Pesquisadores do Centro de Estudos de Biomoléculas Aplicadas à Saúde (CEBio), da Fundação Oswaldo Cruz Rondônia, estudam a leishmaniose, também conhecida por calazar (úlcera de Bauru) ou febre dundun, quando manifestada na forma visceral. Trata-se de ferida tegumentar infecciosa, porém, não contagiosa, provocada pela picada do mosquito flebótomo (mosquito-palha), que ataca seres humanos, cães, gatos e animais silvestres no Brasil e em países sul-americanos.
Segundo a biomédica Lilian Motta, nas regiões de Candeias do Jamari, Porto Velho e em diversos assentamentos rurais ocorrem, anualmente, 1,2 mil casos dessa enfermidade, cujo tratamento ainda é feito com 20 doses de injeção glucantime em qualquer posto de saúde. A dosagem do medicamento deve ser ajustada conforme as condições do paciente. Dados do Ministério da Saúde revelam que o Brasil teve 600 mil casos no período 1992-2011.
A Fiocruz-RO reuniu um grupo de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Biologia Experimental (PGBioexp) da Universidade Federal de Rondônia (Unir) e das Universidades Federais do Acre (Ufac), Maranhão (Ufma) e São Paulo (Unifesp).
Modelos celulares in vitro, estudo de animais e amostras humanas de pacientes diagnosticados revelam que o controle da leishmaniose cutânea implica reduzir a pobreza do país, por meio de melhor qualidade de vida, boa alimentação e menos desnutrição. Isso evita que a pessoa seja alvo fácil para a doença.
Conforme o diretor do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (Cepem), biólogo doutor Ricardo de Godoi Mattos Ferreira, os estudos relacionam características clínicas dos pacientes com a espécie do parasita, observando-se a correlação entre espécies identificadas e locais de infecção na procedência de cada um. “A disseminação da infecção ocorre através do sangue; um ou dois anos após o início da doença, as lesões provocam vermelhidão e edema do septo nasal, evoluindo para a formação de feridas que atingem a mucosa do nariz”, explica.
Serpentes, extratos de plantas e anuros (sapos venenosos) contribuem para a produção de kits de diagnósticos. O Laboratório de Biotecnologia desenvolve nanocápsulas que interagem especificamente com os macrófagos, obtendo a redução da dose necessária para a atividade quimioterápica.
Pesquisadores trabalham com estruturas que podem atuar como carreadoras de drogas, e estas agirão diretamente na célula-alvo. No caso da leishmaniose, isso ocorre no macrófago, que intervém na defesa do organismo contra infecções. Os resultados desses estudos são oferecidos às populações do sul do Amazonas, Noroeste de Mato Grosso e regiões fronteiriças.
Algumas substâncias extraídas da planta amazônica Combretum leprosum se mostraram muito ativas contra o parasita da leishmaniose, particularmente os triterpenos, que originam em animais ácidos biliares, vitamina D e hormônios esteroidais. Contudo, em testes de toxicidade, essas substâncias ainda são incompatíveis com o uso clínico.
Na avaliação do comportamento clínico da leishmaniose tegumentar em Rondônia, a equipe coordenada pelo doutor Mattos Ferreira obtém dados epidemiológicos das espécies responsáveis pelos casos ocorridos no estado. “As pesquisas são financiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)”, lembra o diretor adjunto, professor doutor Mauro Tada.
No Brasil existem atualmente sete espécies de Leishmania responsáveis pela doença humana e mais de 200 espécies de flebotomíneos implicados em sua transmissão.
De acordo com o doutor e pós-doutor em Biociências Aplicadas à Farmácia, Roberto Nicolete, dentro da interação com seleção biológica em áreas isoladas com casos de leishmaniose e malária, investigações médica e científica se unem sob o rigor dos testes de laboratório feitos diariamente por entomologistas, microbiologistas e virologistas.
Nos anos 1960/70, quando recebeu levas de migrantes do sul, sudeste, centro-oeste e nordeste do país, Rondônia conhecia a leishmaniose nos cantões da floresta e zona rural, onde ainda ocorrem filarioses, toxoplasmose, micoses profundas e a doença de Chagas (causada pelo bicho barbeiro).
Durante a instalação de projetos integrados de colonização e de assentamento dirigido, as primeiras avaliações foram feitas nos tempos do velho território federal, por médicos sanitaristas de Belém, Manaus e Brasília. Convidados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e pela extinta Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam), eles conheceram as dificuldades de vida na selva.
ROTAVÍRUS
De 2012 para cá, pesquisadores da Fiocruz também descobriram casos de diarreia em crianças, 25% em consequência de rotavírus, doença causada por sete tipos diferentes de sorotipos que são antigênicos diferentes, mas da mesma espécie microbiana. Apenas três infectam o ser humano e que não requer antibióticos para tratar, apenas tratamento de suporte.
Para o doutor Mattos Ferreira, há muitas causas indeterminadas dessa doença nos aspectos bacteriano ou viral. “Já estabelecemos base para essa investigação”, informa.
Segundo ele, a experiência dos pesquisadores fortalece dois aspectos: detectar a etiologia (causa) e economizar antibióticos. O estudo é feito em colaboração com o Hospital Cosme e Damião, em Porto Velho, onde são atendidas, em média, 180 a 200 crianças diariamente. Rotavírus pode levar à desidratação, vômitos, febre, problemas respiratórios (coriza e tosse). A transmissão pode ser fecal-oral, ou seja, o vírus é eliminado nas fezes do paciente, contamina a água ou alimentos, e pode entrar em contato com a pessoa através das mãos.
Fonte: SESDEC
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