Novas imagens mostram que autor do ataque entrou acompanhado de colega no banheiro momentos antes do ato. Colega de sala e ‘amiga virtual’ também são alvo de investigação
Mais dois alunos da Escola Estadual Thomazia Montoro, na Zona Oeste de São Paulo, onde um adolescente de 13 anos fez um ataque a faca nesta segunda-feira, são considerados suspeitos pela Polícia Civil. O atentado resultou na morte de uma professora de 71 anos, além de ter deixado outras cinco pessoas feridas, sendo três professoras e dois alunos.
De acordo com o delegado responsável pela investigação no 34° Distrito Policial (DP), Marcus Vinicius Reis, novas imagens das câmeras de monitoramento da escola revelam que um estudante conversou com o autor do ataque e entrou, junto com ele, no banheiro da escola antes do ato. Esse segundo aluno deixou o local momentos antes de o colega sair, já vestindo a máscara que usava quando começou a esfaquear alunos e professores.
— Até então esse aluno não figurava no nosso radar. Ele é suspeito de efetivamente ter participado ou auxiliado. Nós temos uma faca e um pedaço de tesoura, então estamos avaliando se algum desses instrumentos utilizados no crime foi efetivamente fornecido por esse jovem. Isso ainda não está fechado. Temos um tempo para trabalhar essas hipóteses investigativas de coautoria, seja na instigação, seja no induzimento ou seja no auxílio material — disse o delegado.
Outro estudante, colega de classe do autor do ataque, é suspeito de ter incentivado o ato por meio das redes sociais. Esses dois jovens — o que entrou no banheiro e o colega de classe — já foram ouvidos pela polícia e negam ter participado da ação.
Além desses dois alunos da escola Thomazia Montoro, a polícia vai investigar também o possível envolvimento de uma adolescente que mora no interior do estado e que disse ser amiga virtual do autor do ataque. Ela fez apologia ao crime que seria praticado na capital paulista, segundo o delegado.
Os investigadores têm como foco neste momento esclarecer se o estudante teve ajuda ou incentivo de alguém para realizar o ataque. A polícia pediu à Justiça a quebra de sigilo telemático e telefônico do adolescente para acessar suas atividades e trocas de mensagens pelo celular, computador e até mesmo pelo console do videogame Xbox. O Ministério Público se manifestou favoravelmente ao pedido da polícia, e cabe agora à Justiça decidir se atenderá à solicitação.
O delegado Marcus Vinicius Reis diz que já foram identificadas algumas pessoas que interagiram com as publicações do jovem sobre o ataque, fazendo “apologia” ou “se vangloriando” do ato. Elas podem vir a ser intimadas a depor e, a depender do envolvimento com o assunto, poderão também ser indiciadas por cooptação de menores.
— Vamos começar, assim que a Justiça deferir o nosso pedido, uma nova esfera de investigação, que demanda um tempo maior porque exige a análise dos dados, que geralmente são muitos. Vamos partir para a análise das informações de pessoas que fazem eventual apologia ao crime. É um ato infracional? Eu particularmente entendo que sim, que pode haver apologia à prática de atos infracionais — explicou o delegado.
Uma das dificuldades encontradas pela investigação até aqui é a identificação dos donos dos perfis que interagiam com o autor do ataque. Algumas contas foram excluídas das redes sociais, e mesmo as que continuam ativas em muitos casos usam nomes com códigos que não permitem saber quem está por trás daqueles perfis. A polícia pediu ao Twitter a preservação dos dados cadastrais dessas contas, e informou que outras plataformas podem ter os dados requisitados caso mais postagens sejam encontradas.
Dezenas de depoimentos até agora
Mais de 30 pessoas já foram ouvidas no curso das investigações. A polícia pretende tomar amanhã o depoimento da professora Ana Célia Rosa, que recebeu alta ontem do hospital. Também quer ouvir a diretora de outra escola onde o autor do ataque estudou, situada na região da Rodovia Raposo Tavares.
Ainda na tarde de terça-feira, o delegado informou que a mãe de um ex-colega do autor do ataque também registrou boletim de ocorrência contra o jovem. Ele teria ameaçado matar o outro estudante em mensagens enviadas por WhatsApp, nas quais exibia facas e até a foto de uma arma. A polícia não sabe até o momento se o adolescente de fato teve acesso a uma arma de fogo em algum momento, nem onde essa foto teria sido feita.
O autor do ataque está detido provisoriamente em uma unidade da Fundação Casa. A Justiça determinou que ele deverá permanecer no local por até 45 dias. Sua permanência em detenção será reavaliada em audiência marcada para 4 de abril.
Permanência na Fundação Casa
O delegado Marcus Vinicius Reis diz esperar que o jovem permaneça na Fundação Casa. Segundo ele, o aluno se mostrou “frio” e “sem muita emoção” ao dar detalhes sobre o ataque no depoimento prestado na segunda-feira. Ele também disse que pretendia comprar uma arma de fogo e que treinava os golpes com a faca em um travesseiro.
O 1º DP de Taboão da Serra, na região metropolitana, havia sido informado sobre “comportamentos suspeitos” desse estudante um mês antes do ataque na escola Thomazia Montoro. Isso porque uma funcionária do colégio anterior do aluno, a Escola Estadual José Roberto Pacheco, registrou boletim de ocorrência relatando que o jovem compartilhava imagens e mensagens intimidadoras que estavam preocupando os pais dos demais alunos.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou que a delegacia “determinou a oitiva das testemunhas e notificou a Vara da Infância e Juventude e o Conselho Tutelar do Município”, sem detalhar outras medidas adotadas.
FONTE: EXTRA
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