Esporte

Cuca quer Brasileirão “mata-mata” no Palmeiras e repete discurso campeão

Em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com, técnico fala sobre o momento do time, traça planos e sonha completar história interrompida em 1992: “Agora é a hora”

Dia 20 de dezembro de 1992. Cuca entrava em campo pela última vez com a camisa do Palmeiras para encerrar sua curta passagem pelo clube com um vice-campeonato paulista. Por poucos meses, o meia-atacante acabou não fazendo parte daquele histórico elenco que tirou o Verdão da fila em 1993 e marcou época na década de 1990.
Como treinador, o curitibano de 52 anos retornou ao clube no início de março, para substituir o demitido Marcelo Oliveira, sonhando completar a história interrompida com o time do coração. Confiante, ele aposta que o Palmeiras será campeão brasileiro.
– Agora é a hora. É o nosso ano. O que está acontecendo com o Palmeiras hoje é uma coisa muito clara de como está crescendo como clube. O Cuca está falando que é (campeão), mas pode não ser porque é da bola. Mas é iminente. Tem 22 anos que o Palmeiras não ganha (um Brasileiro), está na hora de ter essa nova conquista, fazer uma montagem boa por uma Libertadores melhor do que foi essa. O Palmeiras tem essa condição – disse o treinador, em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com.
Sem tempo e local para pescar, seu passatempo preferido, Cuca aproveita o trabalho intenso na Academia de Futebol para curtir outro hobby: ver futebol. Mas nem isso o faz deixar o Palmeiras em segundo plano. Na última quarta-feira, assistindo aos jogos das oitavas de final da Libertadores, ele decidiu não deixar o CT. Como o trabalho no dia seguinte seria logo pela manhã, o treinador improvisou e dormiu no sofá da sala da comissão técnica.
– Gosto de ver jogo. Assistir futebol e pescar. Como não tem onde pescar aqui, estamos vendo jogo – brincou.

Vivendo intensamente o Palmeiras, Cuca começa a criar laços importantes de confiança com a torcida. Logo após a troca com o Cruzeiro, que mandou Robinho e Lucas para Minas Gerais e trouxe Fabiano e Fabricio para São Paulo, o treinador foi a público explicar o processo e chamar para si a responsabilidade, processo que tem sido comum desde o início do trabalho da atual comissão técnica.

Um exemplo claro aconteceu na Vila Belmiro. Momentos após a eliminação nos pênaltis para o Santos, na semifinal do Paulistão, Cuca chamou a atenção ao afirmar que o Palmeiras será o campeão brasileiro. Para o sonho se transformar em realidade, ele já tem até um plano em mente: fazer do torneio nacional um “mata-mata”.

– Eu não precisava falar. Poderia ficar quieto. Mas nós vamos ser campeões do Brasileirão. Não é demagogia nem ofensa a outro time, é porque nós vamos buscar. Vou conversar com o grupo, eles vão dividir isso comigo. Vai ser jogo a jogo. Vamos fazer do Brasileiro um mata-mata a cada partida – disse.

Retorno ao futebol brasileiro
– Quando saí, eu estava no meu melhor momento, com a conquista da Libertadores no Atlético-MG, dois anos e meio lá ganhando títulos importantes. Um pouco antes tinha vencido com o Cruzeiro também. Vinha de bons trabalhos em grandes clubes do Brasil e veio uma oportunidade no Oriente, que profissionalmente foi muito boa. Fiz dois anos lá e retornei ao Brasil para um grande clube e para um grande centro. Meu trabalho real começa agora, que tenho tempo para trabalhar para fazer ajustes. Por isso alguns (jogadores) saem, outros chegam.

