Escolas de São Paulo procuram formas de conter desavenças em sala e entre pais
Os embates políticos que tomaram conta do País em rodas de amigos e encontros familiares também chegaram às escolas e desafiam educadores. Colégios particulares de São Paulo procuram formas de conter desavenças entre alunos e professores e conflitos entre pais com posições ideológicas diferentes.
O colégio Santa Cruz, no Alto de Pinheiros, na zona oeste, encaminhou nesta semana uma carta aos pais e estudantes pedindo o “respeito e diálogo, sem ofensas, medos ou intimidações”. O comunicado foi enviado após a direção ser informada que estavam ocorrendo discussões entre alunos dentro da unidade e entre pais, em grupos de mensagem.
Algumas escolas também passaram a receber reclamações de pais porque resolveram discutir a situação política em sala de aula. “Apesar da maioria entender, alguns querem que o professor seja proibido de falar sobre política ou eleições. Essa discussão faz parte da nossa concepção de formação e desenvolvimento do aluno”, explica o diretor do Colégio Santa Maria, na zona sul, Silvio Freire.
A aposentada Márcia Marolla, de 56 anos, acredita que alguns professores “estão fazendo a cabeça dos jovens” em suas aulas. “Sei que 80% dos que trabalham na escola têm uma ideologia mais à esquerda, que diverge da minha posição. Minha filha tem uma posição forte e não é influenciada nem pela família, mas não sei qual é o impacto nos outros alunos”, diz.
A filha Maria Fernanda, de 16 anos, discorda e diz que os professores dão espaço e liberdade para todos os tipos de pensamento na escola. Ela conta que, na semana passada, um professor fez um comentário irônico sobre o capitalismo e foi questionado. “Todos sabemos que o professor é de esquerda e esse aluno, de direita. Foi uma discussão saudável, com os dois lados sendo respeitados.” Ela, no entanto, diz que se decepcionou ao descobrir em quem alguns professores vão votar nas eleições presidenciais. “É triste descobrir que alguns optaram por um candidato com valores totalmente opostos aos meus.”
Os mesmos questionamentos causaram atritos no Colégio Cantareira, na zona norte, quando os estudantes do ensino médio resolveram perguntar o voto de todos os professores. “Um falou que ia votar no Bolsonaro e os alunos se desencantaram”, conta o coordenador Gilson Donato.
Por outro lado, ele ouviu reclamações de outro grupo de que determinada professora seria petista e “estaria defendendo ladrão”. Segundo Donato, a docente fez um comentário em aula contra o armamento da população e não falou sobre candidatos. “É muito complicado, porque o aluno tem confiança no nosso conhecimento. Se eu me coloco no lado oposto ao dele ou dos pais, pode se perder o vínculo.”
Segundo a educadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Maria Márcia Malavasi, a escola é um reflexo da sociedade e não deve deixar de discutir os temas atuais. “Se essas discussões já tivessem amadurecidas nesse espaço, haveria menos conflitos”, diz.
Ofensas. Uma pichação racista e pró-Bolsonaro em um banheiro do Cursinho Anglo, na região central, fez com que a discussão política fosse levada para a sala de aula mesmo em um período em que o foco está nos vestibulares. “Normalmente, os alunos e os professores não falam sobre política porque estão muito concentrados nas provas. Mas tivemos de entrar nas salas e abordar o assunto porque muitos alunos, negros, mulheres e gays, se sentiram inseguros. Precisamos nos posicionar para garantir tranquilidade a eles”, diz o diretor, Renan Miranda.
FONTE: ESTADÃO CONTEÚDO
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