No Paraná, estado com maior número de casos, comunidades se organizam para tentar se livrar dos efeitos dos venenos
O agrotóxico é uma ferramenta de trabalho comum na agricultura, mas esses produtos podem ser perigosos e muitas vezes são usados de maneira errada. De 2007 a 2017, data do último levantamento oficial, foram notificados cerca de 40 mil casos de intoxicação aguda por causa deles. Quase 1.900 pessoas morreram.
Segundo maior produtor de grãos do país, o Paraná é o estado com o maior número de casos relatados – e também o que tem o sistema mais eficiente de notificações.
Muitas comunidades paranaenses estão se organizando para tentar se livrar dos efeitos dos venenos agrícolas. Em alguns casos, ele chega pelo ar.
Luiziana se tornou um dos primeiros municípios do Paraná a fazer valer uma lei que impõe regras para o uso de agrotóxicos ao redor da cidade.
A regra entrou em vigor no final de 2017 e determina que os agricultores que quiserem produzir perto de núcleos habitacionais têm que implantar “cortinas verdes”.
O agricultor até pode produzir nesta área, desde que não use veneno.
Fazer a barreira é opcional, mas, sem ela, é proibido usar agrotóxico numa faixa de 100 metros da cidade.
Na frente do hospital
Campo Mourão tem um caso semelhante. A Santa Casa, que abriga também um centro de tratamento de câncer e uma maternidade, fica em frente a uma imensa lavoura que também usa agrotóxico.
O Ministério Público está notificando os agricultores sobre uma lei que a cidade tem desde 1997, que proíbe a aplicação de veneno a 100 metros de qualquer núcleo habitacional.
A fazenda perto da Santa Casa pertence a José Luiz Gurgel e ao filho dele, Luiz Gustavo, ambos advogados. Segundo eles, a área onde está a o hospital pertencia à propriedade e foi doada pela família.
Luiz Gustavo não concorda com a proibição: “O agrotóxico que se passava aqui em hipótese alguma causou prejuízo para qualquer criança que nasça aqui. Os meus filhos nasceram aqui na Santa Casa”.
Apesar disso, ele afirma que cumprirá a lei. “Nós vamos trabalhar 100% com produtos orgânicos, sem agrotóxicos”, afirma. “Se, infelizmente, nós tivermos alguma praga que não se mate sem agrotóxicos, nós vamos ter que tombar a terra, acabar com a produção e depois cobrar, logicamente, de quem for necessário”, diz.
É possível produzir sem agrotóxico?
Na safra 2017/ 2018 o país produziu cerca de 228 milhões de toneladas de grãos. E consumiu quase 500 mil toneladas de agrotóxicos em 2017, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Ele explica que o modelo de agricultura intensiva, praticado no mundo todo desde o final da Segunda Guerra mundial, fez crescer a produção global de alimentos. E trouxe junto com ele a necessidade de combater pragas e doenças que atacam as lavouras.
Ranking
Para a Andef – entidade formada pelas indústrias que desenvolvem e fabricam agrotóxicos –, o uso desses produtos no país é eficiente.
“Se a gente olha por tonelada de produto extraída da área onde foi aplicado, o Brasil é o 13º. A gente deixa para trás países como os Estados Unidos, Canadá, países europeus como a Inglaterra, Alemanha, a própria França. Isso mostra eficiência na utilização dessa tecnologia aqui.”
Os dados da Andef mostram que, em média, o Brasil gasta menos de R$ 35 para produzir uma tonelada de alimentos. Os EUA gastam R$ 44. E no Japão, primeiro colocado neste ranking, o valor é de R$ 372.
Segundo Zuben, atualmente não seria possível eliminar o agrotóxico do processo de produção. “Nós traríamos uma crise mundial de alimentos. De fome”, avalia.
Em 2017, o mercado de agrotóxicos movimentou mais de R$ 33 bilhões no Brasil. Os campeões de venda são os herbicidas, usados principalmente na cultura da soja. Em seguida, vêm fungicidas e inseticidas.
FONTE: G1.COM
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