Nas duas entrevistas coletivas concedidas desde a vexatória derrota da seleção brasileira para a Alemanha, Luiz Felipe Scolari se recusou a dar pistas sobre seu futuro na seleção brasileira. Para observadores internacionais ouvidos pelo UOL Esporte, a recusa do treinador em fazer o sacrifício máximo pelo resultado foi ainda mais surpreendente do que o placar de 7 a 1 no Mineirão. Eles esperavam que Felipão já tivesse anunciado sua saída do cargo.
“Estranho que Felipão ainda faça algum mistério sobre sua saída porque a posição dele ficou insustentável depois do resultado. Nenhum treinador inglês tentaria sequer cogitar essa hipótese se a Inglaterra tivesse perdido por 7 a 1 para a Alemanha em casa numa semifinal de Copa do Mundo. Ainda mais da maneira como o Brasil perdeu em campo, por causa de um plano tático totalmente equivocado”, afirma Dominic Fifield, enviado do jornal inglês “The Guardian” para a Copa do Mundo.
Para James Tyler, editor do site de futebol da rede de TV americana ESPN, o treinador deveria ter anunciado já na terça-feira o fim de sua segunda passagem pela seleção. Tyler mostrou surpresa diante dos rumores de que a CBF ainda pode oferecer ao técnico uma chance de continuidade. “O Brasil precisa fazer mudanças, e a permanência do treinador responsável pelo pior resultado da história da seleção mandaria uma mensagem confusa”.
Na Alemanha, a situação tem causado ainda mais estranheza. A insistência de Felipão em manter seu futuro indefinido aumentou a sensação de que o futebol brasileiro segue atordoado após a lição de futebol recebida em Belo Horizonte. “Não seria problema nenhum se Felipão tivesse anunciado sua saída mesmo com a seleção ainda precisando jogar a decisão do terceiro lugar com a Holanda. Dificilmente isso causaria problemas para os jogadores, pois a decisão lógica é a saída. De certa forma, Felipão está perdendo a chance de sair de cena com dignidade”, opina Sara Pelschke, da revista alemã “Der Spiegel”.
Na Espanha, apesar da crise vivida pela seleção do país depois de uma participação pífia na Copa, com eliminação na primeira fase e goleada de 5-1 sofrida diante da Holanda, a situação brasileira não escapou do radar. Após a derrota, o jornal “As” publicou um artigo dizendo que o futebol brasileiro precisava de “mais Zicos e menos Scolaris”.
Mas há também quem defenda a atitude de Felipão. Para o italiano Gabrielle Marcotti, do “Corrieri dello Sport”, o treinador brasileiro pode estar sendo altruísta. “Depois de uma goleada dessas, Felipão poderia complicar ainda mais a situação psicológica do time. Eu entendo que ele se esquive das perguntas”. Mas Marcotti, que também escreve para o jornal de negócios “Wall Street Journal”, suspeita ainda que a reticência de Felipão possa ser justificada por motivos financeiros. “Pelo que entendo de legislação trabalhista, sempre é melhor ser demitido do que pedir demissão”, diz Marcotti.
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