O universo representa 4% da população economicamente ativa brasileira (com idade igual ou superior a 18 anos)
Sete milhões de brasileiros eram parte de um grupo duplamente vulnerável à crise do coronavírus, sob a ótica da realidade brasileira em 2013 (último ano para o qual há dados disponíveis).
Do lado econômico, trabalhavam como autônomos; no âmbito da saúde, tinham doenças crônicas, que aumentam os riscos em caso de infecção.O número foi estimado pelo IEPS (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde), que tem entre seus fundadores o economista e ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga.
“Os resultados mostram que essa sobreposição existe e é grande. Sete milhões de pessoas é mais do que a população atual da Dinamarca [5,8 milhões]”, diz o economista Rudi Rocha, diretor do IEPS.O universo representa 4% da população economicamente ativa brasileira (com idade igual ou superior a 18 anos).
O estudo se baseou em dados da Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE e tem ainda, como coautores, Beatriz Rache, Letícia Nunes e Miguel Lago.Rocha ressalta que, embora não sejam recentes, os dados oferecem um retrato que deve ter permanecido condizente com a realidade brasileira. Nos últimos anos, na esteira da recessão, seguida de lenta recuperação, o número de brasileiros atuando na informalidade aumentou bastante.
Mais da metade dos 7 milhões de autônomos portadores de doenças crônicas possuíam só o ensino fundamental e seu rendimento mensal com o trabalho (em valores atualizados de 2019) era de R$ 1.713.
As enfermidades consideradas na análise foram hipertensão, diabetes, insuficiência renal e doenças no pulmão.
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“Não há dúvida que essa é uma parcela da população muito vulnerável à crise atual. São pessoas que precisam sair para trabalhar, embora tenham a saúde frágil”, diz. Uma evidência disso é que 14% relataram ter precisado se afastar tempor
ariamente do trabalho em um período anterior próximo à pesquisa; 53% disseram considerar sua saúde regular ou ruim. A vulnerabilidade socioeconômica do grupo ainda é reforçada pelo fato de que apenas 22% possuíam plano de saúde.
A grande sobreposição entre vulnerabilidade em saúde e no mercado de trabalho demanda, segundo especialistas, que o governo tome medidas voltadas especificamente para proteger esse grupo na crise.
Evidências mostram que a Covid-19 é muito mais letal entre idosos e portadores de doenças crônicas. O estudo do IEPS indica que o número de idosos entre os conta própria também é elevado: em 2013, representava 2% da população economicamente ativa (cerca de 3,5 milhões de brasileiros).
Embora o governo tenha falado sobre a necessidade de proteger esses grupos, especialistas sentem falta de medidas efetivas nessa direção. “A largada no anúncio de medidas só contemplava o setor formal”, diz Rocha.
“A equipe econômica tem nos dito, em conversas, que virão medidas. Estamos esperando”, afirma Tony Volpon, economista-chefe do UBS.
“Para muitos desses trabalhadores informais e pequenas empresas, daqui a um mês será tarde demais”. Volpon afirma que a magnitude da crise requer, além de rapidez, criatividade e planejamento.
Uma dificuldade que o governo enfrentará será o mapeamento dos informais; só parte deles está nos cadastros de beneficiários de programas sociais.
FONTE: FOLHAPRESS
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