A contratação do goleiro Bruno pelo Rio Branco se tornou o assunto mais comentado na capital acreana. Até a pandemia da Covid-19 foi “esquecida” diante da enorme repercussão sobre o caso.
O presidente do Estrelão, Neto Alencar, garante que a diretoria não volta atrás e Bruno só não joga com a camisa do clube com mais títulos na história do futebol profissional do Acre se não quiser.
O dirigente, caso mantenha a palavra a resista a toda repercussão negativa, será uma exceção na carreira do jogador após ser condenado a 20 anos e 9 meses de prisão pelo homicídio triplamente qualificado de Eliza Samúdio e pelo sequestro e cárcere privado do filho Bruninho.
Nos últimos anos, a contratação do goleiro, que foi ídolo e campeão brasileiro pelo Flamengo em 2009, tem repetido o mesmo enredo. O clube contrata, há uma enorme repercussão, perda de patrocínio e a desistência por parte do time.
Clubes como Operário do Mato Grosso e Fluminense de Feira de Santana na Bahia, tentaram a contratação e foram obrigados a desistir da ideia.
Desde que foi preso, Bruno jogou, em 2017, cinco partidas pelo Boa Esporte de Minas Gerais, antes de voltar à cadeia por decisão do STF. Em outubro do ano passado, chegou a assinar contrato, mas só jogou 45 minutos com a camisa do Poço de Caldas, equipe da 3º divisão do futebol mineiro.
A última manifestação de pressão para que o Rio Branco desista da contratação do goleiro vem das mulheres do Acre. O manifesto, assinado por mais de 30 entidades, lembra que o Acre tem um dos mais altos índices de crime contra as mulheres.
Leia abaixo na íntegra:
Manifesto das Mulheres do Acre contra a contratação do feminicida Bruno
Nós, mulheres do Acre, estamos vindo a público manifestar o nosso repúdio ao Rio Branco Futebol Clube pela contratação do feminicida goleiro Bruno Fernandes.
Não podemos supor que se trate de algo diferente de uma afronta, de um escárnio para com a sociedade acreana e para com a luta das mulheres. É um desrespeito com as vítimas do machismo, da misoginia e do feminicídio. Um desrespeito, também, com a família de Eliza Samúdio que, até hoje, não pôde velar o seu corpo.
Para iniciar uma remissão de verdade, Bruno deveria no mínimo revelar onde está o corpo de Eliza, dando, assim, uma oportunidade de seus parentes dar-lhe um enterro decente e prestar-lhes as homenagens que desejarem a uma mulher que foi morta porque reivindicava seus direitos e de seu filho.
Todos os dias, mulheres diversas sofrem os mais distintos tipos de violências inimagináveis, bem como Eliza que reivindicava o direito basilar de pensão alimentícia.
É uma afronta e um escárnio, sim, o Rio Branco tomar tal decisão em um estado que tem um dos mais altos índices de crimes de violência contra a mulher, segundo os dados do Monitor da Violência.
Se torna afrontoso e vergonhoso que um time acreano se mostre distanciado das causas e das lutas das minorias e se submeta à execração pública, à repulsa de seus próprios torcedores e à condenação da sociedade em que está inserido. Isso nos faz retornar aos tempos no qual o Acre era o local para onde eram enviados sujeitos rejeitados no Sul-Sudeste, os desterrados de 1904 e 1910. O Acre, assim, continua sendo apresentado como um lugar para aqueles que não são bem vindos lá.
Sobre o futebol, lembramos que esse esporte forma ídolos de crianças, jovens e adultos, o que torna inconcebível que crianças admiradoras de seus atletas possam, em algum momento, ter como ídolo o Goleiro Bruno como pretende o histórico time que, com essa contratação, venha projetar esse homem como líder para sua torcida.
Não estamos aqui defendendo que Bruno não tenha direito à ressocialização, a um trabalho que garanta o sustento na sua retomada pelo caminho do bem, dentro dos preceitos legais que a sociedade exige. Não! Não é isso. Bruno pode e deve trabalhar, mas não em posição de destaque dentro do futebol. Não numa posição que possa destacá-lo como ídolo, como herói de uma torcida. Heróis se pautam pela justeza, pela ética, pelo respeito aos direitos humanos.
Neste momento de indignação, nós, mulheres dos movimentos sociais organizados, nos juntamos à demais instituições da sociedade civil, dirigidas e apoiadas por homens e mulheres, torcedores e instituições democráticas legalmente constituídas, para EXIGIR que a diretoria do Rio Branco Futebol Clube reveja, IMEDIATAMENTE, a decisão da contratação do Goleiro Bruno.
EXIGIMOS, ainda, que sua diretoria venha a público, diante da sociedade e de sua valorosa torcida, pedir desculpas pela afronta que fez. EXIGIMOS ainda uma manifestação dos patrocinadores, pois como consumidoras, não aceitaremos que empresas locais das quais somos clientes, patrocine esse tipo de iniciativa.
Finalizando, a título de pedido, queremos que o Rio Branco Futebol Clube dê o exemplo ao Acre, ao Brasil e ao Mundo, acrescentando em seu estatuto a decisão de não mais contratar homens condenados por crimes contra mulheres.
Rio Branco, 27 de julho de 2020
Assinam:
IMA/Instituto Mulheres da Amazônia
MAMA/Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia
AMB/Articulação de Mulheres Brasileiras
UBM/Uniao Bradileira de Mulheres
CEDIM/Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres
SITOAKÖRE- Organizacao de Mulheres Indígenas do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia
ADUFAC
MMC/Movimento de Mulheres Camponesas
ABMCJ/Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Juridica – Comissão do Estado do Acre
CEDDHEP/Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular – Acre
Associação das Mulheres Negras do Acre
ASDAC/Associação de Dança do Estado do Acre
REMUT- Rede de Mulheres de Tarauacá
ABORDA – Associação Brasileira de Redução de Danos
Gegt Acolher/Grupo de estudos em Gestalt-terapia do Acre
AJEB/Associação de Jornalistas e Escritoras Brasileiras, seção Acre
Associação Agá & Vida
Grupo Vivarte
Federação de Teatro do Acre – FETAC
Grupo Aguadeiro
AsAguadeiras
Cia Visse e Versa
Coletiva Teatral Es Tetetas
Coletivo Tempo de Teatro
Companhia de Teatro Expressão
Coletivo Elas que lutam do Sinasefe- IFAC
CRP/Conselho Regional de Psicologia) 24 – Seção Acre
ABRAJET/Associação Brasileira de Jornalistas em Turismo
COMPIR/Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial
Tropa Mamulungu
Coletivo Bocudas – Brasiléia
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