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Brasil vive ameaça de varíola do macaco ainda sem protocolo e insumos para testar casos suspeitos

Doença já foi detectada em dezenas de países, desde a Europa até a Oceania; prioridade é ter insumos para diagnóstico e orientar profissionais de saúde

Os casos confirmados de varíola do macaco, ou varíola símia, já passam de duas centenas em mais de 20 países, juntamente com outras dezenas de suspeitas. A doença acendeu o sinal de alerta na OMS (Organização Mundial da Saúde) porque nunca havia aparecido nessa proporção fora da África, onde em muitos países é endêmica (constantemente registrada). 

O Brasil, todavia, ainda não tem protocolos definidos para testagem e isolamento de casos suspeitos que possam surgir por aqui, tampouco insumos necessários para disponibilizar testes, caso sejam necessários. 

Quando aconteciam casos fora do continente, davam-se a partir do contato com um animal silvestre após viagem aos lugares onde a doença está presente ou com animal silvestre tirado da natureza e levado para o contato humano.

No surto desta vez, que começou há cerca de um mês na Europa, a velocidade de transmissão é diferente, e o surgimento em lugares distantes intriga os pesquisadores.

“É um comportamento diferente do que vimos no passado quando esse vírus saiu da África. Estamos vendo um espalhamento rápido, tanto em termos espaciais quanto em número de registros de caso. Realmente isso é atípico, chama a nossa atenção”, explica Giliane Trindade, virologista e professora do Departamento de Microbiologia no Instituto de Ciências Biológicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). 

Pensando nisso, o Ministério da Saúde e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) criaram grupos de trabalho para desenvolver protocolos e procedimentos para possível chegada da doença ao Brasil. 

A virologista, que também faz parte da Câmara Técnica Temporária – CâmaraPox MCTI, é taxativa ao afirmar que o país tem recursos humanos e técnicos para diagnosticar a doença, mas a preocupação é com insumos específicos para detectar esse vírus especificamente.

“O Brasil tem total condição de atender e está preparado, na medida que a gente tem pessoal capacitado e laboratórios equipados. Agora, a gente realmente está entendendo quais serão os protocolos laboratoriais, para a gente poder fazer o pedido de insumos. Porque os insumos desse tipo, as ferramentas moleculares específicas, a gente não tinha. Não é um diagnóstico que faz parte da nossa rotina. Ninguém aqui chega a um laboratório e pede: quero fazer um exame para monkeypox [nome da doença em inglês], por que não é um vírus de circulação natural do Brasil”, afirma Giliane. 

O infectologista José Ângelo Lindoso, coordenador do Grupo de Doenças Negligenciadas do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, tem a mesma preocupação.

“O diagnóstico é feito por meio do reconhecimento do DNA viral, por meio do teste PCR, ou por meio de outra técnica de sequenciamento. Mas isso não está disponível para o Brasil inteiro. Talvez tenha no HC [Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo], Emílio Ribas e no Instituto de Medicina Tropical da USP [centros de referência]. Esses lugares têm mais chances de fazer um diagnóstico rápido”, diz o médico. 

Além de coleta via swab (cotonete estéril) das lesões, que são ricas em materiais virais, a doença pode ser diagnosticada por exames de sangue feitos no começo dos sintomas, quando o vírus circula pela corrente sanguínea. 

Orientação para profissionais de saúde

Após a disponibilização de insumos, a orientação dos profissionais de saúde deve estar entre as prioridades das autoridades de saúde.

“É uma doença extremamente desconhecida para 90% dos profissionais de saúde do mundo inteiro. A primeira coisa que temos de fazer é sensibilizar logo todos os profissionais de saúde”, ressalta Lindoso.

O Ministério da Saúde encaminhou a todos os estados um comunicado de risco com orientações aos profissionais de saúde e informações disponíveis até o momento sobre a doença.

“É fundamental alertar da ocorrência e o que deve ser feito imediatamente. Como estamos em pandemia, acabamos atendendo com roupas de hospital, com máscara. Em uma situação dessas é importante fazer a precaução com luva e avental que a gente usa, atender o paciente e depois descartar [os equipamentos]”, alerta o infectologista.

Por enquanto, na América do Sul, apenas a Argentina investiga uma pessoa com suspeita da doença. Mas já há registros de infectados na Europa, América do Norte, Oceania e Ásia. A OMS considera o pior surto do vírus fora da África. 

A partir do aparecimento de um caso suspeito, a indicação é que os profissionais coloquem a pessoa em isolamento.

“É uma doença que não tem tratamento específico. Então, o paciente chega com alguma suspeita, já é necessário deixá-lo isolado e tentar fazer o diagnóstico, o mais precocemente possível, e tentar fazer a orientação para o paciente em relação ao que ele deve ter de cuidado em relação ao contato com outras pessoas para evitar a transmissão”, pontua Lindoso. 

Giliane Trindade completa: “Se tiver um caso suspeito, ele tem de ser notificado para o Ministério da Saúde, e o material do suspeito vai ser coletado por médicos ou enfermeiros devidamente paramentados e esse material vai ser encaminhado para o Lacen (Laboratórios Centrais) de cada estado para poder fazer o diagnóstico. Lá, eles vão redirecionar para os laboratórios que terão condições de atender nesse período de diagnósticos.” 

Qual é o período de isolamento?

A partir da suspeita e do diagnóstico positivo, a orientação é o paciente ficar em isolamento de três a quatro semanas ou enquanto tiver lesões no corpo. 

“O ideal é que a pessoa fique em isolamento até as feridas secarem e, de preferência, as casquinhas da cicatrização caírem. Essas crostas têm vírus, mesmo que a pessoa [saudável] não tenha contato com a crosta ou com a pele desse indivíduo [doente], onde ele sentar, encostar, ele está deixando partículas virais e vai transmitir a doença”, destaca Giliane.

Produção de vacina no Brasil

O Instituto Butantan, um dos principais produtores de vacina do Brasil, também criou um grupo de trabalho para avaliar a disseminação do vírus da varíola do macaco no cenário mundial e uma possível confirmação de casos em território nacional.

O grupo está na fase de estudar a doença e avaliar as vacinas disponíveis no mercado, que são poucas e produzidas em pequena escala.

A vacina produzida contra a varíola tradicional, que foi declarada erradicada no mundo em 1980, tem considerável eficácia (cerca de 85%) contra a varíola do macaco. Porém, o imunizante não é mais produzido e “usava uma tecnologia que, talvez, não caiba mais com o atual contexto tecnológico”, informou em comunicado o Butantan.

Caso seja necessário, o instituto se comprometeou a produzir uma nova vacina. Vale destacar que a OMS afirmou na última segunda-feira (23) que não vê a necessidade de imunização em massa da população.

Além de conferir proteção antes da exposição, o imunizante pode ser usado em pessoas já infectadas. 

Alguma pessoa tem mais risco de ter a varíola do macaco?

Vale ressaltar que não há, comprovadamente, nenhum grupo ou faixa etária que apresente risco maior de ser infectado. A preocupação maior é com pessoas que têm problemas no sistema imune, cuidado que existe no caso de qualquer doença infecciosa.

“Não tem um grupo de risco. Não tem faixa etária que é mais possível ser infectado. As únicas pessoas que nós consideramos de grande risco são os imunossuprimidos. Com esses, temos de ter muito cuidado. Todo imunossuprimido é grupo de risco para qualquer doença infectocontagiosa”, conclui a virologista Giliane Trindade. 

FONTE: R7.COM

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