Acordo com sindicatos para reduzir atendimento presencial colocou 300 mil funcionários em home office; setor considerado essencial registrou pelo menos 22 óbitos de bancários ativos por Covid-19
Incluídas nas atividades essenciais, cerca de 2.200 agências bancárias foram fechadas em todo o país durante a pandemia após negociação entre bancos e entidades sindicais, para reduzir o atendimento presencial. O montante equivale a aproximadamente 10% dos estabelecimentos no Brasil e reflete a preocupação da categoria.
Até o momento, pelo menos 22 bancários que estavam na ativa morreram devido à doença, segundo levantamento feito por ÉPOCA junto ao Comando Nacional dos Bancários e sindicatos de nove estados. Levando em conta Amazonas, Bahia, Ceará, Pará e Pernambuco, que monitoram os dados a partir de denúncias de bancários, o número de infectados beira 500. As entidades afirmam que há subnotificação dos casos.
Para evitar um número ainda maior, o Comando Nacional dos Bancários e a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) acordaram que funcionários pertencentes ao grupo de risco ou que coabitem com pessoas do grupo risco trabalhariam de casa. Atualmente, cerca de 300 mil dos 450 mil bancários do país estão em home office, alguns em esquema de revezamento, segundo a Febraban.
“Estamos em processo de negociação permanente, o que possibilitou colocar muita gente em casa. Avaliamos que isso salvou muitas vidas”, afirmou Juvandia Moreira, presidente da Coordenação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) e coordenadora do Comando Nacional dos Bancários.
As entidades representativas de bancários e bancos mantêm reuniões periódicas por videoconferência e criaram um comitê de crise para acompanhar o tema. As principais questões negociadas foram a disponibilização de máscaras, o controle de acesso do público às agências, a adoção da telemedicina a funcionários e o compromisso com a higiene.
Apesar da possibilidade de acesso via internet, a ida às agências ainda é habitual. O auxílio emergencial de R$ 600 dado a trabalhadores informais e pessoas de baixa renda elevou a corrida aos bancos, sobretudo à Caixa Econômica, responsável por centralizar quase integralmente o pagamento do benefício. Cerca de 60 milhões de cidadãos se cadastraram no programa.
De acordo com a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), em abril, havia cerca de 100 casos confirmados e 200 suspeitos de Covid-19 entre colaboradores do banco. Os dados já estão defasados, conforme a Fenae.
O bancário Raul Campelo, 41, foi um dos que não entrou nessa conta. Ele trabalha em uma agência da Caixa em Recife (PE) e foi diagnosticado com a doença em maio. Campelo começou a sentir os sintomas no último dia 8, quatro dias após retornar das férias, que passou isolado com a família em um sítio no interior do estado. Por não ter tido contato com outras pessoas no período, acredita ter contraído o vírus no trabalho.
“Com certeza, foi trabalhando”, afirmou o bancário. “Mesmo tomando os cuidados, tem contato, a gente troca documentos com os clientes. Não tem como eu pagar o benefício sem receber na minha mão a documentação para análise”, emendou.
A agência de Boa Vista, na capital pernambucana e onde Campelo trabalha, foi fechada para higienização, e todos os funcionários que tiveram contato com o bancário ficaram cinco dias em observação em casa. Nesse período, outra colaboradora teve a infecção confirmada.
Os bancos têm promovido higienizações em agências que registraram infectados ou até suspeitos em alguns casos. Funcionários ouvidos por ÉPOCA relataram que nem todos que apresentaram sintomas estão fazendo o teste. A Agência Nacional de Saúde (ANS) incluiu o PCR, exame que detecta a Covid-19, no plano de saúde dos colaboradores.
As maiores instituições privadas – Itaú, Santander e Bradesco – se comprometeram a não demitir durante a pandemia. Bancos públicos, por sua vez, oferecem maior estabilidade. O horário de atendimento ao público reduziu e agora é feito entre as 10h e as 14h. Ainda assim, sindicatos afirmam que a preocupação com o contágio e a pressão para bater metas têm provocado um estresse à categoria.
“Fora a questão do coronavírus, está tendo um extremo estresse mental da categoria. O clima é de terror. Máscaras e telas de acrílico são paliativos. Não resolvem o problema”, disse Gilberto Leal, diretor de saúde do Sindicatos dos Bancários do Rio de Janeiro.
