Vitória no primeiro clássico do ano ajuda a solidificar um trabalho que não precisa render um supertime, e sim uma equipe organizada e competitiva
Lidar com o elenco mais vasto do Brasil oferece a Roger Machado uma série de dilemas. Passado um mês de trabalho, com cinco jogos já disputados (um clássico entre eles), é possível perceber que o treinador vem fazendo escolhas certas – e a vitória de 2 a 1 sobre o Santos neste domingo, na arena, foi mais um passo nesse processo. Alguns exemplos:
- Felipe Melo no time. Pode parecer óbvio, mas vale lembrar que no ano passado não foi bem assim. O volante é titular absoluto e um dos destaques da equipe. Busca a bola entre os zagueiros, encaixa lançamentos e flutua ao campo de ataque quando a bola está por lá. Neste domingo, foi vencido por Renato pelo alto na jogada do gol do Santos, mas esteve entre os melhores em campo.
- Jailson no gol. Poderia ser Fernando Prass, ídolo do clube; poderia ser Weverton, reforço titular do ouro olímpico. Mas Roger apostou em Jailson, e os resultados referendam a escolha. Foram três gols sofridos em cinco jogos em 2018 – e grandes defesas, como em cabeceio de Eduardo Sasha no primeiro tempo do clássico. O goleiro não perde há 26 jogos.
- Borja mais móvel. Mesmo que ainda precise melhorar tecnicamente, o atacante é mais útil ao time este ano do que em 2017. Ao se deslocar e pender para os lados, abre espaço para a chegada de jogadores de infiltração – casos de Willian e Dudu. Dá fluência ao setor ofensivo – o melhor do Paulistão, com dez gols. Fez bonito gol da entrada da área neste domingo.
- A dupla de zaga. Com a saída de Mina e a recuperação física de Edu Dracena, Roger precisou escolher novos zagueiros titulares. Eram várias opções, e ele elegeu Antônio Carlos e Thiago Martins, deixando no banco opções que poderiam parecer mais prováveis, como Luan e Juninho. Pois a nova dupla ajuda a formar a defesa menos vazada do Paulistão (junto com Corinthians e São Bento) e ainda colabora na frente, como mostrou Antônio Carlos com o gol deste domingo.
O Palmeiras tem 100% no ano. É o único time da Série A do Brasileirão com aproveitamento impecável na temporada. Mas não construiu a campanha com atuações espetaculares.
Porque o Palmeiras não é um supertime. E não precisa ser. Precisa ser uma equipe, um coletivo – simples assim: organizado e competitivo. Gradativamente, parece estar chegando lá.
Contra o Santos, teve atuação de regular para boa. Soube lidar com diferentes faces da partida: a pressão inicial, com um gol (Antônio Carlos, de cabeça) e uma bola na trave (de Lucas Lima); a reação do Santos, amortecida pelo sistema defensivo; a retomada do controle, com o segundo gol (de Borja); e o renascimento do adversário após o gol de Renato, novamente anestesiado pelo Palmeiras.
Depois do jogo, Roger Machado opinou: um elenco como o do Palmeiras não é um diferencial capaz de desequilibrar campeonatos. “Não passa de 10%”, argumentou. A temporada passada, em que o Palmeiras fracassou mesmo já tendo um elenco superior ao dos rivais, sustenta a tese do treinador.
Por isso, a missão de Roger é difícil – mas é a dificuldade dos sonhos de todo treinador brasileiro. Ninguém tem um arsenal de peças tão boas e tão versáteis quanto ele.
E a versatilidade, aliás, não é apenas tática. No Palmeiras, é possível observá-la até na bola parada. O jogo contra o Santos teve uma sequência curiosa de episódios. No comecinho do jogo, Lucas Lima bateu um escanteio pela direita, e a zaga cortou; segundos depois, pelo mesmo lado, houve uma troca. Foi Dudu quem bateu. E aí saiu o gol de Antônio Carlos. E, três minutos depois, novamente pela direita, Lucas Lima voltou a ser o responsável pela bola parada, desta vez uma falta lateral. Mandou direto na trave.
O Palmeiras tem repertório, e navegar em águas calmas no Paulistão ajuda Roger a trabalhar as qualidades do elenco. Com um time titular já em fase de repetição, ele cogita analisar outros atletas nas próximas rodadas. Está certo: serve como observação para ele, serve como motivação para quem não está jogando.
Até porque o mais importante ainda está por vir. Falta menos de um mês para começar a Libertadores para o Palmeiras.
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