Enquanto debates se arrastam, iniciativa privada já investiu US$ 33 bi em projetos verdes
LE BOURGET, França – Enquanto os governos tentam buscar uma equação para garantir o pagamento de US$ 100 bilhões acordados há exatos cinco anos para financiar ações de combate à mudança climática até 2020, e o novo valor que vai vigorar a partir de então, o setor privado pode tê-los deixado para trás. Mil investidores da iniciativa privada já teriam se comprometido com pelo menos US$ 33 bilhões para novas iniciativas, de acordo com dados divulgados pela Agenda Ação Lima-Paris. E estes números não incluem os US$ 2 bilhões anunciados na primeira semana da COP21 que só o bilionário Bill Gates colocará na Breakthrough Energy Coalition que montou com Mark Zuckerberg, do Facebook, Jeff Bezos, da Amazon, Jack Ma, do Alibaba, e Richard Branson, da Virgin. A partir do fundo, o grupo investirá em empresas em estágio inicial com potencial de produzir a energia do futuro, com emissão de carbono próximo a zero.
Pelas contas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), cerca de US$ 62 bilhões estariam disponíveis entre fundos e iniciativas bilaterais para ações do clima. Mas o que conta, segundo a delegação brasileira, é o valor disponível no chamado Fundo Verde, parte do acordo firmado na conferência do Clima de Copenhague em 2009. O fato é que cientistas, especialistas e os próprios negociadores concordam que o alvo de US$ 100 bilhões estipulado há cinco anos, que ainda está longe de ter sido atingido, também está longe de ser suficiente para financiar todas as ações necessárias para conter o aquecimento global em até 2 graus Celsius até 2100. Há discussões em curso para que o valor seja elevado. Mas não há sequer consenso sobre quem deverá pagar o que foi definido. E não se tem clareza de quanto já está disponível de fato. Dependendo da fonte, o cálculo é diferente. Estima-se que os governos coletivamente gastem mais de US$ 1 trilhão anualmente com subsídios à energia, agricultura e pesca.
Acordo está na mão de 14 ministros
Catorze ministros terão a responsabilidade de ajudar a salvar o acordo contra o aquecimento global nos próximos dias. Os nomes foram escolhidos a dedo pela presidência da Conferência do Clima — que está nas mãos da França — para facilitar as negociações sobre os principais entraves a um entendimento e acertar, de uma vez por todas, os ponteiros entre os 195 países participantes, aproximando as demandas e as obrigações de ricos e pobres.
Não se trata apenas de quanto e quando os países ricos pretendem pagar para financiar as medidas de redução de emissões entre as nações em desenvolvimento, mas de como se darão as bases do relacionamento entre os dois lados a partir de 2020, quando entrará em vigor o novo acordo. Os emergentes brigam para que as iniciativas (ou a falta delas) que venham a tomar contra o aquecimento global não sejam usadas no futuro como novas barreiras comerciais às suas exportações de produtos e serviços. Teme-se um discurso perigoso que prega a mudança do clima como desculpa para restringir as importações.
— É claro que caberá aos consumidores no futuro escolher os seus fornecedores. Isso pode, por exemplo, restringir importações dos países que não agiram. Mas isso não quer dizer que os governos vão criar essas restrições. Somos pelo livre comércio — afirmou ao GLOBO um ministro europeu que participa das negociações.
No rascunho que será discutido essa semana, há um parágrafo inteiro tratando desta questão entre colchetes. Ou seja, não há consenso sobre ele. “Os países desenvolvidos não deverão de forma alguma recorrer a medidas unilaterais contra mercadorias e serviços de países em desenvolvimento em quaisquer bases relacionadas à mudança do clima”, diz um trecho do documento, que mais adiante lembra que devem ser considerados os princípios da igualdade, responsabilidades comuns, porém diferenciadas, e as obrigações dos países desenvolvidos de prover recursos para o financiamento, transferência de tecnologias e apoio aos emergentes.
A pedido dos franceses, os facilitadores correrão contra o tempo para que se feche um acordo inédito até quinta-feira. A ministra brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, ficou justamente a cargo da diferenciação entre os países, tema que passa praticamente por todos os pontos em aberto do rascunho finalizado no sábado. O que se quer evitar é que os países desenvolvidos não só fujam da responsabilidade de arcar com a conta histórica das emissões de gases de efeito estufa dos últimos séculos, como também criem obrigações para os emergentes, que ainda precisam se desenvolver e enfrentar sérias questões sociais e econômicas domésticas. Estes últimos também deverão ter compromissos amarrados para receber os recursos de financiamento que tanto querem.
Especialistas apostam na contribuição cada vez maior da iniciativa privada. Até porque as empresas já entenderam que investir em novas tecnologias e energias renováveis é um bom negócio.
Prova disso é que a campanha de desinvestimento dos combustíveis fósseis quebrou um novo recorde na COP21. Mais de 500 instituições que representam mais de US$ 3,4 trilhões em ativos fizeram algum tipo de compromisso de desinvestimento, de acordo com a 350.org e a Divest-Invest, duas organizações que estão coordenando o movimento. Trata-se de companhias deixando de investir ou de usar energias fósseis.
O presidente da COP21 e ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, determinou as regras de negociação da etapa final de negociações para esta semana. Ele tem pressa.
— Enquanto discutimos, os gases de feito estufa continuam a ser emitidos E daqui a pouco, isso será irreversível. Temos que conseguir. E aqui.
Fonte: oglobo
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