O sindicato pleiteia o agendamento do atendimento, a colocação de uma enfermeira na entrada dos bancos para medir a temperatura dos clientes e mais fiscalização.
“Não estamos defendendo o fechamento. O banco presta um serviço, sim, de utilidade pública, mas deve ser com agendamento. Só que, com a pessoa indo à agência, a propensão de vender um produto ou fazer um negócio é maior”, ressaltou o diretor, que contraiu a doença.
RIO DE JANEIRO
De acordo com Leal, o sindicato estima, em média, que seis a cada dez agências do estado tiveram um ou mais casos de coronavírus, com base em denúncias de bancários. Cinco óbitos por Covid-19 foram contabilizados até o momento. Não há estimativa de infectados pela escassez de dados informados pelos bancos e pela falta de estrutura
Filas nas portas de agências têm sido observadas conforme a localidade. Em bairros como Bonsucesso, o movimento é frequente. Em contrapartida, no Centro, o fluxo está bem reduzido.
CEARÁ
O Sindicato dos Bancários do estado monitorou por enquanto duas mortes por coronavírus de funcionários ativos. A estimativa é de aproximadamente 100 casos na categoria, incluindo suspeitos. O levantamento levou em conta os afastamentos de quem apresentou sintomas nas agências. Cerca de 30 agências das 500 do estado foram fechadas provisoriamente, número que é dinâmico, já que, após higienizadas, reabrem de acordo com os protocolos do banco.
“Se mantiver um trabalhador com sintomas, com suspeita, ele contamina a categoria e os clientes. É um vetor de contaminação que precisa ser tratado, e a medida para isso é o isolamento, mesmo que seja serviço essencial”, disse o presidente do sindicato, Carlos Eduardo Bezerra.
PERNAMBUCO
Levantamento do sindicato estadual, feito a partir do canal de denúncia e em contato com Superintendências dos bancos, expõe que há 167 casos confirmados e 142 suspeitos. A maioria dos infectados trabalha na Caixa (52), seguido por Santander (40) e Bradesco (34). Itaú (19), Banco do Brasil (14) e Banco do Nordeste (8) completam a lista. Não houve óbito até agora.
“A necessidade aqui no Nordeste é grande. O auxílio emergencial é muito necessário. A gente sabe que aquela pessoa que passou a noite inteira esperando para ser atendida é porque está em situação grave. Mas, se o governo federal faz um programa desse tamanho, tem que ter um bom planejamento, pensar nas pessoas que vão atender e ser atendidas”, disse a presidente do sindicato estadual, Suzineide Rodrigues.
AMAZONAS E PARÁ
O Sindicato dos Bancários do Amazonas apurou uma morte e 101 casos confirmados de coronavírus. Há ainda outros 247 suspeitos. Os números provêm de levantamento in loco nas agências e depoimentos de funcionários.
O Pará é o estado com mais óbitos de bancários relacionados a Covid-19: são sete no total. Seis deles no Banco da Amazônia e outro no Banco do Estado do Pará (Banpará), informados por colaboradores e confirmados pelas instituições. Estimam-se mais de 100 infectados, segundo o sindicato estadual.
SÃO PAULO, BAHIA, PARAÍBA E ALAGOAS
São Paulo contabiliza três mortes pela doença, uma delas no município de Assis, segundo o Comando Nacional dos Bancários. O Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região reconhece um óbito na sua área de atuação e não dispõe de informações sobre número de infectados por não ter estrutura para controle de todo território que cobre.
O sindicato da Bahia contabilizou mais de 50 contaminados, que foram reportados por bancários, e uma morte de um funcionário que estava de férias e pegou a doença do filho que havia viajado. Segundo o presidente Augusto Vasconcelos, o sindicato representou ao Ministério Público do Trabalho (MPT) para que as agências que tivessem casos confirmados ou suspeitos testassem todos os seus funcionários.
Na Paraíba, o sindicato local reportou 51 casos e uma morte, também coletados com a categoria. Já em Alagoas, só há a confirmação de uma morte até o momento, do bancário Luis Malaquias dos Anjos. Familiares disseram a ÉPOCA que ele estava de férias e o contágio não ocorreu no ambiente de trabalho. Ele faleceu no último dia 18 após passar seis dias na UTI.
Sindicatos de outros estados procurados pela reportagem não possuíam informações ou não responderam até esta publicação.
FONTE: ÉPOCA
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