O indiciamento de 24 militares no inquérito da trama golpista pela Polícia Federal só não monopolizou as discussões dos generais do Alto Comando do Exército que se reuniram na semana passada em Brasília porque também havia uma preocupação grande com as mudanças na previdência dos militares. Mas, diferentemente das alterações nas pensões, que dependem de decisões do Congresso e do Executivo, no caso dos militares o Alto Comando formou um consenso sobre o que fazer.
A decisão dos generais é não abrir nenhum procedimento disciplinar novo contra os indiciados antes da apresentação da denúncia pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, que recebeu na semana passada o relatório final da PF de 884 páginas.
Gonet já sinalizou nos bastidores que só deve apresentar seu parecer sobre o inquérito com os pedidos de denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) no ano que vem, mais provavelmente em fevereiro. O PGR também deve fazer uma única denúncia reunindo os inquéritos da trama golpista, o da falsificação no certificado de vacinação e o das joias sauditas.
No caso do Exército, dos citados nesse relatório só foram punidos até agora três coronéis, dois da ativa e dois da reserva, envolvidos na elaboração da carta para os comandantes das Forças, parte do plano para pressioná-los a aderir ao golpe: Alexandre Castilho Bitencourt da Silva e Anderson Lima de Moura, da ativa, e da reserva Carlos Giovani Delevati Pasini. O coronel da reserva José Otávio Machado Rezo Cardoso, que já foi punido, não está no inquérito do golpe.
Eles responderam à sindicância, que constatou indícios de crime militar. Por isso, foi aberto um inquérito policial militar (IPM), que está parado por conta de uma liminar conseguira pelo coronel Bitencourt.
Questão sensível
Além deles, o tenente-coronel e ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, que ficou preso durante quatro meses e teve revogada a nomeação para o comando do Batalhão de Ações e Comandos em Goiás, mas está afastado das funções por ordem judicial.
A punição interna de militares no caso do golpismo é uma questão sensível para o Exército, não só em razão do corporativismo como também para não voltar a acirrar o clima interno, que já esteve mais dividido mas continua preocupando a cúpula militar.
Além disso, um general de quatro estrelas que participou das discussões diz que a Força já puniu oficiais que não tinham sido nem sequer denunciados, o que ainda pode vir a ser feito desde que haja provas de crimes.
Em tese, isso significa que o Exército estaria sim disposto a cortar na carne – só não está com pressa de fazer isso.
FONTE: O GLOBO
Add Comment