Fiscalização localizou 15,7 toneladas de droga entre 20 de março e 19 de abril; para conter propagação da Covid-19, autoridades só permitem entrada de veículos de carga com documentação comprovada
O fechamento das fronteiras do Brasil com países vizinhos na América do Sul, determinado há pouco mais de um mês em razão da pandemia do novo coronavírus, foi insuficiente para barrar a plena atividade de grupos criminosos que operam o tráfico transnacional de drogas, o contrabando de cigarros e o mercado de veículos roubados nas divisas com Colômbia, Venezuela, Peru, Bolívia e Paraguai. Dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública revelam que, no primeiro mês de fechamento das fronteiras, houve, na verdade, um aumento de flagrantes dessas atividades criminosas.
Com o bloqueio determinado pelo governo brasileiro, estrangeiros antes com livre acesso ao país não entram mais. A passagem é concedida apenas a transportadores de cargas, com origem e documentação comprovadas.
A primeira portaria que determinou o fechamento das fronteiras com os países vizinhos foi publicada em 19 de março. Leva a assinatura dos ex-ministros da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, além do ministro da Casa Civil, Braga Neto.
Nos 30 dias seguintes, entre 20 de março e 19 de abril, forças policiais que atuam no Programa Nacional de Segurança nas Fronteiras, o Vigia, intensificaram a fiscalização e apreenderam 15,7 toneladas de drogas, conforme os dados compilados pela equipe do programa. Três meses atrás, no mesmo período, foram confiscadas 14,1 toneladas. O aumento foi de 11%. Já no mês imediatamente anterior, o total apreendido foi de 11,5 toneladas.
Lotes de cigarros
A mesma tendência ocorreu com o contrabando de cigarros. Nos 30 dias posteriores ao fechamento das fronteiras, policiais e militares das Forças Armadas apreenderam 6,7 milhões de maços de cigarro. É mais do que o dobro do que o registrado no mesmo período três meses atrás. Já em relação ao mês anterior, o aumento foi de 36%. A ação de vigilância na fronteira também resultou em mais apreensões de carros e embarcações roubados do que se verificava três meses atrás.
O programa Vigia foi lançado há um ano. Foi a principal ação de Moro na área de segurança nas fronteiras. O ex-juiz federal é agora ex-ministro da Justiça e Segurança Pública. Ele pediu demissão nesta sexta-feira em razão das ingerências do presidente Jair Bolsonaro na cúpula da Polícia Federal (PF).
“O crime não respeita a quarentena”, resume o coordenador-geral de Fronteiras da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça, Eduardo Bettini.
Combustível para garimpo
Durante o isolamento social, adotado na pandemia do novo coronavírus, também foram apreendidos 40 mil litros de combustível, em duas balsas, que se destinavam a áreas de garimpo no Amazonas. As ações do Vigia no período incluem ainda a prisão de 45 paraguaios que entravam e saíam, mesmo com o fechamento da fronteira, para transportar três toneladas de alimentos. Na visão das forças policiais, eles desrespeitaram as portarias que determinaram a interrupção do fluxo de pessoas nessas áreas.
“Um oportunismo se abre em momentos de crise. Existe um entendimento desses grupos criminosos de que pode haver um caos da fiscalização nas fronteiras”, afirma Bettini.
O Vigia não reúne todas as ações de combate ao crime nessas regiões limítrofes, mas é o principal programa adotado para fronteiras na finada gestão de Moro à frente do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O reforço nas barreiras sanitárias, em razão da pandemia, também explica o aumento de flagrantes das atividades criminosas, segundo o coordenador-geral.
Skank e cocaína
Somente no Amazonas, policiais apreenderam 2 toneladas de skank e cocaína negra — um tipo raro do pó, segundo a polícia — num intervalo de dez dias, em ações que envolveram policiais civis, policiais federais e militares do Exército. Num único dia, 1,3 tonelada de maconha foi retida em Mato Grosso do Sul. Em Mato Grosso, foram apreendidos carros roubados que se dirigiam à Bolívia, para intercâmbio por drogas. E no Paraná, PF e Exército apreenderam maços de cigarro transportados num barco.
O Vigia monitora fronteiras nos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rondônia, Acre e Amazonas. Ainda neste mês, começam atividades no Rio Grande do Sul. Depois, será a vez de Pará e Amapá.
FONTE: ÉPOCA
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