De acordo com a análise, o país registrou 50 negociações do tipo entre empresas de capital nacional
As fusões e aquisições de empresas do setor de energia elétrica no Brasil bateram recorde em 2024, se comparadas com os últimos 20 anos. Segundo a consultora KPMG, foram 72 operações registradas ao longo do ano passado, sendo a grande maioria entre companhias brasileiras.
De acordo com a análise, o país registrou 50 negociações do tipo entre empresas de capital nacional.
Além disso, foram contabilizadas 12 operações envolvendo companhias de capital estrangeiro adquirindo ativos de empresas estabelecidas no Brasil.
Também foram registradas oito negociações envolvendo empresas de capital brasileiro adquirindo, de estrangeiros, ativos de empresas no Brasil e, por último, duas operações envolvendo apenas estrangeiros com ativos no Brasil. A análise leva em conta somente dados públicos de empresas de energia elétrica comprando algum ativo ou sendo vendida.
Segundo Franceli Jodas, sócia da KPMG, cerca de 20% dessas movimentações são de empresas não ligadas ao setor de energia que compraram ativos de energia solar ou eólica. “Isso significa que os grandes consumidores estão investindo ou na descarbonização de seus produtos ou melhorando seus portfólios para a segurança energética de suas fábricas”, diz. “Estamos falando de grandes fabricantes de alimentos e de aço.”
Um exemplo disso é a aquisição em junho de quatro usinas solares da Belmonte Solar Holding pela siderúrgica Rima, que atua na produção e comercialização de ligas à base de silício e magnésio. Além disso, a Nestlé anunciou em setembro, junto com a Enel, a formação de um consórcio para autoprodução de energia eólica e abastecimento de cinco fábricas no país.
Outra parte considerável dessas operações, aponta Jodas, envolve empresas brasileiras voltadas para a diversificação de seus portfólios. “É o caso da Energisa, que entrou no setor de gás -ela quer ter energia de todos os formatos. Tem também algumas empresas que se posicionam só com energia renovável, que é o caso da Copel e CPFL” diz.
A Energisa entrou no setor de distribuição de gás natural ainda em 2023, mas no ano passado adquiriu o controle da Norgás, holding com participação em distribuidoras de gás canalizado em quatro estados do Nordeste. O investimento foi de R$ 890 milhões.
Jodas relaciona o aumento de fusões e aquisições ao número de ativos de menor porte no mercado brasileiro atualmente. “Há a descentralização do setor de energia e, com isso, a tendência é ter transições mais pulverizadas, ao contrário do que acontecia no passado, quando a gente via transações de bilhões e não de milhões, como começamos a ver agora.”
A falta de novos investidores estrangeiros nessas operações também passa por isso na visão dela, já que principalmente as empresas chinesas costumam adquirir ativos maiores. “Estamos identificando movimentos de consolidação, por isso há mais movimento de fusões e aquisições domésticas por empresas que já estão aqui, como a Equatorial”, diz.
“No caso dos estrangeiros, estamos vendo esse capital vindo mais para projetos de possível desenvolvimento de hidrogênio verde e para empresas de transmissão. Vemos um pouco de movimento externo para greenfield (novos ativos e setores) e menos atração de ativos de brownfield (áreas e ativos já existentes)”, diz.
Para os próximos anos, ela ainda acha cedo fazer projeções de um possível efeito de Donald Trump nos investimentos em renováveis no Brasil: “Existe a perspectiva do setor de renováveis para que possamos atrair mais capital de investimento considerando que os EUA realmente desestimulem a energia renovável, mas até o momento é muito falatório.”
FONTE: FOLHAPRESS
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