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Abuso sexual e bullying potencializam suicídio entre jovens

Especialistas orientam família a estar atenta aos sinais de mudança de comportamento dos adolescentes e ter abertura para diálogo sobre todo tipo de assunto

O suicídio é a quarta maior causa de morte de jovens entre 15 e 29 anos no Brasil, conforme dados do boletim epidemiológico sobre suicídio do Ministério da Saúde. Neste ano em Mato Grosso, dos 138 suicídios registrados pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) de janeiro a julho, 30 foram de homens de 13 a 24 anos ou 21% do total.

Em mais um alerta do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção ao suicídio, a psicóloga Luciana Sarno Pagliarini, que atua em uma escola particular de ensino de Cuiabá, orienta que é preciso ter uma canal direto com crianças e jovens para falar sobre o tema e questões que podem levar ao suicídio, como bullying, depressão, desajuste familiar, abuso sexual e jogos virtuais, como o ‘Desafio da Baleia-Azul’ e mais recentemente a armadilha virtual ‘Boneca Momo’.

“A escola e a família precisam formar uma rede de proteção para os jovens que passam por uma fase peculiar, vulnerável, com muitas descobertas, entre elas, a sexual. Então, o ambiente precisa ser seguro para que se fale sobre tudo, os pais devem ter muito diálogo e quando perceberem algum sinal diferente buscar ajuda. Nós já tivemos alguns casos na escola que poderiam chegar a algo mais grave, envolvendo nudez exposta em rede social, abuso sexual, também de predador sexual aliciando uma das nossas alunas, mas por ser uma instituição menor, conseguimos atuar preventivamente”.

A professora Maria (nome fictício), de 42 anos, perdeu a filha Laura, de 15, há dois anos e três meses. A jovem se enforcou no banheiro do apartamento onde moravam e onde a mãe jamais voltou, nem para retirar a mudança. Com outras duas filhas, de 21 e 10 anos, ela diz que o cuidado hoje chega a ser excessivo. “Ela estava em acompanhamento psicológico, mas não achávamos que era tão grave, ela nunca externou que estava neste estado de sofrimento, mas a culpa sempre nos persegue”.

Ela e outras 200 pessoas, entre mães e pais de crianças e jovens suicidas de todo o estado de Mato Grosso, se reúnem regularmente uma vez por mês na capital para realizar a posvenção, ou seja, um trabalho de apoio para quem está em luto e afetado por um suicídio. “Tudo isso vem me ajudando muito, mas confesso que a dor é dilacerante, me sinto congelada no dia 21 de maio, na manhã de uma quinta-feira, com a minha filha morta nos meus braços”.

O mais terrível é perceber que as histórias de suicídio se misturam com outros problemas que ainda são tabu, como o abuso sexual e o bullying. Laura (nome fictício) passou por muitos problemas no início da adolescência, como envolvimento com um rapaz mais velho, o estupro cometido por um primo e perseguição por colegas na escola nova. “Tudo isso praticamente junto foi muito forte para ela, mas, por vergonha, demoramos muito para saber e infelizmente aconteceu o pior”.

Mudança de foco

Após uma longa batalha contra  a depressão, síndrome do pânico e TAG (transtorno de ansiedade generalizada) que vinham desde a sua adolescência, Paulo Araújo Júnior, comerciante e fotógrafo, tentou suicídio. Na época tinha 25 anos. “Eu tinha muito cansaço, angústias, dificuldades para fazer tarefas diárias, perda de alegria, ansiedade, falta de motivação, mas não busquei ajuda”.

Com o tempo o quadro depressivo se agravou e há cinco anos ele teve o primeiro surto. “Chorando há vários dias, fui levado às pressas para a primeira consulta com psiquiatra, e fui diagnosticado já no grau mais grave da depressão, com ideação suicida. Foi devastador para a família lidar com tudo isso”.

Ele relata que já não acreditava que sairia daquele ‘abismo profundo’. Até que em fevereiro de 2005, no limite máximo, decidiu, num impulso, acabar com a dor e cortou os pulsos. “Curiosamente, enquanto estava perdendo sangue, tive um momento em que senti uma sensação indescritível de paz, como quem realmente se livraria pra sempre daquela dor”.

Mas a tentativa não deu certo, e com o corpo cortado, emocionalmente dilacerado, Paulo teve que encarar a família e a urgência hospitalar. “Meus pais cogitaram me levar para São Paulo, mas comecei tratamento com um psiquiatra daqui que deu certo, até hoje digo que ele foi um anjo na minha vida, porque me garantiu que a minha vontade de viver voltaria e pela primeira vez acreditei que eu seria capaz”.

O tratamento conjugado de psicoterapia e medicamentos foi fundamental, mas ele carrega sequelas emocionais até hoje. “Era comum na época as pessoas falarem que a minha depressão era frescura, que eu não queria nada com a vida, que homem que é homem aguenta. Felizmente hoje o assunto tem menos tabu”.

Fotografar as belezas da vida, estar na natureza, fazer trilhas em Chapada dos Guimarães e outros lugares são ingredientes que mantêm a sanidade do comerciante. “Não mais tentei o suicídio, espero nunca mais voltar àquele estado, mas para que isso não aconteça eu me esforço muito, cada dia é uma vitória”.

Cinco dicas de prevenção

1 – Fique atento aos sinais de sofrimento emocional. Também é preciso prestar atenção a comportamentos impulsivos, como dirigir de forma irresponsável ou uso de álcool e drogas.

 2 – Leve os sinais a sério. A psicóloga Dulce Figueiredo explica que quem fala que ‘quer morrer’ em geral está buscando. Se você sentir que há algo de errado, sempre tome uma atitude.

3 – Busque conversar e mostrar que a pessoa não está sozinha. Nunca tenha medo de ligar para seu amigo, visitá-lo ou enviar uma mensagem para dizer a ele que você está preocupado. Seja claro e direto, e ouça sem julgar ou interromper.

4 – Mostre que existem recursos para ajudar. Mencione que há opções de assistência como as oferecidas pelo CVV e ofereça ajuda para a pessoa entrar em contato com serviços de aconselhamento, centro médico ou outro serviço de saúde mental.

5 – Em situações emergenciais, ligue 190 ou busque serviços nacionais de emergência.

Para falar com o CVV, disque 141 ou acesse o site www.cvv.org.br para conversar por chat, e-mail ou Skype.  

FONTE: CVV

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