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Na linha de frente do combate, Profissionais de saúde são diagnosticados com Covid-19

Pelo menos oito enfermeiros e técnicos de enfermagem comprovadamente morreram infectados pelo novo coronavírus em todo o Brasil, de acordo com levantamento do Conselho Federal de Enfermagem (Coren)

Com os hospitais a cada dia mais pressionados pelo aumento no número de casos de coronavírus, crescem também as baixas entre os profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate a pandemia. São médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem afastados porque foram contaminados ou estão sem condições psicológicas de trabalhar, além das mortes já confirmadas.

Pelo menos oito enfermeiros e técnicos em enfermagem comprovadamente morreram por Covid-19, em todo o Brasil, de acordo com um levantamento do Conselho Federal de Enfermagem (Coren). Outros oito óbitos suspeitos ainda aguardam exames para atestar se foram causados pelo coronavírus.

Metade das mortes registradas pelo Coren ocorreram em São Paulo, onde atua o técnico em enfermagem Márcio Cavalcante. Funcionário do HCor e Hospital Israelita Albert Einstein, Cavalcante atendeu pacientes com coronavírus desde que o vírus começou a circular no Brasil.

Ele foi diagnosticado com Covid-19 em 31 de março, pouco mais de um mês após o primeiro caso confirmado no país. Em isolamento, o profissional pensa em voltar à ativa no dia 13 de abril, quando há previsão de ser liberado.

“Algumas profissões você escolhe, outras você é escolhido. Eu fui escolhido, trabalho há 26 anos nessa função, que é a que tem mais contato com o paciente. Não será em uma hora dessa que vou ficar com receio de lidar com o vírus. Eu me sinto como um soldado ferido em guerra e meus companheiros são minha tropa. Não abro mão de lutar com eles”, disse.

A “tropa” de Cavalcante acumula baixas. O hospital Albert Einstein confirma o afastamento de 348 dos seus 15 mil colaboradores em virtude da Covid-19. Para o técnico em enfermagem, este é um motivo a mais para seu retorno imediato ao trabalho.3

“Há um comprometimento físico muito grave, como percebo doente. Mas também emocional. Há um índice assustador de mortes, só se fala disso, a recuperação é lenta e ainda tem o isolamento social. O paciente fica com o emocional arrebentado. Então além da assistência em enfermagem, nós temos que oferecer a nossa mão, ser psicólogo, interpretar a agonia do paciente e repassar ao médico”, relata Cavalcante.

Troca de plantão

Em Recife, quem está emocionalmente abalada é a técnica em enfermagem do Hospital Getúlio Vargas, Viviane Paula da Silva, de 40 anos. No último fim de semana, ela perdeu duas colegas para o coronavírus e precisou trocar seu plantão, pois estava sem condições de trabalhar. Viviane fazia o mesmo turno que Betânia Ramos, de 55 anos, que teve a morte por Covid-19 confirmada no dia 4 de abril.

“Ela trabalhava na emergência e eu na enfermaria, durante a noite. De manhã a gente ia tomar  café, comentar sobre o plantão, eu falava das minhas filhas e ela das netas, que têm a mesma idade. Tínhamos uma afinidade muito grande”, contou Viviane. “Nós chegamos a conversar sobre coronavírus, pois ela era diabética, hipertensa e tabagista. Mas ela disse que estava há 17 anos na emergência e não sairia neste momento importante. O que faltou mesmo foi política de enfrentamento”, acrescentou.

A morte da técnica de enfermagem Ana Cristina Tomé, de 52 anos, é investigada por suspeita de coronavírus. Ela assumia o posto de Viviane no começo das manhãs, no Hospital Getúlio Vargas.

“No nosso setor há uma rotatividade grande de pacientes e não sabemos as doenças que eles têm, então isso preocupa. Tínhamos que estar bem equipados, mas nós trabalhamos com duas máscaras cirúrgicas para cada plantão de 12 horas. Estamos vulneráveis”, criticou Viviane.

