou os familiares conversávamos com ela sempre alegava isso, que amava ele.”

O Profissão Repórter teve acesso a uma série de boletins de ocorrência que a Adriana fez na delegacia contra Jony

A delegada Jozirlethe Criveletto conta que nenhum inquérito contra o agressor foi aberto, porque Adriana sempre desistia de levar a denúncia adiante. “Muitas vezes a vítima não consegue enxergar que é um relacionamento destrutivo, que é um relacionamento que pode terminar como terminou, no último grau do ciclo da violência que é o feminicídio.”

Para a socióloga Vânia Pasinato, a Adriana “ficou presa nesse circuito de ir à delegacia denunciar e retornar para a situação de violência por não ter encontrado nesse momento da denúncia um encaminhamento que ajudasse ela a sair da situação de violência. O problema é que essa mulher confiou no Estado, ela procurou uma delegacia da mulher, ela reportou um caso de violência e o Estado, neste caso, através da Delegacia da Mulher foi incapaz de dar um direcionamento para essa mulher que ajudasse ela sair, efetivamente, dessa situação de violência”, diz a socióloga Vânia Pasinato.

“O problema é que essa mulher confiou no Estado (…) que foi incapaz de dar um direcionamento para essa mulher que ajudasse ela sair, efetivamente, dessa situação de violência”

Mãe e filha foram mortas duas semanas depois que Adriana expulsou Jony de casa. Jony foi preso e vai a juri popular por duplo feminicídio. A data do julgamento não foi marcada e a equipe do Profissão Repórternão teve autorização para entrevistá-lo.

FONTE: G1.COM

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