Ministro pede voto de confiança em Barbosa e diz que ele não fará ‘nenhuma loucura’
BRASÍLIA — O ministro Jaques Wagner (Casa Civil) afirmou na manhã desta terça-feira que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de dar ao Senado a palavra final sobre o impeachment e revogar a comissão criada pela Câmara é “o renascimento do governo Dilma”. Para Wagner, a presidente sai de “um governo perseguido para um governo que ganha certa liberdade para atuar”.
— O STF, como poder mediador, deu a dimensão necessária à magnitude do impeachment. No presidencialismo, o impeachment de um presidente é quase uma pena de morte para o cidadão comum, ainda mais se ocorre sem um rito que não respeita isso — afirmou, em conversa com jornalistas, no Palácio do Planalto.
Segundo Wagner, o instrumento impeachment não é “golpe”, sobretudo se for aprovado pelas duas Casas, a Câmara e o Senado. Disse, no entanto, que ele não pode ser banalizado. Na avaliação do ministro, o processo aberto pela Câmara no mês passado contra a presidente Dilma não evoluirá na volta do recesso parlamentar, em fevereiro.
— O impeachment, em si, não é golpismo. O que pode ser golpe é banalizá-lo e o que o STF fez foi valorizá-lo para a democracia brasileira. Não é golpe se as duas casas acolherem. Agora, pessoalmente acho que no caso da Dilma criou-se a bandeira para depois se buscar uma razão. Diga-se o que quiser da presidente, mas não se dirá que é dolosa no trato da coisa pública, não cola nela — disse o chefe da Casa Civil.
O ministro afirmou que a mudança na equipe econômica foi boa para o país e para o governo. Na sua avaliação, a economia é movida por “previsibilidade e confiança”:
— Tendo uma nuvem cinzenta de instabilidade “vai ficar ou vai sair? (com relação ao ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy)” é um fator desagregador. Como um agente estrangeiro vai vir investir se não sabe que quem está no comando da política econômica ou se ele vai se manter? Acho que é danoso (o que estava ocorrendo).
Wagner pediu um voto de confiança da sociedade, do mercado e das empresas ao novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Disse que a nova equipe econômica é “mais harmônica” e que Barbosa não fará “nenhuma loucura”.
— Se eu eu pudesse pedir algo, é que não sentenciassem antes que o cara trabalhasse. No Brasil, temmos que ter uma certa psicologia. Ninguém (no governo) é suicida. Tem que ter um pouco de aposta, de ajuda, de querer que dê certo. Nelson não vai fazer nenhuma loucura, é um cara equilibrado — disse Wagner.
ERROS NA ÁREA ECONÔMICA
O ministro da Casa Civil admitiu que o governo cometeu erros na área econômica, citando, entre eles, a reoneração dos 56 setores que haviam tido redução de impostos, e as mudanças frequentes da meta fiscal do governo.
— Lógico que tem erros. Teve medidas tomadas onde a posologia foi errada, as desonerações, nosso fiscal, não há uma culpa só. Fizemos apostas que não deram certo. Poderíamos ter desonerado três ou quatro setores, mas desoneramos mais de 50 — exemplificou.
Segundo o ministro, a presidente Dilma quer encaminhar ao Congresso, logo no começo de 2016, a Reforma da Previdência , mas, antes, quer apresentar quatro cenários e discutir com todos os partidos e centrais sindicais qual o melhor modelo para o país. Segundo ele, ainda não há uma proposta fechada quanto à adoção da idade mínima para a aposentadoria, mas que é um ponto debatido internamente.
— A cronologia que a presidente quer fazer, nós trabalhamos muito internamente. Então nós temos três, quatro cenários de objetivos a atingir de regras de transição. O que eu entendo que é a cronologia que a presidente vai querer fazer é trabalhar nessas três quatro hipóteses, convidar os partidos da base, as bancadas, e começar a discutir. Isso não é um tema só dela. É um tema caro para os governadores.
Além da reforma, Dilma anunciará um conjunto de medidas “em três ou quatro eixos”. Wagner citou os acordos de leniência; simplificação do sistema tributário; desburocratização das relações de trabalho, como a livre negociação entre as empresas e sindicatos; e financiamentos de longo prazo.
Wagner evitou críticas ao vice-presidente Michel Temer e à ala pró-impeachment do PMDB. Relativou as questões internas do partido do vice, dizendo que todas as legendas, entre elas, o PT, têm divisões.
— Plantou-se muita intriga. Prefiro ficar com as partes melhores do que vi deste filme. Ele é vice, ela é presidente, os dois têm maturidade suficiente. Brigas são comuns. Ele continua vice, ela presidenta e vão se esclarecendo as coisas — disse.
Quanto à relação do governo com a Câmara e com o Senado, Wagner afirmou que, historicamente, a relação com os senadores é “mais tranquila”, mas que acredita que está ocorrendo uma recomposição com os partidos aliados na Câmara. Ele evitou críticas diretas ao presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), limitando-se a dizer que seu destino ao governo não pertence.
— O destino do presidente da Câmara não me pertence, pertence ao Conselho de Ética e ao STF, mas eu acho que os partidos começam a ter postura que querem outro tipo de caminho, não querem ficar na beligerância contínua — disse.
Sobre o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o ministro afirmou que sua quebra de sigilos bancário e fiscal não interfere na relação com o Planalto e com a presidente Dilma.
— Ela tem uma relação com Renan, olhando a fotografia hoje, é muito boa. Mas as relações são instáveis, ele é presidente de um poder que tem autonomia — afirmou.
Fonte: oglobo
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