Esporte

Perto do Rio 2016, carioca de 20 anos corre pelo sonho de toda uma família

Com índice para os Jogos em sua cidade natal, velocista Vitória Rosa teve que deixar casa dos pais aos 14 anos e escreve caminho que sua mãe foi obrigada a abandonar

Vitória teve que ganhar maturidade bem antes das garotas de sua idade, antes mesmo de suas irmãs mais velhas. Tinha apenas 14 anos quando decidiu assumir o risco de sair de sua casa para apostar as fichas no que acreditava que seria sua vocação. Deixou de lado um ambiente de acolhimento onde nasceu para viver dentro do Centro de Treinamento da Marinha do Brasil, onde treina até hoje no Rio de Janeiro. Fez isso não somente por seu sonho, mas pelo sonho de toda uma família. Perto de conseguir disputar os Jogos Olímpicos do Rio 2016, na cidade onde nasceu e foi criada, a velocista de destaque da família Silva Rosa corre pela realização de suas cinco irmãs e, sobretudo, da mãe.

– Acho que ainda existem sonhos a serem alcançados. Mas me sinto vitoriosa de estar proporcionando essas conquistas não só para mim, mas para meu treinador, companheiros de treino e também para minha família. Mostrando que sonhos podem se tornar realidade, independentemente do que ou de onde esteja. Quando temos uma meta, o que era sonho pode se tornar realidade – diz a jovem atleta.

vitória rosa atletismo  (Foto: Alexandre Durão)
V de Vitória: história de superação para sonhar com sucesso no atletismo brasileiro (Foto: Alexandre Durão)

A casa em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, é onde esse sonho foi criado. Na rua tranquila e silenciosa, vive uma família conhecida pelo suor, seja do trabalho ou da corrida. O abrigo do sonho fica em um lar que foi construído pelo próprio pai da família, o pedreiro Genaro, que respira orgulho ao mostrar o local onde guarda as medalhas da filha. Vibra de saber que ela pôde conhecer alguns cantos do mundo representando a bandeira do Brasil.

Há mais de 20 anos, a mãe Sônia também tinha esses sonhos, praticava e enxergava o atletismo como forma de viver o que parecia tão distante. Assim como Vitória, queria ir longe, estar entre os melhores. Imaginava, claro, as Olimpíadas. No entanto, em um tempo onde apoio e crescimento eram ainda mais difíceis que hoje no país, se viu obrigada a desistir para trabalhar como doméstica. Assim pôde ajudar em casa e na criação de cada uma das suas filhas.

Assim como o marido, se orgulha de nunca ter permitido que algo faltasse. Juntos, abriram mão de seus sonhos para que todas tivessem as melhores oportunidades naquele momento. Até hoje se orgulha do fato de seguir sendo uma batalhadora e trabalhar dia após dia. Mesmo nos momentos mais difíceis e tristes que hoje preferem nem ser lembrados, uma de suas missões foi a de reinventar esse sonho. Coube para uma de suas herdeiras correr pela causa.

Todas meninas Silva Rosa tentaram sucesso nas pistas de atletismo do Rio de Janeiro, mas as duas mais velhas pararam. Terceira da turma, Vitória, de 20 anos, foi além para se tornar a maior realidade daquela casa. A menina que corria atrás das irmãs figura hoje entre as melhores velocistas do Brasil no ano olímpico. Pode conseguir compor o time do revezamento 4x100m e tem índice atualmente na prova dos 200m, após correr 23s11 no Troféu Brasil do ano passado, em maio. Só perde a vaga na prova se o tempo dela for superado por três atletas até o fim da janela de obtenção de índice, em julho.

– Não tinha noção de que seria capaz de fazer índice agora para os Jogos do Rio. Pela minha idade, por ser nova no grupo. Mas as coisas acontecem nas nossas vidas para nos fazerem crescer. Tanto na minha vida social, quanto na minha carreira profissional – diz a menina.

família vitória rosa velocista atletismo  (Foto: Alexandre Durão)
Sônia, Genaro entre as filhas Vitória, Joyce, Natalia, Daniele e Jessica, além dos netos (Foto: Alexandre Durão)

Lá atrás, Vitória quase deixou a pista de atletismo, indo contra o tal destino familiar. Chegou a praticar na infância o handebol, dentro de sua escola no Rio de Janeiro. Em 2012, uma professora de educação física sabiamente percebeu o que toda a família já sabia naquela altura e incentivou a menina a correr. Ela chegou a tentar conciliar as duas modalidades, mas logo fez sua escolha definitiva.

