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Inalar cloroquina pode transformar esperança de cura em morte

No Rio Grande do Sul, médica está sendo investigada por óbitos de pacientes com covid que fizeram nebulização com remédio

As mortes de três pessoas que foram submetidas a um tratamento experimental com hidroxicloroquina inalada no Rio Grande do Sul acendem um alerta sobre a administração errada deste e outros medicamentos por pacientes com covid-19.

Médicos ouvidos pelo R7 nos últimos dias relataram já ter conhecimento de pacientes que deram entrada em prontos-socorros após fazerem nebulização com cloroquina ou hidroxicloroquina em casa.

No caso do Rio Grande do Sul, os pacientes sob cuidados da médica Eliane Scherer receberam uma solução do medicamento diluído em soro fisiológico aplicado pela via inalatória.

“Todos eles têm documentado em prontuário taquicardia, ou arritmias, algumas horas após receberem a nebulização. Dois deles já estavam em grave estado geral, com insuficiência respiratória em ventilação mecânica e um deles estava estável, recebendo oxigênio por máscara com boa evolução”, afirma nota do Hospital Nossa Senhora Aparecida, em Camaquã, onde a médica trabalhava.

A presidente da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia), Irma de Godoy, explica que a inalação de comprimidos tem dois problemas: o risco de lesões aos pulmões e o aumento da absorção, por ser um órgão altamente vascularizado.

“Remédios para inalação são próprios para isso, com o mínimo de substância associada. O comprimido, além de ter os componentes do medicamento, ainda tem silicato e uma série de substâncias que vão irritar o pulmão, causar inflamação maior ainda que ela já tem.”

Segundo a médica, esse tipo de procedimento não tem qualquer respaldo científico e estava sendo feito de maneira experimental, sem autorização do Conep (Conselho Nacional de Ética em Pesquisa).

“Toda pesquisa tem que passar pelo processo de regulação. Isso aí eu acho que é uma questão de charlatanismo, antiética e que pode até ter um lado criminal, porque você está fazendo experimentos com seres humanos sem ter passado por nenhum órgão responsável.”

Às pessoas que estão em casa e cogitaram fazer inalação com algum tipo de comprimido, Irma diz que o resultado pode ser trágico.

“As pessoas que fizeram morreram disso, há riscos grandes envolvidos nisso. Se algum médico propor isso, você tem que, no mínimo, procurar uma segunda opinião.”

O próprio uso oral da cloroquina e da hidroxicloroquina já é assunto superado por todas as sociedades médicas de respeito no mundo.

O Ministério da Saúde brasileiro, no entanto, mantém até mesmo uma diretriz que orienta médicos sobre doses da droga associadas ao antibiótico azitromicina.

FONTE: R7.COM

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