A Seleção mostrou a mesma estratégia da Copa América, que deixa equipe presa. Três volantes no meio-campo. E isola os atacantes. Se tivesse mais ambição, o Equador poderia ter conseguido resultado melhor. ‘O Equador dominou momentos do jogo’, admitiu Rodrygo
Vaias, muitas vaias.
Os jogadores brasileiros procuraram o foco de onde vinham as poucas palmas.
A frustração dominou o Couto Pereira, na vitória por 1 a 0, diante dos equatoriano.
Dorival Júnior agiu como se estivesse comandando um time nacional, disputando partida eliminatória da Copa do Brasil.
E apenas quisesse preservar seu emprego.
E não fosse o treinador da Seleção.
Em plena Curitiba, contra um selecionado esforçado, montou uma equipe inflada de volantes.
Com um lateral, que atua como terceiro zagueiro.
Incapaz de descer pelo lado direito.
A iniciativa de todo o segundo tempo foi do Equador, com o Brasil atuando em casa.
Situação impensável há alguns anos.
Mas esta é a realidade atual do futebol deste país.
Dorival queria a vitória, de qualquer maneira, para se recuperar na tabela de classificação nas Eliminatórias.
A classificação mostrava o Brasil em sexto lugar.
E somava incômodo de quatro partidas sem vitórias.
Mas conseguiu voltar a triunfar, graças a um gol de Rodrygo, que contou com muita sorte.
O chute de fora da área desviou no zagueiro Pacho e enganou o goleiro Galíndez.
O único momento real de alegria da torcida paranaense, que pagou entre R$ 400,00 e até R$ 600,00 por um ingresso, foi aos 29 minutos do primeiro tempo.
“Importante, a gente precisava da vitória, era nosso objetivo independentemente de jogar bem ou não. É difícil, viagem longa, poucos dias para treinar, grupo novo, mas não é desculpa. Fico feliz pela vitória e pelo gol. Agora é ver nossos erros, o Equador dominou momentos do jogo e isso não pode acontecer”, desabafou Rodrygo.
Dorival repetiu o erro que eliminou a Seleção ainda nas quartas da Copa América.
A falta de ousadia, que parece crônica.
Diante do time do argentino Sebastián Beccacece, que já se sabia que montaria o Equador com cinco defensores, três marcadores no meio-campo e apenas dois atacantes, o Brasil, atuando em casa, foi precavido demais.
Na prática, tinha três zagueiros, com Danilo atuando exatamente como faz na Juventus.
Lateral direito para quem não enxerga taticamente futebol.
Ele não tem mais explosão muscular para atacar.
E ficou do lado direito, com Marquinhos e Gabriel Magalhães, que muitas vezes parece estar lutando no UFC do que jogando.
Ou seja, Luiz Henrique, que fazia sua estreia na Seleção, não tinha com quem triangular.
Isso porque além de o Brasil não ter lateral direito, André era um mero cabeça de área.
Bruno Guimarães e Lucas Paquetá não passam de dois segundos volantes.
Rodrygo tinha a missão de flutuar no ataque.
A esperança era a esquerda, já que Vinicius Júnior, que concorre para ser o melhor do mundo, tinha a companhia de Guilherme Arana.
Só que o atacante do Real Madrid vivia mais uma noite de individualismo improdutivo.
O atleticano Alan Franco, escalado para travá-lo, conseguiu com facilidade.
O Brasil mostrava setores isolados.
Parecia uma equipe de pebolim.
O que só poderia desequilibrar era o talento individual brasileiro.
Muito maior do que o dos equatorianos, obcecados por lutar pelo 0 a 0.
No primeiro tempo, o time de Beccacece estava travado, acovardado.
O que deu espaço para a Seleção ao menos bater de fora da área para o gol do inseguro Galíndez.
Com maior iniciativa nos 45 minutos iniciais, o Brasil conseguiu sair na frente.
O acaso ajudou.
O ‘flutuante’ Rodrygo conseguiu surgir de surpresa entre as linhas de marcação equatoriana.
Recebeu de Paquetá.
Teve tempo de dominar e chutar forte.
A bola desviou em Pacho e enganou Galíndez, 1 a 0, aos 29 minutos.
A expectativa era que o Brasil iria ganhar confiança com o placar favorável.
Mas pelo contrário.
Como se fosse um time qualquer e não a Seleção, os jogadores se retraíram.
Voltaram para a intermediária, sonhando com contragolpes.
Mas o Equador não se abria.
O primeiro tempo já terminou com algumas vaias.
O futebol do Brasil era monótono, burocrático, sonolento.
Mas iria piorar, quando Beccacece percebeu que o adversário não era tão poderoso quanto imaginava.
Tratou de adiantar a marcação.
Fez seus jogadores atuarem marcando sob pressão a saída de bola brasileira.
E a Seleção passou a ser dominada.
Dorival tratou de povoar as intermediárias, buscando diminuir o ritmo do jogo.
Segurar os três pontos.
Seus atletas passaram de forma explícita a fazer cera.
Valia tudo para segurar o resultado.
Depois de muita insistência da torcida, Estêvão entrou.
Mas nada pôde fazer porque a Seleção já se posicionava atrás da linha da bola.
Só ele e Vinicius Júnior à frente.
O Equador pressionou, mas não mostrou eficiência ofensiva.
Faltava talento e o Brasil, a bem da verdade, marcou muito forte.
Ao final da partida sem emoção, as vaias.
Dorival Júnior não queria nem saber e comemorava.
Fazia seus jogadores acenar para a torcida.
Mesmo com as vaias prevalecendo.
O que importava era a imagem dele e dos jogadores celebrando.
Para torcedores descontentes nas arquibancadas do Couto Pereira, algo surreal.
Mas Dorival Júnior comemorou para valer.
Conseguiu os três pontos, a vitória que tanto sonhava.
Era sua estreia na Eliminatórias da América do Sul.
Fez da Seleção um time travado.
Mas está aliviado.
O Brasil já é quarto nas Eliminatórias.
Está atrás oito pontos da líder Argentina.
Quatro da segunda colocada, a Seleção Uruguaia.
E a dois da Colômbia.
Mas são seis vagas para o Mundial.
Além da sétima colocada que disputará um derradeira vaga na repescagem.
Essa praticidade, sem ousadia é a marca registrada da Seleção de Dorival.
Que mereceu vencer.
E sair vaiada em Curitiba…
FONTE: R7.COM – COLUNA COSME RIMIOLI
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