Trabalho na China
– É uma cultura diferente. Quando sai do seu país pro dois anos você se encontra com você mesmo. Teu melhor amigo lá é você, porque está sempre sozinho. Tua família está longe. Lá não tem tio, primo, sobrinho. Lá é o pai, a mãe e um filho. Não tem muito convívio familiar. Nem sabe o que é churrasco. Não existe churrasqueira no prédio. Vai fazer churrasco para três? Eles tem muito o lado pessoal. O chinês pensa muito nele, pensa pouco no lado família. O aprendizado lá, principalmente em termos de paciência e autocontrole, é fantástico. Lá, se você não gostar de você, fica louco. Na China, dificilmente tem o que fazer fora do treinamento. Como não treina o dia inteiro tem de achar alternativas. O que eu encontrei foi aumentar o meu nível de paciência.

O que pesou para ter um rápido acerto com o Palmeiras
– Por ser um grande clube, São Paulo ser um grande centro, por ver que no Palmeiras vamos ter uma condição de montar um time bom para conseguir lutar pelo título brasileiro. O principal de tudo é o Campeonato Brasileiro. Eu falava isso mesmo um pouco antes do Paulista e da Libertadores, que poderíamos buscar esses campeonatos, mas que o objetivo nosso era a regularidade num campeonato de pontos corridos.

Motivos da grande confiança
– Por ter um tempo, ainda que curto, para trabalhar, por poder fazer ajustes na equipe. Quando trocamos um jogador ou outro, sei que não agradamos a todos. Existem críticas em cima disso e temos de assimilar, porque o que vai dizer se o trabalho é bom ou não é o resultado final. Temos de nos preparar com convicção para o resultado final. Meu trabalho está iniciando agora. Houve duas trocas, e vai haver outras, para que a gente fortaleça o nosso time, para que ele tenha um perfil mais ou menos como o torcedor imagina e para fazermos um grande campeonato.

Reformulação
– Vamos fazer uma remontagem dentro do que pudermos para que dar um equilíbrio maior no time em termos de características. Gosto de um time rápido, com alternativas de mudanças de posição dentro dos 11. Estamos em busca disso. É começar bem o Brasileiro, com um elenco um pouco mais enxuto para ter o grupo mais na mão. Julho e agosto são meses que decidem o Brasileiro, são nove jogos. Você precisa ter um elenco na mão e não apenas no time. Estamos buscando isso.

Final do Paulistão contra o Santos

– Não jogamos bem lá. Fomos envolvidos, principalmente no primeiro. Depois até equilibramos o jogo, mas no primeiro tempo, sentimos. O Santos sabe jogar na Vila e sabe tirar proveito do campo dele como poucos no Brasil. Campo rápido, molhado, torcida em cima, é um jogo muito difícil para um time jovem como era naquela tarde. Ainda fomos buscar o 2 a 2, quase que inesperado por todos, e poderíamos ter vencido nos pênaltis. Mas achei justo o Santos passar pelo o que ele fez ao longo do campeonato e no jogo também.

Comemoração e expulsão na Vila

– A risca está aqui (aponta para baixo, na linha lateral). Você fica ali (no alambrado), a um metro e meio, que é a tua área. Você faz um gol aos 42 e outro aos 44, e não pode dar uma corrida para dar uma vibrada? É falta de bom senso. Quem te expulsa é um cara que não tem vivência em campo, que não sabe o que é fazer dois gols quase que impossíveis. E você sem fazer mal para ninguém. Eu falei que vibraria de novo. Como não vou vibrar? Você é movido a sangue. Fiz isso no Atlético-MG na Libertadores inteira. Lá todos tiveram coerência, não fui expulso em nenhum jogo, mas eram todos em casa. Se fosse no Allianz Parque ele não me expulsaria.

Em 1992, como jogador do Palmeiras, também foi expulso na comemoração de um gol
– Foi contra o Bragantino. Um escanteio, o Maurílio bateu. Subi de cabeça e fiz. Estava chovendo. Era minuto 40, e fazia tempo que o Palmeiras não ganhava do Bragantino. Eles tinham perdido uns gols antes. Quando eu fiz aquele gol eu corri para a torcida, não pensei em sair expulso. Mas valeu a pena.