Vitória Rosa atletismo (Foto: André Durão)
Vitória abraça seu técnico e mentor, o tenente Robson Alhadas (Foto: André Durão)

Desde então, teve no tenente Robson Alhadas, seu mentor e treinador, um alicerce fundamental nessa ainda breve carreira. Regularmente, treina desde as primeiras horas da manhã e vive até hoje no mesmo alojamento de quando iniciou a trajetória. Além das oportunidades na categoria juvenil e menor, Vitória começou a colher frutos no cenário nacional ano passado. Disputou as duas principais competições de 2015, como o Pan de Toronto e o Mundial de Pequim. A menina de Santa Cruz realizou o sonho familiar ao desbravar o mundo pela rota das pistas.

– Quando sai de casa, não sabia se iria dar errado ou certo, mas queria ao menos tentar. Não tinha objetivos, não tinha noção de quanto esse mundo era grande, as coisas boas que poderia me oferecer, o que poderia ganhar. Mas fui com cara e coragem, apesar de ser tão nova – lembra.

A filha de Genaro e Sônia é motivo de orgulho antes mesmo da abertura dos Jogos Olímpicos de 2016. Apesar de estar perto de participar, Vitória ainda é considerada um talento muito jovem, a ser ainda mais lapidado para o próximo ciclo olímpico, que tem como auge os Jogos de Tóquio 2020. Inspirada pela pai pedreiro, que ergueu passo a passo a casa da sua família nos tempos de dificuldade, a velocista não tem a ansiedade e pressa que mostra nas pistas. Reconhece que amadureceu com o tempo.

– Fui crescendo e amadurecendo, objetivos e metas foram surgindo ao lado do Robson Alhadas. Foi me mostrando o lado bom da vida, me mostrando que para conquistar algo tinha que fazer por onde.

vitória rosa atletismo  (Foto: Alexandre Durão)
Sorriso ainda é de menina (Foto: Alexandre Durão)

A velocista vem gradativamente suas marcas. Na prova dos 100m, tinha o tempo de 11s69 em 2013. No ano passado evoluiu para a melhor marca pessoal de 11s52. Nos 200m, por sua vez, saiu de 24s90 para os 23s11 que a garantiram o índice.

– Ela tem uma vontade de vencer absurda. Talvez seja o nome dela. Para mim, ainda é um menina. Uma menina que sonho o sonho dela. Sonho de ser uma campeã – diz o técnico, mentor e um segundo pai da menina, Robson.

Com os resultados melhores, a promessa começou a fazer parte de fato da equipe brasileira de atletismo. Além das competições, tem sido convocada de forma recorrente para os campings de treinamento internacionais, tendo mais oportunidades de correr em cenários internacionais. Pôde inclusive correr ao lado de sua grande referência, a americana Carmelita Jetter. A mais vitoriosa de uma família de corredoras cresce a passadas grandes.

– A grande conquista é você poder ver seus filhos dando passos largos – diz o pai de Vitória, Genaro.

Vitória está em fase final de preparação para aquele que deve ser o fim de seu precoce primeiro ciclo olímpico. Após participar de campings com a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), disputará o evento-teste do Rio, na próxima semana. A última competição de obtenção de índice para os Jogos Olímpicos será dia 3 de julho, no Troféu Brasil.

Vitória Rosa e família atletismo (Foto: André Durão)
Vitória Rosa recebe o beijo dos pais (Foto: André Durão)

Vitória Rosa atletismo (Foto: André Durão)
Vitória Rosa esbanja estilo na pista (Foto: André Durão)
vitória rosa atletismo  (Foto: Alexandre Durão)
Vitória tem o apoio do pai, que construiu sua casa e torce pelos “passos largos” da filha (Foto: Alexandre Durão)
Fonte: globoesporte

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Gomes Oliveira

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