Neste 15 de outubro, data em que tradicionalmente se homenageia o professor, não há muito o que comemorar. O que vemos, ano após ano, é um crescente sentimento de abandono, desânimo e frustração por parte daqueles que deveriam ser pilares da sociedade: os educadores.
A figura do professor, que deveria ser símbolo de respeito e valorização, tem sido sistematicamente negligenciada por governos, instituições e, infelizmente, até por parte da sociedade civil.
Apesar de a legislação prever um piso nacional do magistério, muitos gestores públicos – inclusive em Rondônia – recorrem à Justiça para não cumprir o que é de direito, desrespeitando acordos, congelando salários e sabotando conquistas históricas da categoria.
O que deveria ser um marco de valorização profissional virou um campo de batalha jurídico e político.
A carga horária abusiva, o acúmulo de funções, as condições precárias de trabalho e a violência nas escolas estão adoecendo os professores, física e emocionalmente. Cresce o número de profissionais afastados, readaptados ou que simplesmente desistem da carreira, sem que políticas públicas efetivas sejam implementadas. E, para piorar, o que se vê ao final da jornada de trabalho é um salário corroído pela inflação, complementado por auxílios vergonhosos, como em Porto Velho, onde o auxílio-alimentação é de R$ 500,00 e o auxílio-saúde varia entre R$ 50,00 e R$ 150,00 — quantias que mal cobrem o básico da sobrevivência.
A aposentadoria, que deveria representar descanso e reconhecimento, chega como um novo castigo: ao se aposentar, o professor perde gratificações e vê sua remuneração ser drasticamente reduzida. Muitos, inclusive, precisam continuar trabalhando para complementar a renda, perpetuando o ciclo de desgaste e desvalorização.
Há ainda um contraste cruel e simbólico: quando o professor toma posse ou é contratado, o Estado exige uma extensa bateria de exames médicos para atestar sua aptidão física e mental para exercer a função. Porém, no momento da aposentadoria, esse mesmo Estado e as instituições públicas não demonstram qualquer preocupação com a saúde desse profissional.
Nenhum exame é feito para saber em que condições esse trabalhador está sendo devolvido à sociedade, após anos de esforço, estresse e adoecimento em uma das carreiras mais exigentes do serviço público. O que se observa é o completo descaso com o ser humano por trás do crachá de servidor.
Como se não bastasse, o avanço dos contratos emergenciais e da contratação por hora-aula precariza ainda mais a profissão. São vínculos instáveis, inseguros e mal remunerados, que tratam o professor como uma peça temporária e substituível. Essa prática, além de desestimular quem já está na sala de aula, tem provocado o esvaziamento dos cursos de licenciatura nas universidades e faculdades.
A juventude percebe o cenário e opta por outras áreas, abandonando a ideia de seguir a carreira docente. Afinal, quem quer entrar em uma profissão em que o esforço não é reconhecido, os direitos são violados, e o futuro é incerto?
Fica a pergunta: quem nos representa? Onde estão os vereadores, deputados e senadores que dizem defender a educação, mas somem quando os professores precisam? O discurso de valorização do magistério costuma reaparecer em tempos de eleição, mas desaparece logo após a contagem dos votos.
Precisamos de um plano de carreira específico para os profissionais da educação, que incorpore as gratificações ao salário-base, reduza a carga horária de forma justa, garanta aposentadoria digna e estabilize os vínculos empregatícios. A luta não é apenas por melhores salários, mas por condições humanas e sustentáveis de trabalho.
A educação está sendo tratada como mercadoria em um sistema que prefere manter professores mal pagos, desestimulados e adoecidos. Precisamos romper esse ciclo perverso.
Conclamamos a sociedade a refletir com seriedade: qual educação queremos para o futuro? E mais do que isso: qual é o lugar que queremos dar ao professor dentro dessa construção? Não haverá transformação social sem a valorização real e concreta do educador.
É hora de os professores se unirem, se organizarem como classe e ocuparem os espaços de decisão. A luta pela valorização do magistério é a luta pela dignidade do nosso país. A educação não pode mais esperar.
Joelson Chaves de Queiroz
Professor e acadêmico de Jornalismo


























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