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Bradesco e Governo Federal respondem pela tragédia da vale

Ninguém mais aguenta assistir à imagem do helicóptero que espalha pétalas

Uma das cenas mais tocantes da tragédia de Brumadinho circulou pelas redes sociais nos dias seguintes ao desastre: o operador de máquinas Wilson José da Silva canta no vestiário da companhia , localizado na crista da barragem prestes a explodir, a música “Noites Traiçoeiras”. A canção, que fala sobre momentos da vida em que “a cruz está pesada” e que “o mundo faz você chorar”, fez sucesso na voz do padre Marcelo Rossi e é cantada com frequência em velórios no interior de Minas, nos minutos que antecedem um sepultamento. No vestiário da Vale, o clima não era de tristeza. Wilson canta a música com aplausos efusivos e abraça um companheiro, afinal, como diz a música, “Deus te quer sorrindo”. Uma semana depois, ele seria uma das 179 vítimas enterradas em Minas Gerais. Outras 134 continuam desaparecidas.

Em 2002, quando o governo brasileiro finalizou o processo de privatização da Vale, iniciado em 97, a mineradora já era controlada por intrincado acordo societário onde os fundos de pensão e o Bradesco davam as cartas. Valia R$ 38,8 bilhões. Nesta segunda, dia do aniversário de um mês do rompimento da barragem de rejeitos da companhia que resultou no maior acidente de trabalho da história, o valor de mercado da empresa alcançou R$ 243,2 bilhões.

Em duas décadas, Bradesco e o governo federal (ainda, neste caso, via fundos de pensão e BNDES) continuaram com a palavra final. A passagem de Murilo Ferreira pela presidência da empresa deve-se ao apreço que ele nutria pela então presidente Dilma Rousseff (PT). A chegada de Fabio Schwartzman, no governo Temer, só ocorreu após a benção de Aécio Neves (PSDB), com quem Temer tinha uma dívida de gratidão. Quatro dias depois da tragédia de Brumadinho, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que o governo cogitava afastar a diretoria executiva da Vale. O mercado se ouriçou e, na manhã seguinte, ele recuou.

Se os dias amanhecerem com agências do Bradesco e de representações do governo federal sujas de lama, não terá sido um exagero dos manifestantes de ONGs ambientais. Afinal, são aqueles que respondem pelo sucesso e pelo insucesso da companhia. O retorno financeiro no preço das ações nas últimas duas décadas, estimado pela consultoria Economatica em 909,21%, é coisa para poucos. E olha que nem entraram nessa conta outros bilhões de reais pagos na forma de dividendos, ano a ano.

O perfil dos controladores da Vale explica sua cara de hoje: uma empresa dedicada às cifras de seu retorno financeiro, pouco sensível ao fato de que sua atividade ocorre muito próxima a comunidades, rios e florestas. Maximizar lucro e cuidar do bem-estar do entorno deveriam ser prioridades em pé de igualdade para uma empresa como a Vale. Não foi essa, até aqui, a opção do Bradesco. Nem do governo federal. Não há sinal efetivo de mudança nesse rumo. Ninguém mais aguenta assistir à imagem do helicóptero que espalha pétalas.

FONTE: ÉPOCA

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