Ouça os diálogos usados pela PF em relatório que apontou indícios de corrupção de Temer
Após concluir o inquérito que apontou indícios de recebimento de propina da Odebrecht pelo presidente Michel Temer, a Polícia Federal (PF) anexou na investigação que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) quatro arquivos de áudio que contém diálogos entre entregadores de dinheiro a serviço da empreiteira e o coronel João Baptista Lima Filho, amigo do emedebista e citado por delatores como seu captador financeiro (ouça os áudios e leia as transcrições ao fim da reportagem).
O GLOBO teve acesso à íntegra dos áudios, gravados pelos funcionários da Hoya Corretora de Valores, empresa do doleiro Álvaro Novis, responsável por fazer entregas de dinheiro a políticos a mando da Odebrecht. A empresa gravava automaticamente os telefonemas dos seus funcionários e, posteriormente, Novis entregou o material aos investigadores, como parte de sua delação premiada.
De acordo com as investigações, executivos da Odebrecht participaram de um jantar no Palácio do Jaburu, residência oficial de Temer, em 2014, para acertar o repasse de R$ 10 milhões da empreiteira ao partido naquele ano. Desse total, R$ 1,4 milhão teria sido entregue a Michel Temer por meio do coronel Lima. Os demais foram distribuídos para outros emedebistas.
Para a Polícia Federal, os diálogos entre os entregadores e o coronel Lima utilizam códigos como referência às entregas de propina. No primeiro deles, o funcionário da corretora fala sobre entregar uma “encomenda”. Em outro diálogo, o coronel Lima reclama que o valor das “atas” estava abaixo do previsto, o que segundo a PF seria uma referência ao valor de propina.
Procurado para comentar os áudios, o Palácio do Planalto afirmou que “não comentaria interpretações que não se baseiam em fatos; são apenas fantasias”. Após a divulgação do relatório, na semana passada, Temer afirmou em nota que “a investigação se mostra a mais absoluta perseguição ao presidente, ofendendo aos princípios mais elementares da conexão entre causa e efeito”. O presidente classificou como um “atentado à lógica e à cronologia dos fatos” a conclusão do inquérito.
Também na semana passada, a defesa do coronel Lima afirma “inexistir a prática ou participação de seu cliente em conduta ilícita e cometimento de qualquer irregularidade”.
De acordo com as investigações, executivos da Odebrecht participaram de um jantar no Palácio do Jaburu, residência oficial de Temer, em 2014, para acertar o repasse de R$ 10 milhões da empreiteira ao partido naquele ano. Desse total, R$ 1,4 milhão teria sido entregue a Michel Temer por meio do coronel Lima. Os demais foram distribuídos para outros emedebistas.
Para a Polícia Federal, os diálogos entre os entregadores e o coronel Lima utilizam códigos como referência às entregas de propina. No primeiro deles, o funcionário da corretora fala sobre entregar uma “encomenda”. Em outro diálogo, o coronel Lima reclama que o valor das “atas” estava abaixo do previsto, o que segundo a PF seria uma referência ao valor de propina.
Procurado para comentar os áudios, o Palácio do Planalto afirmou que “não comentaria interpretações que não se baseiam em fatos; são apenas fantasias”. Após a divulgação do relatório, na semana passada, Temer afirmou em nota que “a investigação se mostra a mais absoluta perseguição ao presidente, ofendendo aos princípios mais elementares da conexão entre causa e efeito”. O presidente classificou como um “atentado à lógica e à cronologia dos fatos” a conclusão do inquérito.
Também na semana passada, a defesa do coronel Lima afirma “inexistir a prática ou participação de seu cliente em conduta ilícita e cometimento de qualquer irregularidade”.
19 de março de 2014, às 10h25 – João Baptista Lima e Edimar Moreira Dantas, funcionário da Hoya Corretora de Valores
Na primeira conversa, o funcionário da corretora de valores procura saber se o coronel Lima está no local combinado para a entrega do dinheiro, segundo a PF.
JOÃO – Alô?
EDIMAR – Seu João?
JOÃO – Ele mesmo.
EDIMAR – Meu pessoal tá ai … o senhor já tá no local da … aquela encomenda?
JOÃO – Não! Eu tô fora. Não… nós não falamos antes. Eu tô ai com uns compromissos agora. Eu só vou estar lá na minha base por volta das 14:30. Como é que o senhor vê ai? Dá pra passar às 14:30?
EDIMAR – Eu vou ver aqui e retorno. O senhor tá longe de lá, né?
JOÃO – Estou longe. Eu tô aqui pro lado de Santo Amaro, viu? E … ai com um compromisso que eu não posso deixar de atender, viu? Então 14:30, 15 horas é que eu tô chegando lá na minha base.
