Brasil Produtivo

Preço do café em baixa provoca atraso no beneficiamento

Gil Barabach, consultor da Safras & Mercado, afirma ainda que há incerteza em relação à qualidade

As operações de secagem e beneficiamento do café estão mais lentas e por isso pouco produto da safra nova tem chegado às praças de comercialização. Os preços em baixa têm desestimulado as vendas pelos cafeicultores, que estão preocupados apenas com o a entrega do café de contratos já firmados.

É o que afirma o analista de mercado de café da consultoria Safras & Mercado, Gil Barabach. “O produtor não quer acelerar o beneficiamento por causa do mercado e o café novo está demorando mais a chegar nas praças”, diz ele. “A colheita segue tranquila”, acrescenta.

A colheita do café no Brasil avançou para 37% da área plantada, de acordo com o levantamento da consultoria referente ao período de uma semana encerrado em 20 de junho. No intervalo anterior, encerrado dia 13 deste mês, o trabalho estava em 31%.

Os dados desta semana apontam um ritmo menor do trabalho de campo em relação ao mesmo período no ano passado, quando 41% da área estavam colhidos, e em comparação com a média dos últimos cinco anos, de 39%.

Os percentuais menores nesta safra, segundo a consultoria, estão nas lavouras de café robusta, cuja produção é liderada pelo Espírito Santo. Até o dia 20, a colheita chegou a 63%, quando a média para esta época é de 72%. No arábica, chegou a 30% para uma média de 26%.

Atingida por problemas climáticos, a safra atual tem trazido dúvidas em relação à qualidade. Gil Barabach pontua que tem-se visto uma parcela de bebida “mais fraca” no café novo que chega ao mercado, embora pondere que é prematuro dizer se a situação persistirá.

De acordo com o analista, no sul de Minas Gerais, por exemplo, há relatos de granação fora do esperado para esta época, com maior volume de café “miúdo”. “No início, falava-se em granação normal. Ainda é cedo para dizer se a situação final vai ser igual a atual ou a do começo”, diz.

Representantes de cooperativas de cafeicultores admitem a possibilidade das instituições reverem seus números para a safra atual. Na área de atuação da Cooxupé, sediada em Guaxupé (MG), o excesso de chuvas até surpreendeu, diz o superintendente comercial da cooperativa, Lucio Dias.

“Ainda é difícil mensurar, mas, na minha visão, deve ter perda de qualidade. Ainda temos julho, agosto setembro. Só vamos conseguir essa diferença mesmo no final”, analisa.

Até o sábado (17/6), a colheita na região de influência da Cooxupé atua tinha chegado a 17,56% da produção esperada para esta safra. Atrasado em relação ao ano passado, o trabalho de campo avançou 6,13 pontos percentuais em comparação com o levantamento anterior.

Pelo menos até o momento, a cooperativa, maior do mundo no segmento, espera comercializar neste ano 6,2 milhões de sacas de café. O recebimento de produto dos cooperados é estimado entre 3,8 milhões e 4 milhões de sacas.

No município capixaba de São Gabriel, a chuva sobre a lavoura foi bem-vinda. Os 442 milímetros registrados na região até junho foram próximos de anos de safra boa, afirma o presidente da cooperativa Cooabriel, Antonio Joaquim de Souza Neto, conhecido como Toninho.

O problema é que os cafezais de robusta já vinham sofrendo com três anos seguidos de estresse hídrico. O resultado, explica Toninho, é uma maturação mais lenta nesta safra, que atrasou a colheita do café mais precoce.

“Tinha um grande volume ainda verde. Para ter qualidade, precisa colher o café maduro e muita gente parou para aguardar a maturação”, explica, pontuando que, no geral, o café está mais graúdo e, pelo menos por enquanto, indica uma qualidade melhor.

Até a primeira metade deste mês, a colheita na região estava em 44%. No mesmo período em 2016 – em que pese a safra ter sido menor – tinha chegado a 55% dos cafezais. O trabalho, geralmente, começa em abril e termina em junho, mas neste ano, deve adentrar julho, admite o presidente da Cooabriel.

Ainda assim, a expectativa é aumentar o recebimento de café dos cooperados neste ano. O volume deve chegar a 800 mil sacas de 60 quilos, com suporte vindo de associados no sul da Bahia, para onde a cooperativa vem estendendo sua área de atuação. No ano passado, foram 596 mil sacas.

Fonte: Globo Rural

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