A Secretaria de Saúde de Pernambuco lamentou as mortes e informou que foi enviado um projeto de lei a Assembleia Legislativa para conceder pensão integral aos familiares de servidores mortos por Covid-19.

De acordo com a secretaria, nesta semana a rede estadual de saúde recebeu 1,5 milhão de unidades de equipamentos de proteção individual (EPIs), como água sanitária, álcool em gel, capotes, gorros, sapatilhas, luvas, óculos cirúrgicos e máscaras. E acrescentou que deu início a uma testagem em larga escala dos funcionários da área de saúde que atuam na pandemia.

CAMPANHA PARA ISOLAMENTO SOCIAL

Antes de ser acometida pela Covid-19, a técnica de enfermagem Adelita Ribeiro, de 38 anos, chegou a participar de uma campanha que pede o isolamento social. No dia 20 de março ela atualizou sua foto no Facebook e colocou uma moldura com a hashtag #FiqueEmCasa. Adelita também tirou uma foto com colegas de trabalho na qual cada pessoa segurava uma placa com uma palavra que, juntas, formavam a frase: “Estamos aqui por você, fique em casa por nós”.

Responsável por coletar exames laboratoriais em cinco unidades públicas de saúde em Goiânia, Adelita Ribeiro foi contaminada pelo coronavírus e morreu no dia 4 de abril. Após sua morte, cinco colegas de trabalho foram isolados, entre eles o motorista Raimundo Lima Cavalcante Júnior, de 50 anos. Por diversas vezes, ele dirigiu o carro que levou Adelita aos hospitais e postos de saúde.

“Quem estava com a Adelita na última rota, dia 26 de março, era meu colega que também está afastado. Mas eu dirigi o carro no dia seguinte, então é melhor prevenir e ficar isolado, até porque três pessoas que trabalhavam com a Adelita já tiveram a confirmação do coronavírus. A gente fica com medo, até fiz limpeza no carro por conta própria”, conta o motorista.

‘A FICHA DEMOROU A CAIR’

O Conselho Federal de Medicina (CFM) não possui um levantamento sobre a quantidade de médicos que morreram por Covid-19 no país, mas a regional do Rio de Janeiro confirma o óbito de dois profissionais: o cardiologista Ricardo Antonio Piacenso e o anestesiologista José Manoel de Melo Gomes.

Também não há número de médicos infectados no Brasil. Mas são muitos os relatos de profissionais com a doença. A médica Deborah Tayah, de 24 anos, trabalha em uma cooperativa na qual há, além dela, outros oito médicos infectados.

Ela atende no Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, em Manaus, onde militares do Comando Conjunto da Amazônia fizeram no último sábado, dia 4, uma operação de descontaminação de enfermaria e ambulâncias.

Deborah é clínica geral e atende casos que vão de pneumonia até insuficiencia renal. Seu trabalho consiste em passar pelas enfermarias, examinar os pacientes e prescrever tratamento. Por ser uma doença altamente contagiosa, a médica afirma ser impossível determinar onde foi contaminada.

“O vírus não vem com a localização, então não tem como saber se peguei no mercado ou no hospital. O que posso dizer é que os primeiros sintomas me diziam que poderia ser Covid-19, mas a ficha demorou a cair. Ainda não havia muitos casos em Manaus e não tinha medo instalado. Agora são mais de 100 casos por dia, fora os que não foram testados. Não sabíamos que seria desse jeito”, disse.

Na última segunda-feira, dia 6, o prefeito de Manaus, Arthur Virgilio Neto, do PSDB, declarou que o sistema público municipal de saúde está a beira do colapso. E a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) já confirmou o diagnóstico de Covid-19 para 46 profissionais de saúde – 37 deles em isolamento domiciliar e nove internados, sendo quatro em UTI em estdo grave. Diante desse quadro, Deborah espera estar liberada para voltar ao trabalho nesta sexta-feira.

“Eu fiz um um juramento, não posso abandonar meus pacientes. É complicado, a gente tem família, mas na situação que estamos em Manaus eu não posso deixar de ajudar”, disse a médica.

 

FONTE: ÉPOCA

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