EDIMAR – Então vou ver se consigo marcar para as 15 horas. Qualquer coisa…
JOÃO – O senhor faz o favor, me dá uma ligada, fá bom?
EDIMAR – Tá bom, tchau!
JOÃO – Obrigado!
19 de março de 2014, às 11h37 – João Baptista Lima e Márcio José Freira do Amaral, funcionário da Hoya Corretora de Valores:
Após o primeiro desencontro, um outro funcionário da Hoya telefona para o coronel Lima para combinar um novo horário, segundo a PF.
JOÃO – Alô?
MÁRCIO – Senhor João?
JOÃO – Ele mesmo!
MÁRCIO – Ah, sim! Bom dia!
JOÃO- Tudo bem!
MÁRCIO – Bem. Hoje então aquela reunião foi adiada, né? Vai ser entre 3 e
5 horas. Das 15 às 17 .
JOÃO – Ok. Tô por lá nesse horário.
MÁRCIO – Tá. Só que nós temos 3 etapas dessa reunião, que vai ser 5ª e 6ª feira. Agora, 5ª e 6ª eu gos … bem, eu queria ver com o senhor se pode ser entre 10 e 12 horas,
Na 5ª e na 6ª?
JOÃO – Veja se vocês podem me fazer isso daí às 12 horas. Eu faço de tudo para tá às 12 horas. É possível?
MÁRCIO – De 12 … vamo marcar então de … é que tem sempre que dar um espaço de tempo, de 12 até que horas, mais ou menos?
JOÃO – 12 às 13, tudo bem?
MÁRCIO-12 às 13. Nos dois dias?
JOÃO-12 às 13. Nos dois dias
MÁRCIO – Então tá combinado
JOÃO – Combinado, um abraço!
MÁRCIO – Grande abraço, até logo!
JOÃO – Outro! Tchau!
19 de março de 2014, às 15h54 – João Baptista Lima e Márcio José Freira do Amaral, funcionário da Hoya Corretora de Valores:
O funcionário da corretora de valores precisa telefonar ao coronel porque, segundo a PF, ele não havia fornecido a senha combinada para recebimento do dinheiro.
JOÃO – Aló?
MARCIO – João?
JOÃO- Ele
MARCIO – É o Márcio aqui. Tudo bem?
JOÃO- Tudo bem!
MARCIO – Meu pessoal tá aí com você?
JOÃO – Tá aqui. Ok e … conforme combinamos .
MARCIO – Ah, tá. Porque eles disseram que você não sabia o nome, né?
JOÃO – Então, não houve um nome … só ficou nessa base do ok, .. e nada mais, ok e … só isso!
MARCIO – Tá. Ok! Beleza!
JOÃO – Ok, reunião confirmada, só isso!
MARCIO – Tá, muito obrigado!
JOÃO – Obrigado a você. Tchau!
MARCIO – Um abraço! Tchau!
24 de março de 2014, às 15h37 – João Baptista Lima e Márcio José Freira do Amaral, funcionário da Hoya Corretora de Valores:
Dias após as entregas, o coronel Lima busca saber se haveria novos repasses, na avaliação da PF.
JOÃO – Alô?
MÁRCIO – João?
JOÃO – Ele
MÁRCIO – Opa! Aqui é o Márcio. Tudo bom?
JOÃO – Tudo bem, Márcio
MÁRCIO – Eu recebi um recado aqui, sinceramente não tô entendendo, acho que a pessoa tá se expressando mal aqui, eu não tô entendendo. É … nós tivemos 3 reuniões: quarta, quinta e sexta. Fiz uma na quarta, fiz na quinta, e na sexta você ia demorar me pediu que entregasse ao Silva.
JOÃO -Isto, isto!
MÁRCIO – Então, as três reuniões foram concretizadas.
JOÃO – Tudo bem! Tem alguma previsão pra mais alguma coisa, ou não?
MÁRCIO – Ah, não! É .. não! Ainda não tem informação nenhuma. Mas essas 3 foi tudo certinho, né?
JOÃO – Foi.
MÁRCIO – É que o pessoal tá se expressando mal, tá fazendo uma confusão do cacete.
JOÃO – Tudo bem, tudo bem. A última, a da sexta feira, em que foi entregue ai ao Silva as atas, elas não foram iguais às atas anteriores, né? Ficou um pouco abaixo.
MÁRCIO – É! Um pouquinho abaixo, o número era quebrado.
JOÃO – Tá certo, tá certo!
MÁRCIO – Tá bom?
JOÃO – Tá entendido, então!
MARCIO-Ok!
JOÃO – Eu agradeço a tua atenção!
MARCIO – Um abração, Tchau, tchau!
JOÃO – Outro. Obrigado. Um abraço! Tchau!
FONTE: O GLOBO
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