Se você já viu a série Black Mirror, com certeza se recorda de um episódio que tem como tema uma futurística tecnologia em que os seres humanos contam com um dispositivo no olho para acessar memórias de toda sua vida. É mais ou menos isso que um neurocientista está buscando: uma memória muito mais potente para nós.
Segundo o site Wired, é Theodore Berger, um engenheiro biomédico da Universidade do Sul da Califórnia, quem está por trás da tentativa. O cientista não promete o mesmo nível de eficácia do dispositivo da série – pode até ser maior -, mas trabalha na busca de uma prótese para a memória.
O dispositivo seria implantado cirurgicamente no cérebro, imitando a função do hipocampo, principal sede de nossa memória no cérebro, ao estimular eletricamente o cérebro de um jeito que forme memórias. Já houve testes positivos em ratos e macacos – agora, busca um que poderia ser usado em seres humanos.
A teoria de Berger passa pelo ponto principal da ideia de como o hipocampo transforma memórias de curto prazo em memórias de longo prazo. Nos primeiros testes, ele tocou um tom e depois espirrou ar na cara de um coelho, fazendo ele piscar. Depois, os coelhos passaram a piscar apenas ao som do tom. Enquanto isso, a atividade do hipocampo era gravada com eletrodos.
“O hipocampo estava sendo estimulado pelo treinamento e foi ativamente modificando seus padrões. Enquanto o código de espaço-tempo propagava em diferentes camadas do hipocampo, ele gradualmente foi modificado em um diferente código. Nós não entendemos o motivo, mas o código é o que o resto do cérebro reconhece e usa como memória de longo prazo”, diz Gregory Clark, antigo mentor de Berger na Universidade de Utah.
O código representa a memória que o resto do cérebro usa como sinal. E Theodore Berger, segundo a Wired, afirma que foi capaz de modelar matematicamente a regra geral que o hipocampo usa para converter memória de curto prazo em memórias de longo prazo. Com isso, construiu em ratos um hipocampo artificial.
A experiência passou por testes em ratos, para os quais foi construído um hipocampo artificial. A experiência ajudou a modelar os dados matemáticos do código de espaço-tempo. Depois dos primeiros testes e padrões, Berger deu aos ratos uma droga que bloqueava a formação de memória. Foi então que foi usado o dispositivo que estimulava eletricamente o cérebro com os códigos do modelo – os ratos ainda assim completaram o teste de memória.
“Eles se lembram do código como se eles mesmo tivessem criado. Agora estamos colocando a memória de volta no cérebro”, afirmou Berger.
O cientista também experimentou a prótese em um macaco no córtex pré-frontal e conseguiu trazer um ganho de memória no animal. Mas a experiência pode funcionar em seres humanos?
“Todas essas próteses têm um desafio fundamental. Existem bilhões de neurônios no cérebro e trilhões de conexões entre eles. Tentar achar uma tecnologia que vai entrar naquela massa de neurônios e ser capaz de se conectar com eles em um nível alto será difícil”
Dustin Tyler, professor de engenharia na Case Western Reserve University
Até implantes cocleares, utilizado em pessoas com problemas de audição, não conseguem imitar o som perfeitamente. Os cientistas ainda estão longe de simular memórias inteiras, com todas suas entradas sensoriais e especialmente utilizando um código elétrico com apenas cerca de 100 eletrodos.
No meio disso tudo, já surgiu até uma empresa interessada no produto: a startup Kernel quer divulgar o dispositivo por enquanto como um aparelho médico que pode ajudar memórias prejudicadas – testes iniciais da equipe de Berger já mostraram sucesso para este dispositivo mais simples. O objetivo futuro do CEO da empresa, contudo, é produzir dispositivos que aumentem a inteligência humana em áreas como atenção, criatividade e foco.
Se tudo isso vai ser real, não sabemos. Mas, se acontecer, prepare-se para soltar a frase que foi alardeada nos últimos tempos: “isso é tão Black Mirror!”.
Fonte: Uol
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