Balanço mensal do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais indica aumento de 19,5% em relação ao mesmo período em 2019; foram quase 2.250 focos de incêndio no bioma
O índice de queimadas na Amazônia teve o pior junho registrado desde 2007. Números consolidados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que 2.248 focos de incêndio foram registrados por satélites de 1º a 30 de junho, um aumento de 19,5% em relação ao mesmo período, em 2019. Na ocasião, foram 1.880 focos. A queima recorde da floresta já vinha sendo alertada por ONGs e especialistas e coincide com o desmatamento acelerado em meio à pandemia de Covid-19.
O número só é superado pelas queimadas registradas há 13 anos: foram 3.519 focos de fogo na ocasião. Com a crise do coronavírus, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) enfrenta desfalques na fiscalização do bioma. Além disso, ONGs têm acusado o governo Jair Bolsonaro de sabotagem contra fiscalizações.
Na reunião ministerial do dia 22 de abril, cujo conteúdo foi divulgado por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi gravado sugerindo que o o governo aproveitasse as atenções voltadas para a crise do coronavírus para “passar a boiada” nas regulamentações da pasta.
Segundo o Inpe, o desmatamento na região amazônica entre janeiro e maio foi o maior no período desde o ano de 2015: 2.032 km² de floresta derrubada. Em geral, o desmatamento atinge seu pico entre maio e julho. A antecipação da alta de queimadas, que costuma se dar nos meses seguintes ao desmate, chama atenção.
De acordo com dados do sistema Deter do Inpe, que compila alertas diários e mensais de desmatamento, 609,89 km² de mata foram derrubados em junho. Os números, no entanto, não são atualizados desde o dia 18. O balanço fechado pode superar o do mesmo mês de 2019, quando o instituto registrou 934,81 km² de floresta desmatada.
Conforme O GLOBO noticiou na ocasião, mesmo o balanço parcial de junho do ano passado indicava um desmatamento recorde. Os números, que apontavam para uma escalada na degradação da Amazônia no governo Jair Bolsonaro e tiveram repercussão na comunidade internacional. A crise também levou o presidente a questionar publicamente a confiabilidade dos dados do Inpe, episódio que levou à queda do então presidente do estudo, Ricardo Galvão.
As queimadas de agosto e setembro, por sua vez, mobilizaram o mundo. O assunto foi uma das principais agendas da cúpula do G-7 em Biarritz, na França, e levou a um embate direto entre Bolsonaro e o presidente da França, Emmanuel Macron, e com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. A crise também esfriou as tratativas do acordo entre a União Europeia e o Mercosul. Além disso, o posicionamento do governo brasileiro frente à crise acabou levando ao congelamento do Fundo Amazônia, mantido pelo governo alemão e a Noruega.
FLORESTA DERRUBADA
Segundo uma nota técnica divulgada no mês passado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), com base em dados do Inpe, havia 4.503 km² de floresta a serem queimadas, o equivalente a três vezes à da cidade de São Paulo na ocasião da sua divulgação. Desta área, 661 km² foram derrubados somente entre janeiro e maio deste ano. Os 3.848 km² restantes referem-se à floresta que foi desmatada no ano passado, mas que não foi queimada. O instituto prevê que o número pode dobrar até o fim de deste mês, ou seja, o Brasil pode ter até 9 mil km² de materiais prontos para serem incendiados.
Especialistas vêm alertando que o crescimento de queimadas no mesmo período em que o país sofre com a crise da Covid-19 pode gerar uma tempestade perfeita na Região Norte. No ano passado, o fogo provocou uma corrida aos hospitais pela população de diferentes estados, como Rondônia e Acre, por conta de problemas respiratórios decorridos da fumaça.
Um estudo da Universidade Harvard (EUA) divulgado em abril concluiu que a exposição à poluição pode aumentar a letalidade em casos de pacientes graves da Covid-19. Além disso, os efeitos das queimadas na saúde proporcionariam, por si só, um aumento no número de pessoas em hospitais no momento em que os sistemas de saúde da região seguem tensionados e prejudicariam as medidas de isolamento social.
FONTE: ÉPOCA
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