Agronegócio

Produção e exportação agrícola do Brasil seguem travadas, setor avalia força maior

A produção e as exportações brasileiras de commodities agrícolas continuam praticamente travadas apesar da redução dos protestos de caminhoneiros, uma vez que importantes portos seguem com operações longe do ideal, o que pode levar empresas a declarar “força maior” nas vendas de soja e deixar de embarcar centenas de milhares de sacas de café.

No Porto de Santos, o maior da América Latina e o principal para o agronegócio do Brasil, as atividades ainda não foram restabelecidas, afirmou o Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp) nesta quarta-feira.

“Os motoristas se recusam a conduzir seus veículos aos pontos de carga e descarga, mesmo com garantia de escolta policial. Permanecem estacionados em diversos pontos, aparentemente aguardando ordens ou melhores condições para seguir viagem”, disse o sindicato em nota, sem detalhar os motivos, se haveria preocupações de segurança para o escoamento da produção.

A entidade, que reúne empresas como ADM e Copersucar, destacou que não houve “retomada imediata da normalidade da movimentação de caminhões”.

Em Paranaguá (PR), a manifestação ainda “está impactando diversos setores da cadeia portuária”, afirmou a administração local, destacando que 643 mil toneladas de produtos deixaram de ser movimentadas durante os protestos.

Cinco navios de farelo e um de soja, totalizando cerca de 280 mil toneladas, deixaram de ser embarcados, enquanto a movimentação de fertilizante e cereais ficou 20 mil toneladas por dia menor durante os protestos, segundo a administração do porto.

“FORÇA MAIOR”

As manifestações de caminhoneiros, que começaram contra a alta do diesel, estão nesta quarta-feira em seu décimo dia, embora bem mais fracas, com o reabastecimento de cidades e normalização de serviços.

De acordo com o assistente executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Lucas Trindade, algumas empresas já trabalham para a declaração de “força maior”, quando não conseguem honrar seus compromissos em razão de fatores externos à própria operação.

“Seria necessário uma semana, talvez dez dias, para os estoques serem recompostos e os navios retomarem os embarques nos portos… Para todo volume que deixa de ser embarcado, há a possibilidade de ser declarada ‘força maior’, mas em nem todos os casos esse dispositivo é acionado. Alguns preferem segurar um pouco mais, pegar empréstimo de outra carga, negociar com o navio…”

A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) reafirmou nesta quarta-feira que todas as 63 unidades de produção associadas estão com as atividades suspensas, embora haja previsão de retomada dos serviços “nas próximas horas”.

Já a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) informou que 35 indústrias estão paradas devido a não retirada dos produtos e consequente esgotamento da capacidade de estocagem. A entidade requereu à reguladora ANP a venda de biodiesel puro (B100) sem necessidade de leilão, “com objetivo de o objetivo de ampliar a oferta de combustíveis”.

Outro setor que vem contabilizando perdas na exportação é o de café. O Conselho dos Exportadores do Brasil (Cecafé) estimou nesta quarta-feira que 900 mil sacas deixarão de ser embarcadas neste mês —os embarques, porém, serão feitos posteriormente, quando os problemas forem resolvidos, disse a entidade.

“A gente já escuta algum movimento no interior, que já tem um fluxo maior nos armazéns, mas no porto segue parado”, disse Nelson Carvalhaes, presidente do Cecafé. Um exportador, sob condição de anonimato, comentou que ainda não foi preciso declarar “força maior” nos embarques da commodity, porque os clientes estão cientes da situação.

Quanto ao setor sucroenergético, analistas e grupos industriais disseram que muitas usinas do principal cinturão de cana conseguiram diesel entre terça e quarta-feira para as máquinas retomarem a colheita depois de alguns dias sem qualquer trabalho de campo.

Em relação às notificações de “força maior”, a brasileira Copersucar, por exemplo, recusou-se a comentar o assunto. A Raízen também não retornou um pedido de comentário sobre isso. Outra grande empresa açucareira, a São Martinho, disse que suas linhas de exportação estão normais porque usa ferrovias para chegar aos portos.

A Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR) relatou prejuízos de 104 milhões de reais ao setor durante a greve, “principalmente em decorrência da falta de produção e comercialização”. A entidade espera que essas perdas aumentem.

Por fim, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa um dos setores mais afetados pelos protestos, disse que 46 unidades de aves, suínos e ovos conseguiram retomar as atividades parcial e gradativamente. A situação, contudo, ainda é crítica, e a cadeia produtiva pode levar mais de dois anos para ser resolvida, segundo o ministro da Agricultura, Blairo Maggi.

FONTE: REUTERS

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