Relacionamento com a torcida
– Outro dia teve uma invasão da torcida aqui. Eram quase cem torcedores. Fui lá ver o que eles queriam, para ver que aqui ninguém está fugindo do problema. Foi legal, foi bacana. Ficou um clima ruim porque eles entraram sem pedir, mas o tratamento deles aqui foi bom. Daquele dia para cá as coisas melhoraram. Eles ficaram um tempo sem torcer, quando eles pegaram contra o Rio Claro ganhamos o jogo. Um time sem a torcida não é um time ideal.

Período de treinos antes do Brasileirão
– Se você está na final do Paulista estaria hoje arrumando o time para a final. Não teria feito algumas mudanças que já foram feitas. Do lado ruim você tem de tirar alguma coisa boa. Vamos trabalhar bem para começar o Brasileiro com o tanque cheio.

Uma concentração no interior muda o time?
– Muda porque lá é você os jogadores. Você vai estar ali de manhã, de tarde e de noite, não vai fazer outra coisa a não ser interagir, ter um convívio maior. Lá vamos trabalhar em dois períodos. É ali que tuas ideias vão ser expostas, trabalhadas, incentivadas e entendidas pelos jogadores.

Cuca e Alexandre Mattos, coletiva Palmeiras (Foto: Agência Estado)
Cuca e Mattos na apresentação do treinador, em março (Foto: Agência Estado)

Trabalhar com Alexandre Mattos (em 2014, ainda como técnico do Shandong, Cuca brincou chamando o dirigente de “malucão”)
– O Alexandre tem 39 anos, ele é mais novo que eu quando estava no São Paulo doze anos atrás. Ele vai fazer muita coisa que eu fazia naquele tempo. Hoje eu tenho de dar uma controlada no Alexandre porque ele é mais rápido, eu estou mais lento (risos). Acho que ele vai me completar, e eu vou poder ajudar bastante também. Lógico que tem divergências e vão acontecer problemas naturais que vamos corrigindo.

Relacionamento com o elenco
– Eu confesso que antigamente era mais próximo dos jogadores. A tua experiência de vida vai te deixando um pouco mais longe, ao natural. Eles têm o mundo deles. Que eles te vejam como treinador. Não pode participar de tudo o que eles fazem. Às vezes, eles têm de te procurar; em  outras, você tem de ir ao encontro deles. Mas tem de ter uma distância, é importante.

Contrato até dezembro
– Vamos ver o que acontece. Não estou me preparando para ganhar o ano que vem. Estou me preparando para ganhar neste ano. Sei que quando nos preparamos para ganhar e não ganhamos tem uma queda grande nas minhas costas, de responsabilidade. Não penso em perder, penso em fazer um grande ano e ganhar.

Metas no Brasileirão
– Já fiz isso, mas trocava toda hora porque caía. De 12 era para fazer nove e fazia cinco. E agora? Vamos bolar outra, e os jogadores: “Hum, de novo?”… É mata-mata. Os três primeiros pontos que temos de ganhar. Luxemburgo gostava de fazer esses projetos pequenos dentro de um campeonato grande, mas o meu projeto é jogo a jogo.

Canto especial da torcida
– Alguns torcedores devem ter me visto jogar, mas acho que poucos. Talvez outra geração. Para mim é gostoso. É um prazer enorme fazer um gol num jogo. É aquele barulho inteiro na tua cabeça, milhares pessoas gritando, arrepia até hoje. Só dentro do campo o cara sente. Às vezes, você comemora com a Mancha, com o banco, com o treinador, com alguém que é mais teu amigo, diretor, dedica para alguém… Hoje tem muito coraçãozinho, né? É uma coisa maravilhosa poder fazer um gol. Quando eles cantam “Ole ole ola Cuca Cuca” eu volto lá atrás. Eu gosto (risos).

 

 

 

 

Fonte: globoesporte

 

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Gomes Oliveira

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