Em quadros graves, não é a queda que provoca a fratura, mas a fratura que causa a queda; estudo do HC mostra que maioria não sabe que tem a doença
Um levantamento realizado pelo Hospital das Clínicas de São Paulo revela que três em cada quatro idosos que fraturam o fêmur têm osteoporose e não sabem.
O estudo mostra que 75% dos idosos apresentam a doença, que consiste na perda de massa óssea decorrente do processo de envelhecimento, o que predispõe a fraturas em caso de quedas.
Catharina Fló, 98, integra esse grupo. Ela teve uma queda dentro de casa, há sete anos, ao enroscar o chinelo no tapete. A queda resultou em uma fratura no cólo do fêmur direito, próximo ao quadril.
Essa foi a segunda fratura no fêmur que Catharina sofreu. Em ambos os casos, foi submetida a cirurgia.
“Eu fiquei com muito medo de cair de novo e nunca mais conseguir andar sozinha, depender de cadeira de rodas. Mas me recuperei”, afirma ela. Catharina caminha normalmente, mas conta com a ajuda de uma cuidadora para se locomover com segurança.
Para andar sozinha dentro de casa, ela se apoia em barras instaladas no apartamento ou faz uso de andador. Em longas distâncias, por exemplo, durante uma viagem a Itália e no casamento de uma sobrinha, fez uso de cadeira de rodas. “Ela usa apenas para ir até o local, mas, quando chega, dispensa a cadeira para mostrar que pode andar”, conta a filha, a fisioterapeuta Claudia Fló.
Na pesquisa do HC foram analisados 330 pacientes internados com fratura de fêmur devido à osteoporose. Apenas 24% deles sabiam da condição e 8% faziam tratamento para a doença.
O estudo mostra que 20% dos idosos que sofrem essa fratura não voltam a andar de maneira independente e 30% morrem após um ano. De acordo com o ortopedista Marcos Leonhardt, Hospital das Clínicas de São Paulo, o número de fraturas desse tipo no hospital se mantém constante. Ele afirma que há um crescimento previsto devido ao aumento do envelhecimento populacional.
O médico ressalta a importância do idoso procurar ajuda médica caso sofra uma queda. “Há casos em que o idoso não procura ajuda médica e se mantém deitado, para repouso. Além de sentir muita dor, ele não conseguirá andar, o que aumenta o risco para infecções das vias aéreas, pneumonia, infecção urinária e escaras na pele [feridas na pele de pessoas que permanecem muito tempo na mesma posição, ocasionadas pela pressão corporal]”, explica.
Cerca de 9 milhões de fraturas acontecem todo ano em decorrência de perda da massa óssea, o que seria uma fratura a cada três segundos, de acordo com a Fundação Internacional de Osteoporose. Só no Brasil, seriam 10 milhões de pessoas com esse problema, conforme dados da fundação.
O que vem antes: a queda ou a fratura?
O ortopedista Noel Foni, do Hospital Israelita Albert Einstein, afirma que cerca de 40% das fraturas entre idosos acima de 80 anos são de fêmur e que, aproximadamente, 50% de idosos acima dos 65 anos caem uma vez ao ano. Ele explica que o número de casos são maiores em decorrência do envelhecimento populacional do país, um aumento de 50% de idosos na última década, de acordo com dados do IBGE de 2017.
É a queda que provoca a fratura no fêmur ou é a fratura no fêmur que provoca a queda? O segundo caso é mais frequente em casos de osteoporose grave, especialmente me mulheres, segundo Leondhart. Ele explica que a maioria das fraturas ocorre na parte superior do fêmur, próximo ao quadril.
As fraturas também podem ser ocasionadas por quedas da própria altura, ou de alturas maiores, como de escadas, falta de equilíbrio ocasionada pela perda de força muscular e degeneração do cerebelo, parte do cérebro responsável pelo equilíbrio e pela desnutrição. E ainda: pisos molhados, tapetes, efeitos de remédios para dormir e andar em locais desconhecidos.
Cirurgia é indicada na maioria dos casos
Em caso de queda e possibilidade de fratura, Foni recomenda não fazer mobilizações. O ideal é verificar se o idoso está consciente e ligar para o SAMU o mais rápido possível. Ao chegar ao hospital, o idoso será atendido e receberá os procedimentos adequados.
No atendimento, o médico analisará se existe fratura e fará a condução do tratamento. Posteriormente, a causa da fratura será investigada para verificar se há chance de doenças como a osteoporose e a osteopenia, precursora da osteoporose.
Na maioria dos casos de fratura femoral é indicada a cirurgia. Para isso, são analisados fatores como idade e saúde do paciente. O procedimento é acompanhado por cardiologistas e anestesia monitorada e adaptada às necessidades do paciente, além do acompanhamento clínico.
Em relação à aqueles que apresentam riscos para a cirurgia, que são minoria, é aguardada a consolidação da fratura, segundo os especialistas. Esse processo gera dor ao paciente por ser uma recuperação natural e demorada. O risco de trombose venosa, pela falta de movimentação do corpo, e a dor são controlados com medicamentos.
Já a fisioterapia é utilizada para que esse paciente consiga sustentação. Inicialmente, ela é realizada com o paciente sentado para evitar futuras complicações clínicas.
Geralmente, o paciente já pode voltar a andar no dia seguinte ao procedimento cirúrgico, declara Foni. “Essa rapidez se dá pelos avanços da tecnologia. Antigamente, o paciente ficava muito tempo na cama. Hoje, não”, afirma.
Depois da cirurgia, o acompanhamento com fisioterapeuta é imprescindível, segundo o ortopedista. Em alguns casos, o paciente precisa reaprender a andar. De acordo com Leondhart, em menos de um ano, 50% dos pacientes voltam a andar normalmente e 30% precisam do apoio de bengalas e andadores para caminhar. Os outros 20% não conseguem voltar a andar devido à perda muscular.
Em casa, é importante fazer adaptações ao ambiente, como tirar tapetes e instalar barras de apoio, principalmente no banheiro, onde o piso molhado aumenta risco de queda. Leondhart ressalta que as adaptações são uma forma de prevenir quedas em pacientes que já apresentam propensão a fraturas.
Ele lembra também a importância de manter uma dieta balanceada após a cirurgia, com vitamina D, presente em alguns peixes e que também é estimulada pelo corpo pela exposição ao sol, e cálcio, presente em leites e derivados.
Segundo o ortopedista, o fortalecimento muscular é crucial e deve ser feito por meio de exercícios para evitar a perda de equilíbrio.
O apoio psicológico e o suporte familiar também são importantes na recuperação do idoso. Devido à fratura do fêmur, o idoso pode sentir dependência e perda de liberdade, o que pode resultar em desmotivação, tornando a recuperação a parte mais difícil de todo o acidente.
O incentivo e o acompanhamento dos familiares nos tratamentos ajudam o paciente a se sentir mais encorajado para enfrentar o problema, segundo o ortopedista.
Claudia conta que a presença da família durante o tratamento da mãe, Catharina, foi fundamental em sua recuperação, além, é claro da fisioterapia. “A ajuda das filhas, a presença dos netos e dos bisnetos, além do próprio bom humor dela, a motivam, diariamente a seguir adiante”.
Segundo Leonhardt cerca de um terço dos pacientes operados vêm à morte após um ano, devido a complicações de outras doenças já presentes, como hipertensão e diabetes e hipertensão. “Por serem mais frágeis, essas doenças podem já estar caminhando para uma descompensação, mesmo com a continuidade do tratamento dessas doenças no pós-operatório”, explica.
FONTE: R7.COM
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