Pesquisa Datafolha com Zetta apontou ainda que entraves com documentação e demora são as principais dificuldades
Num cenário de endividamento que bate recordes, empréstimos e financiamentos respondem por parte considerável dos débitos em aberto dos consumidores. Uma saída que pode aliviar o orçamento das famílias, no entanto, ainda é pouco conhecida: a portabilidade. O serviço permite a transferência de uma operação de crédito de uma instituição financeira para outra com melhores condições, mas apesar das vantagens, 60% da população bancarizada desconhece a possibilidade.
O dado consta pesquisa conduzida pelo Datafolha e a Zetta, associação que reúne fintechs como Nubank, Mercado Pago e Picpay, que ouviu 1,6 mil pessoas em todo o país.
O serviço – disponível também para a transferência salarial – existe desde 2006, quando foi regulamentado pelo Banco Central, mas mesmo após 17 anos, a falta de conhecimento sobre o tema é latente. Além de mais da metade dos entrevistados não conhecer a opção de trocar uma dívida de crédito cara por uma mais barata, 44% nunca ouviram falar sobre a mudança de banco para o pagamento do salário, e apenas 16% já tentaram transferir empréstimos (6%) ou o salário (10%) para uma instituição financeira diferente.
De acordo com dados do último Relatório de Economia Bancária do Banco Central, 4,42 milhões de pedidos de portabilidade de crédito foram efetivados em 2021, volume que corresponde a R$ 49,3 bilhões. A modalidade mais procurada nas operações foi o consignado, respondendo por 83,1% dos valores movidos entre bancos. Para se ter uma ideia, os R$ 40,9 milhões movimentados equivalem, ainda segundo o BC, a 17,7% das concessões de empréstimo consignado em 2021. O crédito imobiliário aparece na segunda posição (14,2%), seguido do pessoal (2,3%).
Quando vale a pena?
Coordenador dos MBAs em Finanças do Ibmec-RJ, o economista Gustavo Moreira explica que a principal vantagem em migrar um crédito de um banco para outro é a redução na taxa de juros, o que possibilita ao consumidor pagar uma parcela menor da dívida. Além disso, a tentativa de portabilidade pode até gerar uma renegociação do débito no banco de origem.
– A portabilidade permite ao devedor buscar uma instituição financeira que vai oferecer termos melhores. E, eventualmente, se esse consumidor tiver uma proposta boa de uma outra instituição, pode levar para o banco original para ver se conseguem melhorar ou reduzir as condições do financiamento – destaca: – É uma regulação que permite ao devedor negociar com o credor melhores termos e se não conseguir negociar, ir para outro banco com termos mais competitivos.
Como aderir?
O primeiro passo deve ser analisar as condições de crédito das outras instituições financeiras e avaliar se as ofertas são mais vantajosas do que a do banco em que o financiamento ou empréstimo foi firmado. A partir daí, antes de assinar o serviço, o consumidor deve ficar atento aos detalhes contratuais da nova instituição, como alerta o professor do Ibmec-RJ:
– É importante ver se há algum tipo de impedimento ou penalidade, ficar atento às condições de pagamento e garantia, todo o detalhamento do novo contrato de empréstimo, que tem que ser visto com uma lupa. E, por último, ver se isso vai caber no orçamento e organizá-lo para que não fique inadimplente.
Na prática, o cliente solicita a portabilidade junto à instituição para onde deseja migrar a dívida que, por sua vez, fica responsável por quitar os valores na primeira instituição credora. O banco de origem não pode recusar a portabilidade solicitada pelo cliente, mas é possível que apresente condições melhores de crédito para evitar que o cliente migre para outra instituição.
Para solicitar o serviço, o cliente precisa reunir alguns dados relacionados à dívida, que devem ser solicitadas ao banco de origem:
- Número do contrato e nome da instituição financeira;
- Saldo devedor e valor de cada parcela;
- Número de parcelas a vencer;
- Prazo total e o que falta para quitação do crédito.
Veja como o processo funciona:
- O cliente deve solicitar os dados necessários para a operação com o banco de origem;
- A partir daí, as informações devem ser repassadas pelo cliente ao banco para onde deseja migrar a operação de crédito;
- A instituição financeira encaminha o pedido para a Nuclea, que operacionaliza o processo. A empresa repassa o pedido para o banco inicial, que responde à solicitação ou retém a operação (neste caso, com uma proposta de renegociação para o cliente);
- A Nuclea, então, envia a posição do banco original para o destinatário, que comunica o cliente e conclui a operação.
Burocracia e demora
O estudo do Datafolha com Zetta também concluiu que 50% da população bancarizada brasileira considera que aderir à portabilidade serviços financeiros é um processo difícil, muito burocrático e demorado. Segundo a pesquisa, a portabilidade de crédito, por exemplo, pode levar até 20 dias corridos para ser concluído.
Os entrevistados apontaram que o excesso de burocracia, entraves relacionados à documentação e demora para aprovação do pedido são as principais dificuldades no processo. Neste cenário, 70% afirmaram que com certeza adeririam à portabilidade se o processo fosse simples como fazer um Pix.
– O sistema de portabilidade ainda é muito burocrático e não acompanhou a evolução do Sistema Financeiro Nacional ao longo dos últimos 10 anos, quando surgiram iniciativas regulatórias e soluções inovadoras, como o Pix e o Open Finance – afirma Rafaela Nogueira, economista-chefe da Zetta: – Defendemos a urgente reformulação do sistema de portabilidade, com foco em processos mais modernos, simples e acessíveis.
Veja as condições em alguns bancos:
- Banco do Brasil: É possível migrar para o banco operações de empréstimos consignados e não-consignados, empréstimos com garantia de imóvel, financiamento imobiliário e de veículos. O consumidor pode simular as condições de portabilidade de cada modalidade no app do BB, nas agências ou nos correspondentes bancários;
- Itaú: Para portabilidade de empréstimo pessoal, basta fazer a simulação pelo gerente ou app, formalizar a solicitação e aguardar a análise que pode levar até 5 dias úteis. Já para portabilidade de financiamentos, basta fazer a simulação pelo site e formalizar a solicitação, que será conduzida mediante análise de crédito. As condições para trocar a modalidade de financiamento para quem já tem contrato no Itaú podem ser consultadas através da central de atendimento;
- Santander: O processo total tem prazo máximo de 5 dias úteis, e é sujeito à análise de crédito e à averbação de margem consignável. Para iniciar a portabilidade, além dos dados exigidos, o cliente precisa ter em mãos o contracheque atualizado para comprovar o desconto integral de uma parcela paga. O pedido pode ser feito nas agências do banco ou correspondentes.
- Inter: O banco oferece a portabilidade de crédito consignado, financiamento imobiliário e de home equity. A simulação da migração pode ser feita no aplicativo ou site e os pedidos passam por análise de crédito.
FONTE: EXTRA
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